quarta-feira, 24 de outubro de 2012

E se alguém plagiar o Hino de Sergipe?

Bandeira do Estado de Sergipe
Abri o jornal Cinforme desta semana e me deparei com uma matéria que expunha as contradições e tantas afirmações de historiadores e "musicólogos" no que tange a autenticidade do Hino Sergipano. Há uma banda grande de desocupados que insistem em afirmar que a melodia do Hino do Frei José de Santa Cecília é um plágio sobre a melodia da ópera L' Italiana in Algeri do Compositor Italiano Giácomo Rossini. E sim, para quem já escutou as duas melodias, existe nitidamente traços da italiana sobre a sergipana, ao que bem explica a professora e presidente da Sociedade filarmônica de Sergipe (SOFISE) Maria Olga, as leis que deliberam sobre o plágio ( a copia ou assinatura como uso indevido de uma obra com partes ou totalmente reproduzidas de outra pessoa, alegando ser de sua autoria) são muito recentes e que naturalmente escrever uma melodia como base em uma melodia já consagrada e conhecida era algo comum entre os compositores, inclusive dentre os mais famosos, como uma forma de homenagear tal peça.

Para além da defesa do plágio ou não do Hino sergipano, a professora Olga nos alerta em sua defesa para algo muito mais próximos a nós e que nos cabe maior atenção sobre a importância do tema. Temos um hino sergipano e montões de símbolos que pairam sobre nossa sergipanidade e mesmo com isso não os conhecemos, ou valoramos. Não fomos formados dentro da cultura escolar ou cívica a entender como parte de nossa cultura e um traço de nossas conquistas e valores os símbolos. A professora alega que um dos pontos mais óbvio para que nós sergipanos não saibamos a letra e a melodia do Hino se deva ao fato de a letra ser imensamente longa e que dificulta nossa apreensão em memorizá-lo. Assim também o é como o próprio Hino Nacional, poucos de nós cidadãos brasileiro o sabemos com louvor. Segundo a professora exite um projeto de lei que circula nas câmaras da assembleia estadual para a revisão do texto no sentido de melhorá-lo e de se fazer vivo em memória. 

Recordo um concerto da (ORSSE) no teatro Tobias Barreto em que ao executar o Hino sergipano o Maestro Guilherme Mannis apontou para a plateia como quem desejando que cantássemos juntos a letra do hino, um vexame cívico para nós sergipanos que se quer conseguíamos ultra passar as barreiras do "Alegrai-vos sergipanos"...   E em outro momento a tão bem aplaudida execução de A italiana na Argélia de Rossini executada no mesmo palco pela Orquestra sinfônica da universidade Federal de Sergipe (OSUFS) sob a regência do Maestro Ion Bressan. Dois momentos antagônicos para a execução daquilo  que  muito creditam ser uma única melodia. E para além de qualquer predileção já que gosto em especial das duas músicas, me pergunto até quando em termos culturais vamos insistir em olhar pra fora ou desviar nossas atenções sobre aspectos que em nada nos forma identitários, ao invés de rumarmos para a consolidação de nossa independência sergipana.

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domingo, 21 de outubro de 2012

É de Setembro passado mas ainda assim um bom exercício de democracia! Ou de quando é preciso dar voz, mas também analisar o que se propaga.

Músicos e servidores do quadro da Orquestra Sinfônica da Paraíba pedem afastamento do maestro Alex Klein.
Em carta destinada ao secretário de Cultura do Estado Chico Cesar, e por meio de abaixo-assinado, músicos e servidores de apoio-artístico da Orquestra Sinfônica da Paraíba solicitam o afastamento imediato do atual maestro da OSPB, Alex Klein.
Em Assembleia Geral realizada na noite do dia 24 de agosto de 2012, na Sala do Cine Banguê – Espaço Cultural, músicos e servidores de apoio-artístico da Orquestra Sinfônica da Paraíba decidiram por unanimidade o afastamento do senhor Alex Klein da fuSnção de Regente Titular e da Direção Artística da OSPB. Por meio de abaixo-assinado e usando o exercício da democracia e em concordância com a legislação estadual, em especial o art. 196 do Estatuto do Servidor Público do Estado da Paraíba, Lei complementar Nº 58 do dia 30 de dezembro de 2003, os músicos e servidores decidiram que não há mais condições de continuidade no trabalho conjunto com o aludido maestro. Nessa mesma assembléia ficou acordado que seria sugerido ao Exmo Secretário que os concertos que restam da temporada 2012 seriam regidos pelo maestro da Orquestra Sinfônica Jovem da Paraíba e maestro assistente da OSPB, o Sr. Luiz Carlos Durier, até que novas alternativas sejam encontradas para a ocupação da função de Regente Titular da OSPB. Afirmam também que na cidade existem maestros capazes e preparados para, na condição de convidados, auxiliarem na condução dos destinos da OSPB e dar continuidade à programação da temporada 2012. Os músicos e servidores alegam imposição unilateral de perfil e gestão do maestro, que desconsidera sistematicamente a participação do Conselho Artístico da OSPB nas decisões e planejamento das atividades. Uma afronta ao parágrafo 2º do art. 3º da Lei nº 7.861 de 16 de novembro de 2005 que dispõe sobre a vinculação, a organização e o quadro pessoal da sinfônica. Eles questionam também que o maestro estabeleceu no primeiro semestre de 2012, uma programação artística arbitrária sem conhecimento prévio do conselho artístico, como também a não consideração das condições físicas, materiais, técnicas e principalmente orçamentárias da Orquestra, que acarretou a inexecução do cronograma da temporada, resultando nos cancelamento de concertos, sem devido aviso prévio, promovendo o constrangimento dos músicos e do público, que desinformado compareceu ao local onde estes seriam realizados. Os músicos e servidores contestam ainda a conduta ética do maestro em relação ao trato pessoal com os músicos, algum dos quais foram constrangidos públicamente em assembléias realizadas com a sua participação, bem como a ausência de um projeto coerente que atenda aos anseios dos músicos no que diz respeito à manutenção e revitalização deste conjunto sinfônico. Na carta ao secretário Chico Cesar, músicos e servidores afirmam que após longas discussões em assembléias realizadas desde o inicio do ano procurando saídas, estas demonstraram que definitivamente não há mais possibilidades de encontrar caminhos de harmonia, entendimento, confiança e simpatia entre o referido maestro e os músicos, aspectos fundamentais para o exercício da profissão de músico. As vias de comunicação estão esgotadas, a confiança completamente abalada e a integridade moral dos músicos ferida, ao ponto de não haver mais possibilidade de reconciliação entre as partes, disseram. Eles finalizam a carta pedindo providências para atender as solicitações, além de se colocarem à disposição para discussões futuras que envolvam o maior patrimônio cultural dos paraibanos, a Orquestra Sinfônica da Paraíba – deixando claro o seu total e irrestrito apoio as políticas culturais do Governo do Estado da Paraíba. 

A pergunta que sempre vai me cercar é a de que até que ponto chegar a esse extremos não seja sinalização de que de fato no mínimo esse tipo de acusação devesse ser analisada com cautela e verdadeiro espirito de resolução? Até que ponto a Arte deve estar estritamente atrelada ao aparelho do estado e seus cerseios?
Até que ponto vai o poder de gerência de um condutor, até que ponto vai a liberdade de participação efetiva daqueles que verdadeiramente formulam as bases do resultado final num trabalho orquestral?

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Orquestra sinfônica de Itabaiana e o trompete de Ouro

Orquestra Sinfônica de Itabaiana (OSI)
Foi um concerto ingrato em termos de público, também ingrato em termos de divulgação. Tão pronto vi uma chamada no telejornal da noite, sai correndo pra ver se conseguia chegar ao menos na metade do concerto da Orquestra Sinfônica de Itabaiana (OSI). Por sorte consegui chegar com folga e os prestigiei do mezanino vazio fazer um concerto inteligente e audacioso. Ouso dizer que se pudesse elencar um ranking de acertos repertoriais aqui em sergipe ultimamente, a OSI ficaria em 1º lugar com um aproveitamento quase impecável. É bem verdade que há um caminho, há uma estrada e muito por acertar.

O concerto visava comemorar o dia do médico, e também dentro dessa simbologia homenagear o centenário do Médico e empresário sergipano Augusto Franco lá representado por seu filho e ex-governador do estado Albano Franco. Executado dentro desa série pela primeira vez  em 2008 sob a regência do Maestro e criador da orquestra, o Gaúcho Ion Bressan, teve vida e em sua 5ª edição o conceto Unimed se apresentou no palco do Teatro Atheneu. Foi um concerto breve no sentido da leveza, mas não menos intenso e qualitativo.

Um dos únicos deslizes mas ousadamente apreciável foi a execução do 2º Mov. da IV Bacchiana do Villa lobos (Canto do sertão). Lamentavelmente mal amaciado pelo naipe das cordas que visivelmente não conseguiu lograr êxito com a pretensa extensão das notas mais agudas, com a embolação que por motivo esse nos deu a quem escutava um sentido confuso e destoante das boas gravações desse que é um movimento tão doce, tão agreste que se bem executado nos fará entender claramente a beleza que existe na seca e na poesia do homem do campo. Mas ousadamente forte (ainda que irregular) na introdução lirica do óboé. Parabenizo sua direção artistica na pessoa do Maestro Bahiano Angelo Rafael pela sensibilidade de entender que um conceto para que seja erudito não precisa necesariamente vir atravacado de monte de monotonias. Muito menos que nãodeva dar espaço para as pratas da casa. Essas que foram tão bem lembradas com a seleção Luiz Gonzaga do Mestre Duda e a eximia execução de um arranjo do Paulo Aragão sobre o tema Garota de Ipanema, que aqui, toda as cordas se mostraram e puderam atrever uma nesga de alma que fosse. O balanço, a bossa em toda a sua visivel contrução densa e aquele final quase que um bolero sinfônico foi extasiante. Ouso dizer que se eu pudesse ouvi-los tocar essa noite no auditório do Campi da UFS em Itabaiana, eu o faria apenas pra dentre outros tons, escutar mais uma vez o tema da baixa do sapateiro dentro do Arranjo do Gledson Souza intitulado Uma viagem Latina.

Não me aterei a falar sobre a primeira parte do Conceto já que foi regularmente tranquila com a Abertura Idomeneu do Mozart, com o I e IV Mov. da Sinfônia Nº 104, em RÉ Maior do Joseph Haydn, Dança Húngara nº 5 do Brahms e a Fanfarre for a Commom Man do Aaron Copland. 90% delas sob a batuta da Maestrina Silvia Berg, que junto com um grupo de três alunos: Eduardo Felipe Corrêa (Violino), Thayara Siqueira (Violino) e o Fernando Chagas Corrêa (Viola), em Itabaiana para um intercambio educacional, puderam somar-se ao brilho intencional da noite. Não posso deixar passar o fato de que ver pela primeira vez ao vivo uma maestrina em exercício foi excitante dentro da pesrpectiva de entender que não só o campo musical brasileiro tem se voltado para o grande momento de desenvolvimento que nos é dado já que lá fora cada vez mais desejam conhecer nossa música, como também que os tabus poco a poco tem sido quebrados e com isso o machismo que por tanto tempo impregnou de cerseamento a liberdade de nossas artistas mulheres venha sido desfeito. Foi doce e voraz como o tinha que ser, e como o é a alma feminina.

E embora fique a felicidade desse momento, o grande momento, a grande constatação na verdade e que já é sabido nos quatro cantos de Sergipe é que não existe melhor grupode metais, não existe mais primor e desenvolvimento de técnica elaborada nesse sentido que o grupo da OSI. A tradição de fanfarras em Sergipe é forte, sobre tudo em Itabaiana com os initerruptos grupos mantidos pela Filarmônica Nossa Senhora da Conceição, e embora isso seja tão natural, ontem eu lembrei o som que já havia me impressionado a tanto tempo, e aqui paro para discorrer explicitamente e parabenizar àquele a quem credito o maior êxito da noite de ontem. O trompetisma Max Santana. Foi positivamente insurdecedora sua execução da Fanfarre for a Commom Man, foi brilhante e seguro em toda a segurança e fôlego dispostos em cada projeção de som. Segurança essa que envolvia todo o naipe e fazia deles o brilho maior (Coisa não comum) já que todos os olhos tendem sempre a pairar sobre as cordas. Fantástico. Fántastico e grande. Desejo que não se perca no caminho, que não tenha medo de entender que é grande e que pode mais que se limitar a não buscar outros ares. Parebenizo-o e desejo que vooe.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Vviva a música antiga. Longevida Renatique!

Todos os anos a coisa acontece do mesmo jeito: Casa cheia, boa música e um voo alto sobre o resgate da cultura musical da idade média e suas vertentes. Esse ano imagino que não vá ser diferente, imagino que não vá ser menos cheio e encantadora a apresentação em comemoração ao  16 anos ininterruptos de atividades de pesquisa e execução da música antiga.

Por sorte o grupo Renantique é prata da casa, é patrimônio nosso e motivo esse que deveria despertar em nós sergipanos um senso minimo de orgulho e preservação. Por que é no minimo contraditório que nós tenhamos em casa sob nosso olhar um grupo não estatal, que definha em busca da preservação cultural e memorial de um determinado patrimônio, mas que em verdade tão poco valoramos esse trabalho e tão menos preservamos o impacto, o legado que nos favorece ano após ano esse grupo. E o digo por que acompanho de perto e a bastante tempo suas ações. O digo porque os aprecio em medida e imagino quão penoso deva ser carregar nas costas por tanto tempo a ideia da educação musical através de um estilo e de um tempo.

Aos que creem que esse tipo de concerto seja monotonamente angustiante, deveria despir-se dos conceitos e dar-se a oportunidade em prestigiá-los. É nosso, é dos melhores e sob muitas perspectivas que iam de encontro à sua vida, o grupo acabou por se tornar uma referência para muitos outros grupos e estudiosos das artes, história e culturas antigas. Não são cátedros,  não teorizam além da conta, O Renantique é grande por ter conseguido romper a barreira da pesquisa e solidificar-se em experimentações musicais.

Escrevo tal convite como prelúdio. Desejo ter vida para discorrer melhor e sem pressa sobre de como e de fato o Renantique é nosso patrimônio e como tal deva receber de nós sergipanos a devida atenção. Por que nisto vou além da possibilidade em achar que deva ser obrigação do poder público. Falo sobre tudo de nós mesmo que não tratamos os espaços com o devido respeito. Espero esse ano não lamentar, não ver lamentar tantas pessoas nas redes sociais que a apresentação fosse marcada pela falta de educação da plateia, que os burburinhos e o entra e sai da sala, fossem visivelmente prejudiciais à concentração e apreensão que se deve imprimir também da plateia ao palco.


Data
17/10/2012

Local
Teatro Atheneu 20h30

Mais detalhes
Concerto de aniversário de 16 anos do Música Antiga Renantique
Com o Terpsícore Danças Antigas
Entrada franca


PROGRAMA:

Bransle de la Torche 
Thoinot Arbeau ca.1529-1595, Orchesography 1589 

Blow thy horn hunter
William Cornysh (fl.1500)

Un satyre cornu
Gabriel Bataille, 1575-1630 

Cucu, cucu, cucucu!
Juan del Encina - 1468-?1529

Saint Martins 
John Playford 1623-1686, English Master Dancing, 1651 

Packingtones Pound
Anon. Inglês, 1596

O Mistress mine!
Thomas Morley 1558-1603, de Twelfth Night 2:3

Kemp’s Jig 
Anon. Inglaterra 1580

It was a lover and his lass 
Thomas Morley 1558-1603 – As you like it 5:8

All in a Garden Green 
English Master Dancing, 1651 - John Playford 1623-1686

Pase el agoa 
Cancioneiro del Palácio, 1505-1520

Tourdion 
Anon. séc.XVI

Oy comamos y bebamos!
Juan del Encina - 1468-?1529

Qui veut chasser une migraine
Gabriel Bataille, 1575-1630

04 Bransles: double, single, pois & cheveaux
Thoinot Arbeau ca.1529-1595, Orchesography 1589 

sábado, 13 de outubro de 2012

Há uma pétala


Desejei não falar sobre a bonita apresnetação do Fábio Presgrave, e não por não ter sido notadamente efusivo. Não! Gostei sobremaneira, e gostava pela segunda vez já que essa semana ainda falei sobre o Duo Presgrave-Cesetti. Assim como já havia falado anteriormente neste blog que me agradava o glisando da violoncelista Andressa Souto (Chefe de nipe dos Violoncelos da ORSSE), e me aterei a eles nesse parrágrafo já que na noite da ultima quinta-feira 11.10.2012 eles estavam inacreditáveis. Surtia exatamente o efeito de ir quebrando uma por uma minhas costelas como se fossem um vento gosotoso de inverno me convidado a olhar o tempo da janela. E me dispus a encarar atentamente aquele seu solo como quem buscando alguma verossimilhança. E positivamente descobri a origem de tamanho apuro ao escutar pela segunda vez e com a mesma precisão do dia anterior, o violoncelista Fábio Presgrave. Há um que de médico e mostro naquele concerto. E louvo a ordem das coisas literárias que dá espaço para que  o monstro  se ponho em puro sentimento e se mostre muito mais mocinho que vilão. Não há amor sem que uma hora o ódio venha e por isso, imagino quão avassaldor deve ter sido dividir o palco com seu professor, ainda mais na condição de que um não ofuscou o brilho do outro. Ao contrário, foi resposta à qualidade técnica exibida naquele programa.

Foi arrebatadora a noite. Me algro ouvir tão de perto algo meu e me alegra dizer que foi uma execução formidável a dos Choros Nº 10 do Heitor Villa Lobos (Rasga o coração). Se há algo que melhor represente a diversidade cultural do nosso Brasil é a singularidade melódica das composições do villa. Foi sem sombra de dúvidas um concerto didático, uma ponte para desvendar um pouco mais da nosa música que por tanto tempo foi esquecida ou tão pouco divulgada. As explanações do Maestro Marcelo de Jesus sobre o processo de criação do Villa, sobre a recepção de nossa música nos palcos franceses e de como a singularidade da inovação criativa dele despertou sentimentos diversos nas plateias, foi sem sombra de dúvidas um afago e impulso para irmos além na busca por descobrir nossos compositores. Sua condução proporcionou uma clarividência sobre a interpretação do Choros. Estavam muito claros todos os elementos da natureza e também a aspereza daqueles que ousavam não entender como corporativo a evidência das multiplas etnias brasileiras. Estavam todos ali, negros, brancos, cafusos e migrantes. Todos bem representados pelo canto visceral do nosso Índio e isso só foi possível pelo empenho da orquestra que brilhantemente lapidou e compreendeu a alma do que estava posto em notas.

"Nunca na minha vida procurei a cultura, a erudição, o saber e mesmo a sabedoria nos livros, nas doutrinas, nas teorias, nas formas ortodoxas. Nunca, porque o meu livro era o Brasil. Não o mapa do Brasil na minha frente, mas a terra do Brasil, onde eu piso, onde eu sinto, onde eu ando, onde eu percorro. Cada homem que eu encontro no Brasil representa uma forma estética na concepção musical." {Heitor Villa-Lobos, João Pessoa. 1951)"

E então não consigo não trazer à memória a extensão segura das trompas naquele inicio já docemente tenso e tão diferente de qualquer começo que conheçamos, o ápice taciturno lá pelo segundo minuto da obra, crescendo sorrateiro até explodir. A flauta excitando doce o amadeirado e rouco clarinete. Os passáros, a fauna que emanavam tão piano e representativos dos violinos. O som aveludado do oboé e depois a junção entre o piano e percusão como prelúdio para que irrompessem o coro de índigenas. Era verdadeiramente como se estivessemos cercados por um ritual ancestral. Um conclame forte, ora doce e melódico com os sopranos e ora violento com os tons mais graves que pareciam invocar aos céus algo divino, algo pagão, algo que fosse ter mais sentido no espirito que na carne, embora visivelmente desfalcado o coro, ainda assim conseguia nos tomar de assalto e o felicito por bravamente ter se destacado em meio à força dos instrumentos ali naquela sala. Eram poucos, mas eram milhares, porque evocavam a força da natura brasileira e se apresentavam como leões cujo o dourado da sua juba sobrepujava qualquer beleza tomando o foco para si.



quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Piano + Cello = Presgrave Cesetti. Ou de quando a Ordem dos fatores não altera o produto.

Cesetti e Presgrave
Só posso começar dizendo que apesar da pouca plateia, da noite com clima irregular e a atmosfera hostil das horas e dos olhares, ela foi sem sombra de dúvidas muito especial. Intimista, suave e tão breve como um sopro. Podiamos escutar aquele duo de piano e Violoncelo por mais algumas eternidades. Inclusive a bem da proposta de termos em nosso palco do Teatro Tobias Barreto algo tangente à tão somente concertos sinfônicos. Bravo espetáculo e tão branco como a Bruma.

A apresentação que correu duas importantes cidades nordestinas: Natal e Salvador, antes de chegar em Aracaju, trouxe na bagagem um pouco mais sobre a tão desconhecida e rica obra músical brasileira. Ainda que influenciada em muito pelos principais salões europeus, o que é claramente compreensível e também verificado no programa que trás uma Sonata do Gabriel Fauré, as obras tocavam muito de nossas principais características com movimentos que passeavam muito sobre movimentos Allegros.  

Intitulado "O Rio de Janeiro da Belle Époque" o repertório contou com uma Serenata do Glauco Velásquez e ainda uma instigante e tenue Fantasia para Violoncelo e Piano. Uma Elegia ( para que brilhasse o piano e o pianista pincelando tão maduro as teclas, tateando com presteza toda a extensão do piano numa calma transparente) do Henrique Oswald. E por fim três impressionates movimentos da Segunda Sonata para Violoncelo e Piano, op. 117 do Fauré. Obra essa que pode explorar muito mais da atenção dos que ali ouviam as melodias e representa tão bem o espirito claro, livre e tão oponente aos oratórios dramáticos (cultivado por muitos franceses neste período moderno). Tão bem explanados pelo violoncelista ao contrapor as influências coloniais da Belle Époque e de um Brasil que de alguma forma passa a se desprender do olhar para fora. 


terça-feira, 9 de outubro de 2012

Tive preguiça: Copie e colei!


A Orquestra Sinfônica de Sergipe apresenta nesta semana dois importantes concertos. O primeiro acontece na quarta feira, dia 10, às 20h30, no Teatro Tobias Barreto, e será um concerto de câmara com o duo Presgrave-Cesetti, do violoncelista Fábio Presgrave e do pianista Durval Cesetti, apresentando o ‘Rio de Janeiro na Belle Époque’, com obras dos brasileiros Henrique Oswald e Glauco Velazquez.

Orquestra e Coro Sinfônico
Já na quinta-feira, dia 11, no mesmo local e horário, a orquestra e o Coro Sinfônico da Orsse pela série Cajueiros VII, apresentam uma das maiores obras compostas na Bélle Époque brasileira: os Choros n. 10, de Heitor Villa-Lobos. A Orsse tem a direção artística do maestro Guilherme Mannis e está sob a coordenação da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e patrocínio do Banese e do Instituto Banese.
O concerto terá a regência de Marcelo de Jesus, maestro adjunto da Orquestra Amazonas Filarmônica, que estará presente pela quarta vez a frente da orquestra. Além de Marcelo, a apresentação contará também com solos de violoncelo do professor da UFRN, Fábio Presgrave, importante referência desse instrumento no Brasil.

Outro destaque especial do segundo concerto é a participação do Coro Sinfônico da Orsse, cantando os versos do poeta Catulo da Paixão Cearense, nos ‘Choros n.10’.  Completam a apresentação as obras de Gaetano Donizettii, Richard Strauss e do baiano Wellington Gomes, vale lembrar que todas as peças serão executadas pela primeira vez em Sergipe.

Ingressos 

No primeiro concerto que acontece no dia 10, a entrada será franca. Já dia 11, os ingressos estão disponíveis a preços populares, à venda na bilheteria do Teatro Tobias Barreto.

Fonte: ASN- Agência Sergipana de Notícias

sábado, 6 de outubro de 2012

Escutei borboletas e elas eram notas de uma flauta

Queria que estivesses aqui violino de salto, queria que pudesses ter sentido como nós àquela noite em que nada mais além dos sons importava. Imagine então um imenso campo verdejante, as copas largas das árvores fazendo sombra e soprando mais forte o vento. O silêncio vinha se quebrando de longe como passos, pude ver um garoto rumando em marcha com sua flauta, ora corria doce, ora se precipitava sobre a beirada do rio. O som que saia de sua flauta era anunciação e ele parecia não se importar com o movimento do outro lado, a cada nota que entoava hipnotizava  Convidava. Não entendi logo de inicio, mas o canto do Doppler era prelúdio para que esvoaçassem em comboio as borboletas. E eram tão femininas, eram tão coloridas e despreocupadas suas asas. O vento que elas produziam conseguiam soprar meu rosto. Percebi quando em determinado momento a marcha tomou rumo distinto e agora eram as borboletas que convidavam o garoto flautista a atravessar a ponte. Ele entendeu pronto e lançou-se, foi se esgueirando por entre as bordas e por vezes parecia querer retroceder, porque na margem estaria mais seguro, e depois de despir-se do medo, depois do encanto das borboletas e a fala mansa de suas asas entoando notas vigorosas e pianamente audíveis, percebeu que era preciso atravessar para descobrir o horizonte do outro lado do rio.

E então toda aquela minha queixa sobre a ordem das casas reais no programa da série Laranjeiras V se dissipou. Foi uma noite de paz, foi uma noite em que ironicamente não desgostei para além de sua dança sem ritmo o Maestro Guilher Mannis. E se algo importar para fazer sentido, espero que a vibração da plateia, as palmas infindáveis ao fim da Gonzaguiana pela volta da orquestra ao palco, nos ensine qualquer sorte de possibilidades para além da desconstrução inocente que sem perceber fez o Condutor da (ORSSE). Então não bastava entender que ao público ali sentado, com palmas em riste, não lhes importava saber se era erudito ou popular? Ou de quando é preciso entender que a linha que separa os significados é tão tangente, é tão rasa que nos mergulha em teorias, em percepções que nadam dizem sobre a qualidade da música executada. Não acredito,ou acredito mais que tudo que o Concerto em questão foi o mais musical, o mais denso, o mais transparentemente apreciado. E nisso não estou colocando minha excitação pessoal, porque não teria palavras para descrever quão bom foi Escutar o ponteio da (ORSSE), quanta qualidade e doçura encontrei na mudança de dinâmica, no som milimetricamente agradável e não estourado quando o Ponteio se fazia forte. A condução que o levou para um movimento lento e expressivo, para uma reflexão sintética de que é preciso resgatarmos de uma vez nossa música, tragá-la para fora do limbo ao qual gerações de brasileiros as impuseram. E então espero o Choros nº 10 do Villa Lobos como quem anseia encontrar o paraíso.

Embora eu discorde veemente de quando afirmou o Maestro Guilherme Manis sobre a Gonzaguiana do Cyro Pereira ser em tese melódica uma distorção da realidade pragmática buscada nas melodias do Luiz Gonzaga, como bem faz a Rede Globo de produções toda vez que retrata a nós nordestinos de maneira pouco real, isso não corrompeu o fato de que ontem ele esteve tão agradável e acessível. Que os aplausos arrancados dela, a colocava como superior ao Arranjo também sobre temas do Gonzaga do mestre Duda. A gonzaguiana que já foi tão bem executada no Teatro Tobias Barreto pela Orquestra sinfônica de Itabaiana sob a Regência do Maestro Angelo Rafael, conseguiu superar-se em termos de compreensão. Existia um lirismo que ia além da prosódia de nosso sotaque e quando voltou ao palco para um bis, foi belo como escutá-la pela primeira vez. E ainda que muitos partidários coloquem-se a ranger os dentes e se contorcer tentando entender: Sim, o violino de gravata deve parabenizar o maestro Guilherme Mannis por ter saído ao menos por uma noite da escuridão parcial de seus concertos enfadonhos e sem sentido de serem postos. Pude apreciá-lo e acreditar que mais noites como essas deveriam ser oportunizadas. Foi uma condução envolvente, limpa, e tão apreciável que ousaria ficar ali sentado por mais umas duas horas.

Abro ainda um parênteses enorme para congratular toda a orquestra, para que entendam que as críticas aqui colocadas não é um ataque pessoal e desonesto, muito menos se pretende em descaracterizar a importância do esforço que sei que imprimem em suas vidas como músicos. Não existe razão em creditar lendas a meu respeito: não somos amigos e nem menos tenho pretensões em sê-lo, o que não exclui minha admiração e o respeito pelo trabalho de cada um. As aspirações, as dores, as contemplações. Mas que é necessário que se impulsione os voos para além.Que digamos somente aquilo que nos toca como ouvintes, e assim deve ser a recepção da música.Com a alma. Estendo as felicitações em especial aos metais que se contrário da Suite Aquática do handel no último concerto, ontem me arrebatou com o vigor e a segurança do som que explodiu por toda a sala e nos deu um saboroso Batuque. Fato esse que me deixou exultante já que o esperei ouvir com reservas e me surpreendeu da maneira mais vital possível.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Somos muito mais que Villa Lobos

Cláudio Santoro
 Não posso imaginar se é mera casualidade ou se Deus tem ouvido as preces do Violino de Gravata (ainda que pra isso tenha que sacrificar sem aviso previo o  Schubert e sua  Sinfonia nº5, D.485, em si bemol maior) . Fato é que finalmente e mesmo que de maneira ainda não verdadeiramente identitária, dia 05.10.2012 poderemos prestigiar no palco do Teatro Atheneu  concerto da Série Laranjeiras V, que tem mais sobre brasilidade que qualquer outro programa nesse sentido já executado pela Orquestra Sinfônica de Sergipe (ORSSE). Fico exultante. Fico temeroso e tão abobalhadamente excitado com a ideia de ver num único concerto referências musicais de três grandes compositores brasileiros: Cláudio Santoro, Luiz Gonzaga (ainda que sejam arranjos e temas sinfônicos trabalhados em cima de suas melhores , importante e mais populares melodias) e por fim o Oscar Lorenzo Fernandez.

Três perspectivas distintas e tão unilateralmente semelhantes. Trazem em si a essência da cultura e do respirar tipicamente brasileiros. Representados e tão bem representados de maneira erudita como uma maneira única de existir em meio a tanta exportação. E repito, não que não seja valido, não que seja menos honroso ou meritocrático executarmos em nossos programas compositores consagrados. Mas está mais que na hora de conhecermos, de dessenterarmos nossos grandes compositores e fazer-se saber que somos muito mais que o genial Heitor Villa Lobos. 

Mestre Gonzagão
Esse gesto da (ORSSE) é só um passo importante para a desconstrução de uma formação musical que não privilegia nossa memória, e embora nesse espaço eu desejasse dar oportunidade e menção ao concerto duplo para flauta e orquestra do Franz Doppler, não o tenho como; diante do contesto em que foi posto. Poderia inclusive passar sem ele para que o concerto fosse de fato um esplendor brasileiro. Vale-se apenas da feliz possibilidade de vermos mais um nipe da orquestra sendo testado, e ouso me entusiasmar e esperar por ele com ânimo. 

Oscar Lorenzo Fernadez
Dentre tantas coisas que poderiam também ser ditas, me atenho ao convite feliz para que os leitores deste espaço não só lotem as cadeiras do Atheneu e se deleitem com as propostas melódicas e harmônicas, como também os incito a que convidem amigos, familiares e divulguem esse espaço de execução dos compositores Brasileiros. Ainda que não seja necessário fazê-lo. 
 Acredito que um dos três compositores citados acima levará sozinho a noite toda. E se não for assim, é porque o destino quer que rasguemos a folha e a escrevamos do começo.

SÉRIE LARANJEIRAS V - Centenário de Luiz Gonzaga
05 de outubro de 2012,20h30
Teatro Atheneu
Ingressos R$20 e R$10

Guilherme MANNIS, regente 
Érica RODRIGUES, flauta 
Luiz FERNANDO BARBOSA Jr., flauta 
Albert Franz DOPPLER  (1821-1883)
Concerto para duas flautas em ré menor
Oscar Lorenzo -FERNANDEZ  (1897 - 1948)
Batuque
Claudio SANTORO (1919-1989) 
Ponteio

José Ursicino da SILVA , Maestro "Duda" (1935)
Tributo ao "Rei do Baião"
Cyro PEREIRA (1929-2011)
Gonzaguiana