domingo, 23 de dezembro de 2012

Hoje é natal, deveria falar sobre música natalina ou posso dizer que demorei a escrever sobre a Nona do Beethoven por medo de não conseguir calar o que meus ouvidos escutaram? Embora eu saiba a resposta, prefiro dizer que Ver o Jackson Trindade cantando com o coro da ORSSE foi grandioso.

E vou logo adiantando que não há tanto assim por dizer. E talvez justamente por ter sido um tanto quanto enfadonho pra mim estar lá escutando pela terceira vez a tal 9ª sinfonia do Beethoven em ré menor op. 125. E claro que me importo em lembrar a primeira vez que a escutei justamente de quando se deu a inauguração do Coro sinfônico sob a direção do Pianista sergipano Daniel Freire. Era 2005, era outra ORSSE, ainda engatinhava no sentido de se firmar como orquestra depois de tantos anos de atividades engodísticas. O maestro Ion Bressan então a frente da Sinfônica, deu à orquestra a brilhante oportunidade de executar peças importantes do repertório operístico mundial sem o constrangimento de ter que descartar da seleção obras que objetivamente só poderiam ser tocadas acompanhadas de um coro sinfônico, a exemplo da Nona de Beethoven. Foi grandioso para mim que até então só concebia tal ideia através dos canais fechados e por isso fiz questão de escutá-la novamente em 2009, já sob a direção do mesmo Guilherme Mannis que volta com ela três anos depois.

E apesar de o motivo maior de eu ter ido lá ter sido o depois do concerto, a programação nocturna que saiu pela colatra, engenhosamente o Concerto foi quem salvou meu dia. Endosso que jamais imaginaria que seria positivo ao ponto em que me foi quando saí de casa. E ainda assim me dispus a assistí-lo sem reservas. E ainda assim prometi manter meus ouvidos abertos para o que chagaria até o mezanino. E chegou tão presencial em termos de sonoridade que falar das ressalvas será um tanto quanto pesado.

As cordas, todo o conjunto delas estava bem posto, emoldurado numa sincronia que não é comum nas apresentações últimas da ORSSE. E embora eu deva dizer que gostei sobre maneira da execução dos violinos, de como eles flutuavam bem dinâmicos ( sobre maneira no Scherzo), o que mais me arrebatou e suponho que tenha intimidado a muitos (que sentados ali) sabem bem a real capacidade técnica das cordas mais graves, foi justamente o conjunto de Cellos, Violas e Contra-baixos. Faz tempo e venho elogiando a chefe de NIPE/NAIPE (afinal o que importa mesmo é a semântica das palavras) dos Cellos, Andressa Souto e não só pela capacidade técnica, a desenvoltura com a qual visivelmente consegue amaciar os trechos mais complicados da obra, mas também pela capacidade de chefiar o seu grupo com sabedoria. Vide o fato de ter posto seu pupilo (que atua como estagiário) mas que sem dúvidas tem despontado como uma das grandes promessas dentre alguns anos, ou quiçá já o seja, na última estante fazendo com que o som nos parecesse muito mais cheio do que de costume. Gosto demasiado do grupo de Baixos, eles conseguem ser lineares (no sentido positivo) e me fazer passar algu tempo vidrado na dinâmica de suas arcadas e dos ataques que sempre me parecem mais ferozes que os de qualquer outro grupo. Nesse sentido também louvo os louros ao Jair Maciel que comanda tão sereno os sons mais graves fazendo com que eles sejam vistos. E parabenizo-o também por encabeçar tão brilhantemente a criação da Orquestra sergipana de Contra-Baixos (OSCON) a quem justamente devo um espaço merecido mais a frente neste blog . Já as violas, a quem já elogiei anteriormente mas que últimamente parece ir-se afogando em marasmos (e embora eu não seja tacanho de perceber também as transições pelas quais esse naipe tem pasado), neste concerto parecia existir. Parecia que consegue ir além dos enxertos de toda vez e criar autonomia. Foi de lá que saiu em minha opinião a maior parte da beleza do 4º movimento, o que torna significativo eu tê-los aplaudido com tanta verdade.

Vergonhoso mesmo, e no sentido mais lastimável foi sentir a ausência de madeiras. Foi tão vexatório que finalmente me despi de meu polimento de todas as vezes em que quis falar sobre esse grupo em geral e acabei ponderando meu apreço pessoal por alguns músicos. Hoje não pode ser assim, por que me incomodou deveras e tanto a ponto de me fazer não querer estar lá presenciando-os. A verdade é que todas as madeiras sairam juntas e antecipadamente de férias. E justamente com polimento vou me ater à percepção de que tudo pareceu confuso, embolado e tão sem sem fôlego que o ar que faltou deles por pouco não conseguiu tirar o brilho soberbo das cordas dando vazão ao coro.

E é justamente falando do coro que terminarei. E também para justificar a retrospectiva que fiz no primeiro parágrafo. Fiquei exultante justamente por evidenciar que se por um lado as madeiras resolveram sair de férias, em seu lugar apareceu um coro sinfônico que não conhecia. Faz uns três concertos passados que falo sobre o potencial do coro, que a pesar de sua pequena estrutura de membros, tem evoluido e reverberado mesmo que com a quantidade minima possível para boas apresentações, mas o que eles apresentaram no Beethoven foi magnífico. foi comovente e fortuitamnet prazeroso ficar ali. Foram maiores em tudo, muito maiores até que o único solista que se salvou em termos de expressão na noite de quinta. Juntos, Coro e o Baixo Cláudio Alexandre fizeram da noite um bálsamo. Foi portentoso escutar inclusive a região aguda do coro que sempre me desagrada, e esplendoroso vê-los uníssono e tão bem encorpados como imagino que seja característica importante dessa sinfonia em especial. Prova de que o canto é algo ainda a ser descoberto pela nossa orquestra, o canto que vem de dentro do coro e pode ecoar como agora o faz Cláudio Alexandre. Mas que para serem vistos é preciso que se ponham a prova e apanhem como foi no choros nº 10 do Villa Lobos, mas que se levantem quando mesmo em menor quantidade e desacreditados dos investimentos e incentivos, possam fazer com que o instrumento voz seja a prata da casa num concerto cheio de surpresas agradáveis.


quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Copiei e colei novamente: ou de quando no final das contas o dever desse enfadado violino de gravatas polidas é divulgar acima de qualquer perspectiva!

Após a série de Concertos Natalinos que evocaram as comemorações de final de ano da cidade de Aracaju e no Museu da Gente Sergipana, a ORSSE encerra com muita ALEGRIA seu ciclo nesta Temporada de Concertos de 2012.

A escolha da peça não poderia ser mais adequada, a Nona Sinfonia de Beethoven e seu espírito libertário, pleno de poesias sobre a vida, os seres humanos e a paz que precisa reinar entre os irmãos.

Sob a regência do Maestro Guilherme Mannis que destaca essa apresentação como "a culminância dos bons resultados do ano de 2012 perante seu público, patrocinador e mantenedores", a ORSSE apresentará seu último concerto do ano, no dia 20 de dezembro de 2012, às 20h30 no Teatro Tobias Barreto, com ingressos ao preço de R$20 e R$10.

Nem todo fim deve ser sinal de pesar e desânimo, ao contrário, em finais de temporadas, as orquestras demonstram o seu melhor, reservam para o seu público um concerto pleno de boas energias para que todos possam vivenciar a música em sua forma pura e radiante.

...Venha transformar o seu mundo, encontrar os amigos e prestigiar a Sua Orquestra!!

Programa:

Teatro Tobias Barreto
20, quinta-feira, 20h30
Ingressos R$20 e R$10

Guilherme Mannis, regente
Verônica Santos, soprano
Vanda Otero, mezzo-soprano
Carlos Eduardo, tenor
Cláudio-Alexandre Silva, baixo

Côro Sinfônico da ORSSE
Daniel Freire, regente

L. van Beethoven
Sinfonia N. 9, em ré menor, op. 25 "Coral"



Fonte: http://sinfonicasergipe.blogspot.com.br

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O tempo todo quando falei sobre trilhas sonoras quis falar um pouco sobre o primeiro filme que me veio em tom de melodia.

Não queria começar falando explicitamente sobre “tudo sobre minha mãe”. Talvez nem devesse fazê-lo. Mas não há como. Foi através desse filme do diretor espanhol Pedro Almodóvar que pude penetrar a fundo o mundo de Alberto Iglesias. O nome nem é conhecido por aqui na terra da Bossa Nova, talvez nem muito conhecido seja por aí a fora, porém sua obra é de grandiosa valia para o mundo cinematográfico e musical. Alberto Iglesias é responsável pela trilha sonora de alguns famosos  filmes espanhóis como “Fale com ela” e “Má educação”, todos de Almodóvar. E tem se colocado a cada novo filme como grandioso entendedor da interdisciplinaridade artística, porque ao compor não o faz como um enxerto. Alberto é dos pouco que conseguem elaborar com firmeza um cenário próprio e independente das imagens postas. Suas melodias são sem dúvida um ataque responsivo aos diálogos entrepostos nas tramas. Casando imagem e música, eles não necessariamente necessitavam aparecer, ou a bem de meu afã por ser justo. Em última instância as melodias de Iglesias e os quadros cinematográficos do Almodóvar coexistem como necessidade de lacerar nossas convicções.

Iglesias vem se consolidando como um grande compositor de trilhas sonoras, e não é a custa de pouco esforço, porém de um notável talento; o compositor espanhol já conta em seu currículo com uma nomeação ao Oscar (prêmio concedido pela Acadêmia de Artes e Ciências Cinematográficas (e embora isso, não acho que seja o ponto mais relevante em sua biografia) ). No ano de 2005, plateias de todo o mundo pararam para escutar a doce trilha sonora do Filme  “O jardineiro fiel” do diretor brasileiro Fernando Meirelles (que havia sido indicado ao Oscar) e percebê-lo se reinventar dentro dos aspectos que o fez conhecido, sobre tudo por ter encabeçado a direção musical dos últimos cinco mais recentes filmes do Almodóvar.  É com a mesma doçura que compôs a trilha do “Jardineiro fiel” que Alberto Iglesias assumiu no ano de 1999 a direção sonora de “Tudo sobre minha mãe”, e é também com a mesma força que ele repete a fórmula com que se inaugurou no cinema ao fazer a trilha do longa metragem chamado “Vaca”, do diretor espanhol Julio Medem, no qual Alberto Iglesias faz uma descrição surreal do bosque, lugar central a partir do qual nasce e morre o enredo e seus personagens. 

Manuela e Esteban
Chamá-lo-ia aqui de Realista, porque é assim que ele se apresenta e faz de sua obra uma marca descritiva e fiel a cada quadro e personagens. Em “Tudo sobre minha mãe” não é diferente, e traz outra característica não tão comum ao agrado dos expectadores: toda a trilha sonora é instrumental, tendo apenas uma única canção cantada, Tajabone. Iglesias é cabal ao buscar no limiar de cada cena a emoção do contexto descrito no filme de maneira a associá-lo ao seu tema, nomeando por vezes as canções de acordo com as cenas; isso acontece com a canção “Não gosto que escreva sobre mim”, originária da cena em que Manuela conversa com o filho, Esteban, às vésperas de seu aniversário e em que ela ao saber do filho que ele escreve tudo sobre ela; diz a ele  não gostar de saber que ele escreve sobre sua vida; assim, o faz também quando Manuela decide ir visitar o receptor do coração de seu filho que havia morrido num acidente de carro no dia de seu aniversário, numa visita literal ao coração e às memórias do filho morto. 

Tal canção é coroada com o título que mais parece um pedido agoniado sob o embalo forte dos violinos: “ Traz o coração de meu filho”. Essa é, talvez, a característica mais viva de um compositor que sabe dosar a comicidade e a dor. E vai além; faz uso de elementos cotidianos na cultura musical de seu povo e as coloca para o filme ora como batida forte da música cigana ora na tristeza e sensualidade absoluta do tango. Alberto Iglesias foi sem dúvida um grande colaborador para que o filme “Tudo sobre minha mãe”, concorrente ao Oscar de melhor filme estrangeiro do ano de 1999, fosse consagrado como o favorito do público e dono da estatueta. Com isso, Alberto se consolida não apenas como um grande compositor de trilha sonora, mas como um músico de alma, que vai além do que diz visualmente uma partitura; ele toca-nos, tocando as feridas de cada personagem que se encontra na dor e alegria do expectador.

_______________________________


domingo, 25 de novembro de 2012

Burrice é não admitir que sabemos bem a fórmula da redenção!

Três dias se passaram e o concerto sobre trilhas sonoras da orquestra sinfônica de Sergipe (ORSSE) ainda repercute. Fico feliz. E respondendo aos montes de questionadores sobre porque de eu não ter escrito nada ainda, ou se ia ou não escrever. Sim, não o ia escrever, e não por algum evento que demandasse maior atenção. Não achava que fosse preciso diante de maior expressividade que o foi naquela noite. Casa cheia (Coisa rara no últimos anos nos concertos da nossa sinfônica), público imensamente animado e execuções inacreditáveis. 

E bem por isso acho que não seja necessário delongas. Essas linhas que seguem nesse post é um abraço efusivo aos músicos que ali estavam presentes. Leves, empenhados e fortuitamente geniais. O concerto foi um tapa certeiro em mim, que confesso (por questão de transferência pessoal) me sentia desestimulado a ir escutá-lo, e nunca, jamais, por não acreditar que fosse ser bom o suficiente. Desejei que o fosse, torci para que assim seguisse e não me arrependo em creditar minha nulidade pífia frente a tamanha felicidade de meus amigos na plateia. E também por isso apenas me aterei a três momentos magníficos e tentarei por apenas um post excluir da minha mente o quão ridículo é cada vez que vejo o senhor Maestro dançando daquela forma um tanto quanto constrangedora.

A lista de Shindler
1. É bem verdade que gosto demasiado do Tango Por una cabeza, é bem verdade que foi uma audição limpa, mas tão sem paixão (e ainda assim lindo, bem conduzido como me fez lembrar um amigo) que prefiro falar da preciosidade que seguiu em contra-partida com A lista de Shindler. Foi imenso, foi fantástico e arrebatador. E sem hiperbolismo algum, um dos poucos momentos que arrancou silêncio das pessoas naquela sala. Silêncio esse que presumo por mim que dialogava diretamente com os labirintos que existem dentro de cada um de nós. Tão macio e tão sofrido que a contemplação deixava um pouco invisível o solista Márcio Rodrigues (Spalla da ORSSE) para que sua alma preenchesse de poesia o mezanino donde me encontrava. Bravo.

O senhor dos anéis
2. Acho que inexoravelmente para todos nós fãs da saga Senhor dos anéis foi emocionante escutar o tema do anel e do Hobbit. O que chegou em termos de música era visivelmente empenhoso. E saboreá-lo foi ir além das estéticas concertísticas e aplaudir em cada fim de movimento (e aqui falo das outras peças em especifico). Imagino que essa ruptura não desagrade, era reflexo positivo da satisfação dos presentes. Coisa essa que também em deixa feliz e novamente reflexivo. Ora, então se tivéssemos um belo concerto como esse, menos enfadonho, mais direto a cada bimestre, não seria de algum modo pedagógico e eficiente no que tange a formação de uma plateia? O que há de popular e pejorativo (aos puros) nessas obras? Ao invés de termos que justificar que sabemos que aquelas pessoas só estavam lá por conta de referido programa e quase implorar para que voltem (que é ingenuamente óbvio que as pessoas se aproximem das salas de concertos primeiro por aquilo que lhes prende a atenção) poderíamos fazer desse momento algo natural. Não exito dizer que os dois melhores momentos do ano em termos de apreensão e participação sincera do público foram justamente os dois concertos que dialogavam com o povo. O concerto do Gonzaga e esse. Isso não é relevante? Aproveito para agradecer a meu amigo Gustavo Garcia Nogueira que atendeu a meu convite e foi ver o concerto trajando sua camisa nerd de personagens de desenho e de quebra usando o Anel do FRODO em seu pescoço. Foi divertido a beça. 

Harry Potter, Ronald Wesley e Hermione Granger
3. Ah, a Suite Harry potter! Como arrancou de mim sentimentos bons. Como nos elevou a picos tão extremos de tensão e euforia. A introdução misteriosa das trompas e o que conseguiu fazer o Daniel freire (Pianista da ORSSE)  e as cordas naqueles cinco primeiros minutos foi de arrancar lágrimas. Aos fiéis leitores de cada um daqueles extensos livros foi uma viagem homérica fundir as imagens, as lembranças de cada uma das passagens quando executadas pela orquestra. Como não lembrar da rua dos Alfeneiros nº 4 né Gustavo? Como não lamentar não ser um londrino e ter podido participar da seleção para o elenco do filme. Definitivamente escutar aquela trilha foi ficar mil vezes abobalhado e não se indispor com isso. Foi fabuloso, foi medonho de tão complexo e heroicamente tocado. Foi como renascer e aspirar bons ventos. Foi genial e por si só já valeria todo o concerto. 

E já que não conseguí não me alongar e aqui estou mesmo, aproveito para fazer duas menções. Fiquei imensamente orgulhoso de escutar com tanta firmeza e entendimento a Harpa da Thais Rabelo. Tão bom sentir que temos boas pratas em casa. Que há muito por lapidar mas que isso mesmo é indicativo que no fim teremos bom diamante. Fiquei exultante. E depois aproveito também para parabenizar o Daniel Nery. Acredite, existe menos de cenicidade e muito mais de abstração sentimental em sua condução. Para mim que sou um leigo entendedor de regências, ficou mais que claro o quanto que a firmeza dos gestos e da precisão rítmica ajudava a tornar tão bem postas as peças. 



terça-feira, 20 de novembro de 2012

De quando é divertido brincar de achar que o público não sabe o que é uma mudança abrupta. Ou da série: Nunca quis tanto ir a um concerto! E de verdade, ainda que digam o contrário, desejo que seja uma noite e tanto. Até convidei um amigo.

Imagino pra mim mesmo que esse hiato que me separou do último post tenha me feito ver as casas reais muito mais próximas à sua real conceptura. Vi diante de mim tantas e tantas posições. Fraquezas, medo, discordância, atrocidades com a arte musical aqui em Sergipe Del Rey. E o mais bonito de toda essa nuance é que ela acontece quase que sorrateira, como um ladrão que se precipita para dentro de nosso jardim e rouba a rosa preferida como se também não antevisse que o dono do jardim, mesmo que tarde, uma hora fosse proteger-se. E pra isso não precisa que haja muros, nem grades e cercas elétricas. Meu silêncio em nada é recuo. Ao contrário. O tempo de silenciar me recompõe para que eu escreva sobre e quando quiser. E não há como não sê-lo.  Hoje por exemplo, o instinto pulsa mais que no inicio deste blog. E descreverei com clareza o que faz deste post tão contraditório e difícil de sair.

A questão que rodeia minha cabeça por tanto tempo é a seguinte: Até que ponto nós sergipanos como público somos tão inocentes em relação aos mandos e desmandos gerenciais que permeiam nossa cultura sem que nos importemos, sem que de fato entendamos que todas as questões, inclusive as relações pessoais nesse sentido, sejam políticas? Isso tudo para que eu responda a mim mesmo que ainda vai levar algumas eternidades para que alguém se disponha a por fim no quesito "brincar de orquestra de nível internacional". Sim, porque se o discurso hierárquico é de que agora temos uma das orquestras mais atuantes do eixo norte e nordeste, vamos começar fazer jus à clarividência. Consigo compreender que a ORSSE tenha dado um salto, e já evidenciei aqui em outro momento. Mas não consigo compreender como ao mesmo tempo em que temos a possibilidade de ir adiante à transformação, insistimos em ficar no meio do caminho. E nisso credito a culpa diretamente a duas pessoas. A primeira, da secretária da cultura (na pessoa da SECULT) que parece fechar os olhos para o que é tão óbvio. Se hoje logramos o status de uma das orquestras mais atuantes do norte e nordeste é porque o compramos em duas perspectivas. A primeira, da veiculação do discurso, que apesar de ser questionável em termos técnicos, é de função nossa vendermos os produtos do estado (ainda que esse, não dialogue em nada com nossas raízes, nossos desejos, nossa identidade), a segunda no sentido de que não é preciso ser muito entendido em termos licitatórios para compreender que pagamos e pagamos muito caro para fingir que somos boa orquestra frente a regentes de renome nacional e internacional (que claro, não dispensariam por pouca bagatela um "convite" nosso). O segundo culpado, e o digo sem medo que me coma o fígado (afinal, só resta um e antes que ele acabe preciso escrever) sem sombra de dúvidas é o maestro Guilherme Mannis. 

Já falei aqui antes e repito com desejo de que soe e ressoe minha indignação frente à falta de respeito com que esse senhor conduz a nossa orquestra. Não é a primeira vez só nessa temporada que eu falo explicitamente da falta de respeito que existe por parte da direção no sentido de mudar um repertório, cancelá-lo ou qualquer coisa nesse sentido. Não existe coisa mais depreciativa que se encher de expectativa diante de um repertório e então dar de cara com um recorte bonito do que fora vinculado antes. Por exemplo:  22 de novembro de 2012... Onde foi parar O Patriota, ET, Pearl Harbour, Superman, Jurassic Park...? Certamente juntaram-se a Petrouscka. 

E por isso explico aqui meu pesar do primeiro parágrafo. Não desgosto menos o repertório que está posto para a quinta-feira dia 22 de novembro de 2012. Vai ser incrível, desejo que o seja, e fico feliz que trilhas como a do filme Jurassic Park esteja efetivamente de fora das execuções. Estou feliz, excitado e tão empolgado a ponto de convidar amigos para que vão ao concerto. É meu dever como mantenedor da orquestra, assim como também é meu dever que eu não me cale só porque o repertório favorece meu ego. Como também é meu dever supor entender que mais uma vez volto à questão de escolha do repertório como um atavio à nossas necessidades. É sobremaneira uma escolha elitista, que só dialoga com uma parcela mínima das pessoas que irão ao teatro. Cadê o espaço para a musica nacional? Onde ficou a sapiência entre mesclar bons repertórios de cinema mundial ao invés de trazer quase que um concerto inteiro alusivo à obra do Johnn Williams? Muito me espanta que nessa noite em que vamos falar de cinema não exista sombra alguma  do mestre Italiano Ennio Morricone e seu fabuloso Cinema Paradiso.

E ainda que o concerto não seja mais em comemoração ao aniversário de 150 anos do Debussy, vamos lá. Bom concerto.

Orquestra Sinfônica de Sergipe - Série Cajueiros IX
22 de novembro de 2012, 20h30
Teatro Tobias Barreto
Ingressos: R$20,00 (inteira), R$10,00 (meia)


"Cine Orquestra - Grandes Trilhas Sonoras do Cinema Mundial"
Daniel NERY e Guilherme MANNIS, regentes
Márcio RODRIGUES, violino

John WILLIAMS
Raiders March - Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida
Super Man March - Super-Homem
Suíte Star Wars
A Lista de Schindler
Suíte Sinfônica de Harry Potter e a Pedra Filosofal

Carlos GARDEL
Por una cabeza - Perfume de Mulher

Howard SHORE (Arr. Bob Cerulli)
Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel

Klaus BADELT (Arr. Ted Ricketts)
Piratas do Caribe - A Maldição do Pérola Negra  

Fonte: http://www.orquestrasinfonica.se.gov.br/temporada
          http://sinfonicasergipe.blogspot.com.br/

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

De quando um menino maluquinho compõe trilha para cinema como gente grande!

Antônio Pinto
Faz tempo queria falar sobre trilha sonora. A bem da verdade se existe fagulha em mim de desejo de ir além com a música é dentro dessa perspectiva. Acho que fui tragado nesse meu afã cinéfilo muito antes pela música que pela composição dos enquadramentos e da decoupage dos filmes. Lembro quando na classe de 2008 de cinema (Patrocinadas pelo Minc (Ministério da cultura) e pela rede Olhar Brasil) da qual fui um dos anualmente 25 selecionados e numa das disciplinas discutíamos os efeitos da trilha sonora como composição de narrativa e espaço de subjetividades. Tópico esse que me excitava deveras, mas que a um colega de classe era explicitamente entorpecente. Recobro a lembrança de ele me explicar que achava em geral que a música acabava na maioria das vezes tendenciando a narrativa das imagens e que dramatizava sobre maneira o que poderia ser contado em silêncio e teria efeito mais profundo. Me recomendou inclusive um artigo do professor Ismail Xavier ( Professor da ECA-Escola de comunicação e Artes de São Paulo  ) que relutei a ler de inicio já que antevia alguma crítica no sentido de anular minhas perspectivas cinematográficas diante da construção do que eu cria, mas que depois degustei sem sobressaltos uma de suas obras mais completas sobre cinema:  O Discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência. E foi um tapa, ou a bem da verdade o recomeço para que eu visse também outro caminho e redescobrisse o cinema mudo. 

E deveria me alongar aqui falando sobre a experiência de estudar de maneira analítica as composições para cinema, ou de como elas tem efeito substancial sobre a construção de uma narrativa. De como esse campo que no Brasil ainda engatinha tem grande espaço e grandes colaboradores desconhecidos da grande mídia. Mas o que me toma a escrever nesse espaço, hoje, é algo mais simples e substancial. A lembrança doce de como ainda criança no ano de 1998 conheci o que  desconhecia como trilha, mas que me usurpou o sentido de estar frente a televisão combinando imagem e som, e já aos poucos entendendo quando a música contava mais que a imagem em si. Foi ai que conheci também o Antônio Pinto, mas que só o fui revisitar com madurez mais tarde. Ao assistir o filme brasileiro Central do Brasil, dirigido pelo também brasileiro Walter Salles, me senti anestesiado pela seleção das canções e de quando a composição erudita atravancava as cenas dando a elas um peso cênico que eu jamais imaginava que se pudesse com tanta beleza.

"A parceria entre o cineasta e o compositor começou em 1995, quando Antonio criou a música para o curta-metragem Socorro Nobre e para o longa Terra estrangeira, codirigido por Daniela Thomas, irmã de Antonio. Em 1998, compôs, ao lado de Jacques Morelenbaum, os temas de Central do Brasil, filme que correu o mundo e teve duas indicações ao Oscar. Filho do cartunista Ziraldo, Antônio também é o compositor da trilha de Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles, em parceria com Ed Cortês. Em 2004, deu início aos trabalhos internacionais: a trilha adicional do longa-metragem americano Colateral, de Michael Mann, protagonizado por Tom Cruise, e a trilha de Crônicas, de Sebastián Cordero, uma coprodução entre México e Equador. Foi indicado ao Globo de Ouro pela música original Despedida, composição sua, com letra e interpretação de Shakira, para o filme O amor nos tempos do cólera (Love in the Time of Cholera) (2007), de Mike Newell. Sócio-diretor da produtora Supersônica, é um dos poucos músicos brasileiros efetivamente especializados em trilhas sonoras para cinema."



É incrível o poder descritivo de suas trilhas e por isso o igualo ao meu favorito compositor para cinema, o espanhol Alberto Iglesias, que tanto colabora com os filmes do também espanhol e cineasta Pedro Almodóvar. Ao criar uma peça, ele recria a leveza de contar a história e por isso não consigo arrancar de minhas referência a passagem do filme Central do Brasil em que a personagem Dora, interpretada pela atriz Fernanda Montenegro, decide ir embora e que o Antonio Pinto escreve uma apoteose para pintar essa despedida. Sozinha e em silêncio Dora se despede de um pedaço de sua vida, algo que conquistou no susto e imprevisivelmente fez morada em sua pele, e não menos avassalador é sentir que essa despedida só tem  sentido se colocada frente à canção escrita por Antonio e que se chama A carta. A depressão dolorida da certeza da finitude marcada pela melodia e harmonia dos violinos, o choro contido no soluço da colaboração na trilha do violoncelista Jaques Morelembaum e o conjunto de qualidades dentro da simplicidade com que vejo ter sido escrita, quase que de forma experimental essa trilha me faz desejar que mais pessoas possam ter acesso a sua obra. 


______________________________________







quarta-feira, 24 de outubro de 2012

E se alguém plagiar o Hino de Sergipe?

Bandeira do Estado de Sergipe
Abri o jornal Cinforme desta semana e me deparei com uma matéria que expunha as contradições e tantas afirmações de historiadores e "musicólogos" no que tange a autenticidade do Hino Sergipano. Há uma banda grande de desocupados que insistem em afirmar que a melodia do Hino do Frei José de Santa Cecília é um plágio sobre a melodia da ópera L' Italiana in Algeri do Compositor Italiano Giácomo Rossini. E sim, para quem já escutou as duas melodias, existe nitidamente traços da italiana sobre a sergipana, ao que bem explica a professora e presidente da Sociedade filarmônica de Sergipe (SOFISE) Maria Olga, as leis que deliberam sobre o plágio ( a copia ou assinatura como uso indevido de uma obra com partes ou totalmente reproduzidas de outra pessoa, alegando ser de sua autoria) são muito recentes e que naturalmente escrever uma melodia como base em uma melodia já consagrada e conhecida era algo comum entre os compositores, inclusive dentre os mais famosos, como uma forma de homenagear tal peça.

Para além da defesa do plágio ou não do Hino sergipano, a professora Olga nos alerta em sua defesa para algo muito mais próximos a nós e que nos cabe maior atenção sobre a importância do tema. Temos um hino sergipano e montões de símbolos que pairam sobre nossa sergipanidade e mesmo com isso não os conhecemos, ou valoramos. Não fomos formados dentro da cultura escolar ou cívica a entender como parte de nossa cultura e um traço de nossas conquistas e valores os símbolos. A professora alega que um dos pontos mais óbvio para que nós sergipanos não saibamos a letra e a melodia do Hino se deva ao fato de a letra ser imensamente longa e que dificulta nossa apreensão em memorizá-lo. Assim também o é como o próprio Hino Nacional, poucos de nós cidadãos brasileiro o sabemos com louvor. Segundo a professora exite um projeto de lei que circula nas câmaras da assembleia estadual para a revisão do texto no sentido de melhorá-lo e de se fazer vivo em memória. 

Recordo um concerto da (ORSSE) no teatro Tobias Barreto em que ao executar o Hino sergipano o Maestro Guilherme Mannis apontou para a plateia como quem desejando que cantássemos juntos a letra do hino, um vexame cívico para nós sergipanos que se quer conseguíamos ultra passar as barreiras do "Alegrai-vos sergipanos"...   E em outro momento a tão bem aplaudida execução de A italiana na Argélia de Rossini executada no mesmo palco pela Orquestra sinfônica da universidade Federal de Sergipe (OSUFS) sob a regência do Maestro Ion Bressan. Dois momentos antagônicos para a execução daquilo  que  muito creditam ser uma única melodia. E para além de qualquer predileção já que gosto em especial das duas músicas, me pergunto até quando em termos culturais vamos insistir em olhar pra fora ou desviar nossas atenções sobre aspectos que em nada nos forma identitários, ao invés de rumarmos para a consolidação de nossa independência sergipana.

............................................................................





domingo, 21 de outubro de 2012

É de Setembro passado mas ainda assim um bom exercício de democracia! Ou de quando é preciso dar voz, mas também analisar o que se propaga.

Músicos e servidores do quadro da Orquestra Sinfônica da Paraíba pedem afastamento do maestro Alex Klein.
Em carta destinada ao secretário de Cultura do Estado Chico Cesar, e por meio de abaixo-assinado, músicos e servidores de apoio-artístico da Orquestra Sinfônica da Paraíba solicitam o afastamento imediato do atual maestro da OSPB, Alex Klein.
Em Assembleia Geral realizada na noite do dia 24 de agosto de 2012, na Sala do Cine Banguê – Espaço Cultural, músicos e servidores de apoio-artístico da Orquestra Sinfônica da Paraíba decidiram por unanimidade o afastamento do senhor Alex Klein da fuSnção de Regente Titular e da Direção Artística da OSPB. Por meio de abaixo-assinado e usando o exercício da democracia e em concordância com a legislação estadual, em especial o art. 196 do Estatuto do Servidor Público do Estado da Paraíba, Lei complementar Nº 58 do dia 30 de dezembro de 2003, os músicos e servidores decidiram que não há mais condições de continuidade no trabalho conjunto com o aludido maestro. Nessa mesma assembléia ficou acordado que seria sugerido ao Exmo Secretário que os concertos que restam da temporada 2012 seriam regidos pelo maestro da Orquestra Sinfônica Jovem da Paraíba e maestro assistente da OSPB, o Sr. Luiz Carlos Durier, até que novas alternativas sejam encontradas para a ocupação da função de Regente Titular da OSPB. Afirmam também que na cidade existem maestros capazes e preparados para, na condição de convidados, auxiliarem na condução dos destinos da OSPB e dar continuidade à programação da temporada 2012. Os músicos e servidores alegam imposição unilateral de perfil e gestão do maestro, que desconsidera sistematicamente a participação do Conselho Artístico da OSPB nas decisões e planejamento das atividades. Uma afronta ao parágrafo 2º do art. 3º da Lei nº 7.861 de 16 de novembro de 2005 que dispõe sobre a vinculação, a organização e o quadro pessoal da sinfônica. Eles questionam também que o maestro estabeleceu no primeiro semestre de 2012, uma programação artística arbitrária sem conhecimento prévio do conselho artístico, como também a não consideração das condições físicas, materiais, técnicas e principalmente orçamentárias da Orquestra, que acarretou a inexecução do cronograma da temporada, resultando nos cancelamento de concertos, sem devido aviso prévio, promovendo o constrangimento dos músicos e do público, que desinformado compareceu ao local onde estes seriam realizados. Os músicos e servidores contestam ainda a conduta ética do maestro em relação ao trato pessoal com os músicos, algum dos quais foram constrangidos públicamente em assembléias realizadas com a sua participação, bem como a ausência de um projeto coerente que atenda aos anseios dos músicos no que diz respeito à manutenção e revitalização deste conjunto sinfônico. Na carta ao secretário Chico Cesar, músicos e servidores afirmam que após longas discussões em assembléias realizadas desde o inicio do ano procurando saídas, estas demonstraram que definitivamente não há mais possibilidades de encontrar caminhos de harmonia, entendimento, confiança e simpatia entre o referido maestro e os músicos, aspectos fundamentais para o exercício da profissão de músico. As vias de comunicação estão esgotadas, a confiança completamente abalada e a integridade moral dos músicos ferida, ao ponto de não haver mais possibilidade de reconciliação entre as partes, disseram. Eles finalizam a carta pedindo providências para atender as solicitações, além de se colocarem à disposição para discussões futuras que envolvam o maior patrimônio cultural dos paraibanos, a Orquestra Sinfônica da Paraíba – deixando claro o seu total e irrestrito apoio as políticas culturais do Governo do Estado da Paraíba. 

A pergunta que sempre vai me cercar é a de que até que ponto chegar a esse extremos não seja sinalização de que de fato no mínimo esse tipo de acusação devesse ser analisada com cautela e verdadeiro espirito de resolução? Até que ponto a Arte deve estar estritamente atrelada ao aparelho do estado e seus cerseios?
Até que ponto vai o poder de gerência de um condutor, até que ponto vai a liberdade de participação efetiva daqueles que verdadeiramente formulam as bases do resultado final num trabalho orquestral?

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Orquestra sinfônica de Itabaiana e o trompete de Ouro

Orquestra Sinfônica de Itabaiana (OSI)
Foi um concerto ingrato em termos de público, também ingrato em termos de divulgação. Tão pronto vi uma chamada no telejornal da noite, sai correndo pra ver se conseguia chegar ao menos na metade do concerto da Orquestra Sinfônica de Itabaiana (OSI). Por sorte consegui chegar com folga e os prestigiei do mezanino vazio fazer um concerto inteligente e audacioso. Ouso dizer que se pudesse elencar um ranking de acertos repertoriais aqui em sergipe ultimamente, a OSI ficaria em 1º lugar com um aproveitamento quase impecável. É bem verdade que há um caminho, há uma estrada e muito por acertar.

O concerto visava comemorar o dia do médico, e também dentro dessa simbologia homenagear o centenário do Médico e empresário sergipano Augusto Franco lá representado por seu filho e ex-governador do estado Albano Franco. Executado dentro desa série pela primeira vez  em 2008 sob a regência do Maestro e criador da orquestra, o Gaúcho Ion Bressan, teve vida e em sua 5ª edição o conceto Unimed se apresentou no palco do Teatro Atheneu. Foi um concerto breve no sentido da leveza, mas não menos intenso e qualitativo.

Um dos únicos deslizes mas ousadamente apreciável foi a execução do 2º Mov. da IV Bacchiana do Villa lobos (Canto do sertão). Lamentavelmente mal amaciado pelo naipe das cordas que visivelmente não conseguiu lograr êxito com a pretensa extensão das notas mais agudas, com a embolação que por motivo esse nos deu a quem escutava um sentido confuso e destoante das boas gravações desse que é um movimento tão doce, tão agreste que se bem executado nos fará entender claramente a beleza que existe na seca e na poesia do homem do campo. Mas ousadamente forte (ainda que irregular) na introdução lirica do óboé. Parabenizo sua direção artistica na pessoa do Maestro Bahiano Angelo Rafael pela sensibilidade de entender que um conceto para que seja erudito não precisa necesariamente vir atravacado de monte de monotonias. Muito menos que nãodeva dar espaço para as pratas da casa. Essas que foram tão bem lembradas com a seleção Luiz Gonzaga do Mestre Duda e a eximia execução de um arranjo do Paulo Aragão sobre o tema Garota de Ipanema, que aqui, toda as cordas se mostraram e puderam atrever uma nesga de alma que fosse. O balanço, a bossa em toda a sua visivel contrução densa e aquele final quase que um bolero sinfônico foi extasiante. Ouso dizer que se eu pudesse ouvi-los tocar essa noite no auditório do Campi da UFS em Itabaiana, eu o faria apenas pra dentre outros tons, escutar mais uma vez o tema da baixa do sapateiro dentro do Arranjo do Gledson Souza intitulado Uma viagem Latina.

Não me aterei a falar sobre a primeira parte do Conceto já que foi regularmente tranquila com a Abertura Idomeneu do Mozart, com o I e IV Mov. da Sinfônia Nº 104, em RÉ Maior do Joseph Haydn, Dança Húngara nº 5 do Brahms e a Fanfarre for a Commom Man do Aaron Copland. 90% delas sob a batuta da Maestrina Silvia Berg, que junto com um grupo de três alunos: Eduardo Felipe Corrêa (Violino), Thayara Siqueira (Violino) e o Fernando Chagas Corrêa (Viola), em Itabaiana para um intercambio educacional, puderam somar-se ao brilho intencional da noite. Não posso deixar passar o fato de que ver pela primeira vez ao vivo uma maestrina em exercício foi excitante dentro da pesrpectiva de entender que não só o campo musical brasileiro tem se voltado para o grande momento de desenvolvimento que nos é dado já que lá fora cada vez mais desejam conhecer nossa música, como também que os tabus poco a poco tem sido quebrados e com isso o machismo que por tanto tempo impregnou de cerseamento a liberdade de nossas artistas mulheres venha sido desfeito. Foi doce e voraz como o tinha que ser, e como o é a alma feminina.

E embora fique a felicidade desse momento, o grande momento, a grande constatação na verdade e que já é sabido nos quatro cantos de Sergipe é que não existe melhor grupode metais, não existe mais primor e desenvolvimento de técnica elaborada nesse sentido que o grupo da OSI. A tradição de fanfarras em Sergipe é forte, sobre tudo em Itabaiana com os initerruptos grupos mantidos pela Filarmônica Nossa Senhora da Conceição, e embora isso seja tão natural, ontem eu lembrei o som que já havia me impressionado a tanto tempo, e aqui paro para discorrer explicitamente e parabenizar àquele a quem credito o maior êxito da noite de ontem. O trompetisma Max Santana. Foi positivamente insurdecedora sua execução da Fanfarre for a Commom Man, foi brilhante e seguro em toda a segurança e fôlego dispostos em cada projeção de som. Segurança essa que envolvia todo o naipe e fazia deles o brilho maior (Coisa não comum) já que todos os olhos tendem sempre a pairar sobre as cordas. Fantástico. Fántastico e grande. Desejo que não se perca no caminho, que não tenha medo de entender que é grande e que pode mais que se limitar a não buscar outros ares. Parebenizo-o e desejo que vooe.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Vviva a música antiga. Longevida Renatique!

Todos os anos a coisa acontece do mesmo jeito: Casa cheia, boa música e um voo alto sobre o resgate da cultura musical da idade média e suas vertentes. Esse ano imagino que não vá ser diferente, imagino que não vá ser menos cheio e encantadora a apresentação em comemoração ao  16 anos ininterruptos de atividades de pesquisa e execução da música antiga.

Por sorte o grupo Renantique é prata da casa, é patrimônio nosso e motivo esse que deveria despertar em nós sergipanos um senso minimo de orgulho e preservação. Por que é no minimo contraditório que nós tenhamos em casa sob nosso olhar um grupo não estatal, que definha em busca da preservação cultural e memorial de um determinado patrimônio, mas que em verdade tão poco valoramos esse trabalho e tão menos preservamos o impacto, o legado que nos favorece ano após ano esse grupo. E o digo por que acompanho de perto e a bastante tempo suas ações. O digo porque os aprecio em medida e imagino quão penoso deva ser carregar nas costas por tanto tempo a ideia da educação musical através de um estilo e de um tempo.

Aos que creem que esse tipo de concerto seja monotonamente angustiante, deveria despir-se dos conceitos e dar-se a oportunidade em prestigiá-los. É nosso, é dos melhores e sob muitas perspectivas que iam de encontro à sua vida, o grupo acabou por se tornar uma referência para muitos outros grupos e estudiosos das artes, história e culturas antigas. Não são cátedros,  não teorizam além da conta, O Renantique é grande por ter conseguido romper a barreira da pesquisa e solidificar-se em experimentações musicais.

Escrevo tal convite como prelúdio. Desejo ter vida para discorrer melhor e sem pressa sobre de como e de fato o Renantique é nosso patrimônio e como tal deva receber de nós sergipanos a devida atenção. Por que nisto vou além da possibilidade em achar que deva ser obrigação do poder público. Falo sobre tudo de nós mesmo que não tratamos os espaços com o devido respeito. Espero esse ano não lamentar, não ver lamentar tantas pessoas nas redes sociais que a apresentação fosse marcada pela falta de educação da plateia, que os burburinhos e o entra e sai da sala, fossem visivelmente prejudiciais à concentração e apreensão que se deve imprimir também da plateia ao palco.


Data
17/10/2012

Local
Teatro Atheneu 20h30

Mais detalhes
Concerto de aniversário de 16 anos do Música Antiga Renantique
Com o Terpsícore Danças Antigas
Entrada franca


PROGRAMA:

Bransle de la Torche 
Thoinot Arbeau ca.1529-1595, Orchesography 1589 

Blow thy horn hunter
William Cornysh (fl.1500)

Un satyre cornu
Gabriel Bataille, 1575-1630 

Cucu, cucu, cucucu!
Juan del Encina - 1468-?1529

Saint Martins 
John Playford 1623-1686, English Master Dancing, 1651 

Packingtones Pound
Anon. Inglês, 1596

O Mistress mine!
Thomas Morley 1558-1603, de Twelfth Night 2:3

Kemp’s Jig 
Anon. Inglaterra 1580

It was a lover and his lass 
Thomas Morley 1558-1603 – As you like it 5:8

All in a Garden Green 
English Master Dancing, 1651 - John Playford 1623-1686

Pase el agoa 
Cancioneiro del Palácio, 1505-1520

Tourdion 
Anon. séc.XVI

Oy comamos y bebamos!
Juan del Encina - 1468-?1529

Qui veut chasser une migraine
Gabriel Bataille, 1575-1630

04 Bransles: double, single, pois & cheveaux
Thoinot Arbeau ca.1529-1595, Orchesography 1589 

sábado, 13 de outubro de 2012

Há uma pétala


Desejei não falar sobre a bonita apresnetação do Fábio Presgrave, e não por não ter sido notadamente efusivo. Não! Gostei sobremaneira, e gostava pela segunda vez já que essa semana ainda falei sobre o Duo Presgrave-Cesetti. Assim como já havia falado anteriormente neste blog que me agradava o glisando da violoncelista Andressa Souto (Chefe de nipe dos Violoncelos da ORSSE), e me aterei a eles nesse parrágrafo já que na noite da ultima quinta-feira 11.10.2012 eles estavam inacreditáveis. Surtia exatamente o efeito de ir quebrando uma por uma minhas costelas como se fossem um vento gosotoso de inverno me convidado a olhar o tempo da janela. E me dispus a encarar atentamente aquele seu solo como quem buscando alguma verossimilhança. E positivamente descobri a origem de tamanho apuro ao escutar pela segunda vez e com a mesma precisão do dia anterior, o violoncelista Fábio Presgrave. Há um que de médico e mostro naquele concerto. E louvo a ordem das coisas literárias que dá espaço para que  o monstro  se ponho em puro sentimento e se mostre muito mais mocinho que vilão. Não há amor sem que uma hora o ódio venha e por isso, imagino quão avassaldor deve ter sido dividir o palco com seu professor, ainda mais na condição de que um não ofuscou o brilho do outro. Ao contrário, foi resposta à qualidade técnica exibida naquele programa.

Foi arrebatadora a noite. Me algro ouvir tão de perto algo meu e me alegra dizer que foi uma execução formidável a dos Choros Nº 10 do Heitor Villa Lobos (Rasga o coração). Se há algo que melhor represente a diversidade cultural do nosso Brasil é a singularidade melódica das composições do villa. Foi sem sombra de dúvidas um concerto didático, uma ponte para desvendar um pouco mais da nosa música que por tanto tempo foi esquecida ou tão pouco divulgada. As explanações do Maestro Marcelo de Jesus sobre o processo de criação do Villa, sobre a recepção de nossa música nos palcos franceses e de como a singularidade da inovação criativa dele despertou sentimentos diversos nas plateias, foi sem sombra de dúvidas um afago e impulso para irmos além na busca por descobrir nossos compositores. Sua condução proporcionou uma clarividência sobre a interpretação do Choros. Estavam muito claros todos os elementos da natureza e também a aspereza daqueles que ousavam não entender como corporativo a evidência das multiplas etnias brasileiras. Estavam todos ali, negros, brancos, cafusos e migrantes. Todos bem representados pelo canto visceral do nosso Índio e isso só foi possível pelo empenho da orquestra que brilhantemente lapidou e compreendeu a alma do que estava posto em notas.

"Nunca na minha vida procurei a cultura, a erudição, o saber e mesmo a sabedoria nos livros, nas doutrinas, nas teorias, nas formas ortodoxas. Nunca, porque o meu livro era o Brasil. Não o mapa do Brasil na minha frente, mas a terra do Brasil, onde eu piso, onde eu sinto, onde eu ando, onde eu percorro. Cada homem que eu encontro no Brasil representa uma forma estética na concepção musical." {Heitor Villa-Lobos, João Pessoa. 1951)"

E então não consigo não trazer à memória a extensão segura das trompas naquele inicio já docemente tenso e tão diferente de qualquer começo que conheçamos, o ápice taciturno lá pelo segundo minuto da obra, crescendo sorrateiro até explodir. A flauta excitando doce o amadeirado e rouco clarinete. Os passáros, a fauna que emanavam tão piano e representativos dos violinos. O som aveludado do oboé e depois a junção entre o piano e percusão como prelúdio para que irrompessem o coro de índigenas. Era verdadeiramente como se estivessemos cercados por um ritual ancestral. Um conclame forte, ora doce e melódico com os sopranos e ora violento com os tons mais graves que pareciam invocar aos céus algo divino, algo pagão, algo que fosse ter mais sentido no espirito que na carne, embora visivelmente desfalcado o coro, ainda assim conseguia nos tomar de assalto e o felicito por bravamente ter se destacado em meio à força dos instrumentos ali naquela sala. Eram poucos, mas eram milhares, porque evocavam a força da natura brasileira e se apresentavam como leões cujo o dourado da sua juba sobrepujava qualquer beleza tomando o foco para si.



quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Piano + Cello = Presgrave Cesetti. Ou de quando a Ordem dos fatores não altera o produto.

Cesetti e Presgrave
Só posso começar dizendo que apesar da pouca plateia, da noite com clima irregular e a atmosfera hostil das horas e dos olhares, ela foi sem sombra de dúvidas muito especial. Intimista, suave e tão breve como um sopro. Podiamos escutar aquele duo de piano e Violoncelo por mais algumas eternidades. Inclusive a bem da proposta de termos em nosso palco do Teatro Tobias Barreto algo tangente à tão somente concertos sinfônicos. Bravo espetáculo e tão branco como a Bruma.

A apresentação que correu duas importantes cidades nordestinas: Natal e Salvador, antes de chegar em Aracaju, trouxe na bagagem um pouco mais sobre a tão desconhecida e rica obra músical brasileira. Ainda que influenciada em muito pelos principais salões europeus, o que é claramente compreensível e também verificado no programa que trás uma Sonata do Gabriel Fauré, as obras tocavam muito de nossas principais características com movimentos que passeavam muito sobre movimentos Allegros.  

Intitulado "O Rio de Janeiro da Belle Époque" o repertório contou com uma Serenata do Glauco Velásquez e ainda uma instigante e tenue Fantasia para Violoncelo e Piano. Uma Elegia ( para que brilhasse o piano e o pianista pincelando tão maduro as teclas, tateando com presteza toda a extensão do piano numa calma transparente) do Henrique Oswald. E por fim três impressionates movimentos da Segunda Sonata para Violoncelo e Piano, op. 117 do Fauré. Obra essa que pode explorar muito mais da atenção dos que ali ouviam as melodias e representa tão bem o espirito claro, livre e tão oponente aos oratórios dramáticos (cultivado por muitos franceses neste período moderno). Tão bem explanados pelo violoncelista ao contrapor as influências coloniais da Belle Époque e de um Brasil que de alguma forma passa a se desprender do olhar para fora.