sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Onde estará a Pétroucchka?


Perguntei-me a noite toda e revolvi na cama tentando compreender a ausência de Pétrouchka no concerto da série Cajueiros V ontem 09-08-2012 no teatro Tobias Barreto em Aracaju. É bem verdade que segui o coro dos muitos decepcionados pela retirada abrupta dela do programa da noite e acabei preso na poltrona resistindo a receber de bom grado os enxertos que me eram ofertados. E não posso deixar de reparar que esse tipo de inconveniente não acontece pela primeira vez.  
É claro que existem motivos distintos nas duas substituições, e os compreendo com pesar, embora não posso deixar de sentir que o resultado final nas duas vezes foi desastroso. Ainda saboreio o som indigesto do lago do cisnes e aquela dança espanhola primariamente produzida às pressas no lugar do concerto para piano do liszt, assim como não me sai da cabeça os ataques acanhados do I movimento da 5º sinfonia de Beethoven. Peça essa que inclusive teria tudo pra salvar o concerto, já que é um tema conhecido do público, caso não tivesse sido sucedido pelo enfadonho concerto e o sucessivo silêncio incompreensivo da platéia durante o termino dos movimentos do concerto duplo em ré menor de Mendelssohn para violino tão bem executado por Gabriela Quiroz, piano por Sergio Monteiro e orquestra. de Mendelssohn. 

É bom que fique claro que o silêncio não representava uma educação estética concertística, não! Ainda não nos elevamos nesse patamar aqui em Sergipe: Vide o concerto regido pelo Piotr Borkowski, regente convidado, em que o Nosso msestro Guilherme Mannis gentilmente conduziu algumas pessoas que faziam barulho em excesso a se retirar da sala.  Isso tudo para enfatizar que o grande problema de ontem a noite é um problema antigo. E começa sempre no inicio do ano quando a direção artística da orquestra monta o programa de repertório anual e esquece-se de pautar as obras em função das características técnicas de seu grupo.  Ora, se não somos a OSESP e não gozamos de prestigiosas condições de acesso e permanecia profissional, é claro que ao longo de cada ano existam periódicas migrações. Então, como posso prever ( dentro das perspectivas técnicas da ORSSE) que será possível a execução pretensiosa de uma Pétrouchka de Stravinsk? 

A equação é simples e pode ser sentido por qualquer pessoa naquela platéia que se dignifique a enxergar o todo. É claro que a nossa orquestra estadual sob a batuta do Guilherme Mannis deu saltos significativos. Estéticos e sonoros. Saiu de um ponto confortável para se tornar produto sergipano, mas morre a cada dia por não representar em nada o anseio do sergipano. Cada escolha de repertório da direção artística da ORSSE retrata o descaso da própria orquestra com o seu público. Não nos atende em nada, e é reflexo das escolhas irreais de repertório que a meu ver parecem mais trampolins para que nosso maestro coloque em seu currículo grandes peças, independente da execução e da qualidade.

Resultado disso é que a própria platéia que conseguimos cativar ao longo desses vindouros seis anos se resume a estudantes de música, familiares dos músicos e a tão célebre nata da velha aristocracia sergipana, que só vai ao concerto por preservar a idéia de que música erudita é produto de intelectualidade. Trazer grandes nomes nacionais ou internacionais aos nossos concertos não significa nada além de promoção artística. É uma política vergonhosa passível de indenização por propaganda enganosa. Melhor seria a humildade em reconhecer que a arte deve emanar do povo e para o povo e que não é empurrando goela abaixo a erudição extrema que vamos conseguir formar na terra das Araras um público cativo.

4 comentários:

  1. concordo Jonas! é injusto criar uma expectativa com algo e depois modificar (e nem ao menos tirou do roteiro de programação)!!! tapar um buraco pode resolver o problema, mas sempre vai ser possível ver que não é o que deveria ser!

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  2. tapar o sol com a peneira não pode ser desculpa pra falta de ousadia ou de arriscar, ir em frente. Ou continuaremos sempre sendo pequenos

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  3. Sinceramente, a ambição por excelência técnica é salutar em qualquer modalidade de arte. Não é porque o fazer artístico deve ser para o povo que os artistas devem se castrar de serem mais ousados, mais complexos. O que não pode, é verdade, é volver-se das consequências daquilo que fora projetado, dando ao público um espetáculo erigido a partir de remendos, modificações de última hora.

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