quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Tudo sobre minha mãe

Manuela e Esteban

Não queria começar falando explicitamente sobre “tudo sobre  minha mãe”. Talvez nem  devesse fazê-lo, mas não há como. Foi através desse filme do diretor espanhol Pedro Almodóvar que pude penetrar a fundo o mundo de Alberto Iglesias.
O nome nem é conhecido por aqui na terra da Bossa Nova, talvez nem muito conhecido seja por aí a fora, porém sua obra é de grandiosa validade para o mundo cinematográfico e musical. Alberto Iglesias é responsável pela trilha sonora de alguns famosos filmes espanhóis como “Fale com ela” e “Má educação”, todos de Almodóvar.
Iglesias vem se consolidando como um grande compositor de trilhas sonoras, e não é a custa de pouco esforço, porém, de um notável talento; o compositor espanhol já conta em seu currículo com uma nomeação ao Oscar (prêmio concedido pela Acadêmia de Artes e Ciências Cinematográficas). No ano de 2005, platéias de todo o mundo pararam para escutar a doce trilha sonora do Filme “O jardineiro fiel” do diretor brasileiro Fernando Meirelles que havia sido indicado ao Oscar.
É com a mesma doçura que compôs a trilha do “Jardineiro fiel” que Alberto Iglesias assume no ano de 1999 a direção sonora de “Tudo sobre minha mãe”, e é também com a mesma força que ele repete a fórmula com que se inaugurou no cinema ao fazer a trilha do longa metragem chamado “Vaca”, do diretor espanhol Julio Medem, no qual faz uma descrição do bosque, lugar central a partir do qual nasce e morre a história e seus personagens.
Chamá-lo-ia aqui de Realista, porque é assim que ele se apresenta e faz de sua obra uma marca descritiva e fiel a cada cena e personagens. Em “Tudo sobre minha mãe” não é diferente, e trás outra característica não tão comum ao agrado dos expectadores: toda a trilha sonora instrumental, tendos apenas uma única canção cantada, Tajabone. Iglesias é cabal ao buscar no limiar de cada cena a emoção de cada contexto descrito no filme de maneira a associá-lo ao seu tema, nomeando por vezes as canções de acordo com a cena; isso acontece com a canção “Não gosto que escreva sobre mim”, originária da cena em que Manuela conversa com o filho, Esteban, às vésperas de seu aniversário e em que ela ao saber do filho que ele escreve tudo sobre ela; diz a ele que não gosta de saber que ele escreva sobre sua vida; assim, o faz também quando Manuela decide ir visitar o receptor do coração de seu filho Esteban que morre num acidente de carro no dia de seu aniversário, numa visita literal ao coração e às memórias do filho morto. Tal canção é coroada com o título que mais parece um pedido agoniado sob o embalo forte dos violinos: “Traz o coração de meu filho”.
Essa é, talvez, a característica mais viva de um compositor que sabe dosar a comicidade e a dor. E vai além; faz uso de elementos cotidianos na cultura musical de seu povo e trás para o filme ora a batida forte da música cigana ora a tristeza e sensualidade absoluta do tango.
Alberto Iglesias foi sem dúvida um grande colaborador para que o filme “Tudo sobre minha mãe”, concorrente ao Oscar de melhor filme estrangeiro do ano de 1999, fosse consagrado como o favorito do público e dona da estatueta. Com isso, Alberto se consolida não como um bom compositor de trilha sonora, mas como um músico de alma, que vai além do que diz visualmente uma partitura; ele nos toca, tocando as feridas de cada personagem que se encontra na dor e alegria do expectador.


2 comentários:

  1. Você escreve bem! ta no curso errado! kkkkk :P
    Mas sem brincadeiras: a música é linda! *-*

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  2. Além de concordar com o comentário logo acima, acrescento: você é um bom comentarista. hehe.
    Curti!

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