sábado, 1 de setembro de 2012

Inda pago pra ver o jardim florescer qual você não queria


O foco de hoje será sem assombros a brilhante execução do Concerto para viola e orquestra em dó menor Op.34 do Johann Cristian Bach. Focarei no que considero ter sido a salvação para uma noite não tão boa, e não no sentido musical. Foi um concerto razoável e de certa forma muito atraente do meio pro fim.

Mas antes queria responder de forma bem direta aos Jovens estudantes de Violino que nas horas vagas tentam ser agradáveis fazendo piadas ou perguntas sem nexo em momentos inoportunos. 1. Não tenho obrigatoriedade em ir ver concertos para escrever sobre eles, escrevo como disciplina e desejo, de modo que se algum dia eu não o fizer, não é por medo ou porque desgostei demasiado. Simplesmente não o quero e imagino ter liberdade para fazê-lo. 2. Se escreverei bem sobre o violista Cleverson Cremer não é porque o mesmo "também" faz parte da Osufs como  suscitado horas antes de começar o espetáculo. Acredite, queria muito te fazer acreditar que não escrevo por vias de manipulação. Queria muito  fazer-lhes entender de uma vez por todas que fazer parte de um grupo, como o faço na OSUFS não me faz seguir ideologicamente o maestro Ion Bressan, embora é sabido de todos o quanto o aprecie no que deva ser apreciado e discorde no que evidentemente deve ser discordado. E não exitarei em escrever sobre tais desvelos quando necessário. Afinal eu realmente acredito que nem todos os músicos dentro da ORSSE sejam extensões do que pensa o vosso maestro. 

Para quem acompanha o blog com atenção e lendo com interpretação atenta sabe que é a segunda vez que tento deixar claro que escrevo por mim e pra mim. Já deixei claro que o blog é um espaço de partilha e comunicação, não comenta lá ou expõe o que realmente pensa por motivos diversos, dentre eles o MEDO. E eu também tenho medo, muito medo. De me perder por exemplo, de ter medo de dizer o que penso, de não ter coragem para o enfrentamento. A grande diferença é que minha foto e meu nome estão aí, escancarados pra quem quiser olhar feio ou ameaçar. Será talvez uma forma de lisura? Sim! Não me esconderei mesmo que voltemos às ditaduras. E irei às ruas despetalando as rosas. Mas quando eu morrer na praia, meu sangue terá sido verdadeiro. E talvez lá na frente essas pessoas vejam que o que escrevo não são ataques desmerecidos, são evidencias de que apesar da boa máquina financeira que movimenta a cultura em Sergipe, os resultados não são todos verdadeiros como se propaga. E que mal há em evidenciar isso? Se é calunia minha, porque os resultados que me contradigam insistem em não aparecer. A verdade é que ainda vivemos em uma província, de tal modo, que  tentam manipular e desmerecer os seus opostos, de tal modo que os bons músicos que vem aqui fazem estágio de passagem e se vão para dias melhores. É ou não é?

É fato que o comentário "despretensioso" do jovem estudante de violino quase me tirou a orbita, mas eu sabia que para além do bem e do mal existia lá dentro do teatro algo que me tirou de casa com presteza. E não errei. Cleverson Cremer? Não só, o que vi ontem no concerto para viola e orquestra era sinônimo de superação de todo o grupo. Se o expoente violista foi magnânimo, o foi em resposta a leveza das cordas no concerto de ontem. E foram, foram muito aquém do que antevi quando pensei em ir ou não ao concerto.  Cada arcada violenta mas precisamente segura de sua viola era impulso pra que suas próprias irmãs violas estivessem muito mais dinâmicas, que os agudos violinos fossem também tão juntos. Se havia conforto na peça não sei, mas vi nos contrabaixos muita clareza continua das notas. E então que Allegro Molto espressivo foi aquele que retirou de mim aplauso mesmo sabendo que  meus companheiros não o veriam porque estavam lá dentro, em minha cabeça. Por horas quis levantar e aplaudir, quis chorar quando os acordes roucos  tão bem doces da viola que soava segura e cheia exalava até o mezanino. Quis apreciar depois dele por mais alguns instantes o solo da cellista e seus glisandos fortes. Quis pensar que toda a noite poderia ter sido resumida à aquilo, porque não seria um resumo. Era o que devia ter sido e podia ter sido apenas ele.

E embora eu aprecie o Joseph Haydn e sua sinfonia 100 em sol maior, e embora eu insista em apreciar com muita atenção o som das trompas e dos oboés, e os ache doces em medida, sinistro em uma marcha militar, e apreciativos e pouco explorados, continuo a achar que o grande deficit das apresentações da ORSSE é mesmo a disposição das peças na ordem do concerto. Imagino que se a sinfonia do Haydn estivesse antes do concerto para viola estaria bem posto e tão menos sonolento. Porque existe potencial de execução, mas existe também a apatia da espera. Sobre todas as coisas, um movimento não apagaria o brilho do outro, como o foi ontem. Em que o bis, o Capricho para viola tocado tão vivo e bruto e dançante pelo Cremer acabou por dizer mais ou tudo sobre como a nossa orquestra tem brilhantes potenciais não explorados. E então porque? Porque o dia insiste em nascer a cada semana como se ninguém visse o que todos deveriam evidenciar?

PS. Não poderia passar de hoje dizer o quanto quis arrancar do palco aquele tablado de madeira que rangia como uma percussão de cama de campanha no meio da orquestra. De como a anos esse tópico me incomoda tanto quanto o barulho que faz a plateia no meio das peças. O rangido do tablado não sai de minha cabeça, não me convence da beleza. Poderia passar sempre sem ele. 

E pra quem não esteve lá ontem, apesar de o audio não ser tão limpo indico o concerto para viola do Bartók executado por Cleverson Cremer que achei na internet. É só uma mostra do que ainda podemos esperar desse violista, a quem escrevo e parabenizo não por ter o rabo preso com a OSUFS, mas sim porque em verdade aprecio seu talento e não poderia deixar de sê-lo. Vide o vídeo. 

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