terça-feira, 26 de novembro de 2013

Concerto inaugural da Orquestra Sinfônica do Conservatório de música de Sergipe

CMS
Há muitas coisas que vão deixando saudosismo na gente. Uma delas é vagar pelos corredores, subir correndo afoito imensas escadas ou jogar RPG  no porão que ligava a sala de bateria à sala de concertos do Conservatório de música de Sergipe. Ou rememorar o tempo em que mesmo de maneira deficiente, o CMS tinha uma grade de estudo minimamente coerente que em meio a tantas faltas de acesso, permitia ao aluno ter acesso a praticas de conjunto.

Pude viver apenas o finzinho desde tempo, quando ingressei como aluno de violino do professor Rabelo e depois da Ana Guitã no ano de 2003, e que justo nesse período, paralelamente ao meu maior entusiasmos com as piscinas conheci a beleza do agrupamento orquestral no famoso grupo de alunos do professor Wolney Monte santo e Teresa Cristina. Do coral do professor Roberval Max...  O grupo era pequeno, as condições tão pouco favoráveis, não ensaiávamos não na sala de concertos que estava interditada e sim na sala do 1º andar Henrique Souza, mas o carinho com a qual nos dirigíamos a ela nos faz tomar como gostoso o nome. Orquestrinha. E orgulhosamente dela saíram  muitos que hoje fazem parte dos que atuam como profissionais em Sergipe.

Anos a fio sem que o CMS fosse visto como instrumento realmente importante de difusão musical e depois de tantas indiferenças, reclamadas inclusive por esta gravata; anos de reforma e descaso em termos de educação musical, o CMS teve retomada suas atividades meados deste ano. E tendo como professor de violino da casa e idealizador da Orquestra Sinfônica do CMS o Paranaense Márcio Rodrigues, essa quinta-feira, 28-11-2013 às 19:00hs, a instituição receberá alunos, familiares, professores, curiosos e demais segmentos da vida aracajuana para seu concerto inaugural. Com caráter estritamente acadêmico e repertório que passeia desde Mourão do compositor brasileiro Guerra Peixe, até  cânones como A primavera do Vivaldi e Jesus Alegria dos Homens de Bach, o concerto se pretende como uma apresentação inicial de proposta que deve ser apoiada e principalmente vigorada por todos os que pensam a música como segmento de base educativa. 

Pequena nota sobre o blog Biografias Sinfônicas

Cavucando coisas nesta madrugada insone, achei curioso o aparecimento de um blog que se dedique a dissertar de maneira biográfica sobre a vida de alguns vultos da música. Em parte os biografados são maestros ou músicos sinfônicos, em outra parte, músicos da Orquestra de Sergipe ou convidados que passaram pelos palcos sergipanos a cargo da associação com a orquestra estatal. O que me será muito útil no sentido de facilitar minhas pesquisas (ainda que isso seja antagônico ao que afirmarei no próximo parágrafo). 

O blog se chama Biografias sinfônicas e pode ser lido aqui. Não á autor descrito e muito menos é clara a linha pela qual se pretende este espaço. E ainda que pareça engraçado eu me importar em escrever sobre algo que não me interessa em nada e pra nada me serve, por desencargo de consciência fica a dica, vai que seja de utilidade pública... 

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Para viver com música!

Aprendi aos poucos com uma amiga de saltos a importância de ir na contra mão das datas comemorativas. Não como aversão e sim como parte de preservar a verdade da celebração, que muitas das vezes é solitária. Embora isso, não há como não refletir hoje sobre a comemoração que também impulsa muito do que e este espaço. O ser músico.

Tive a grata sorte de crescer num lar que inspirava arte e música. Sempre fui desde sempre incentivado a vê-la como uma manifestação da alma; nem sempre é assim. Lamentável sentir que há muito de preconceito ainda hoje, que há muito de descrença sobre a possibilidade de ser um músico e ser fruto do que a sua arte pode lhe proporcionar. E é entendível em parte. Estamos inserido numa cultura nilista que engatinha a passos trôpegos por firmar a música, a dança, a pintura, a literatura como carreiras profissionais. E sim, é preciso de regulamentação, é preciso de educação combativa e formadora de opinião. 

O ser músico é também uma pauta ideológica que deveria ser entendida desde a base. Sem leis, sem luta, não há a manutenção de uma carreira justa e coerente com não somente a demanda de trabalho em termos de inserção no mercado como também o respeito à vida útil de um profissional da música. Nem sempre esses dois aspectos são valorizados, e o músico das nossas realidades padece pelo mal de ter que ser mil homens para mil eventos como fonte de subsistência. Essa linha tênue entre fazer o que por amor o absorve e ser absorvido pela necessidade de se manter inserido dentro do que se ama fazer, me inquieta sempre. 

Para quem entende o seguir tocando como uma escolha aventureira e rebelde, não o é. É primeiro uma necessidade da alma, uma necessidade de expressão, e isso em nada implica ousadia. O músico, assim como o artista de outras veias, nasce para o que é. Seguir abrindo centelhas em meio a escuridão é mais que uma atitude de protesto, é como a necessidade da luta. A necessidade de que todos os olhos do mundo apontem na direção de sua arte e reconheça a força, o sangue, o suor que lapida as arestas e se transborda em harmonia quando lá fora, fora de nossos corpos, imperceptivelmente tudo parece vago e os sons nos arranca para dentro daquilo que desconheço em forma, mas alumbra minhas possibilidades de voo em melodias feitas apenas para mim. Apenas para os que conseguem se fazer escolhidos por essa teia misteriosa que nos enreda e nos permite ser.

Faz alguns anos e aprendi nas classes de literatura portuguesa do meu saudoso mestre Celso Donizete Cruz que a música coexiste e se perdura em muitas das representações poéticas a que temos acessos como literatura. E escutando o Chico em seu choro bandido quando indica que no principio fez-se das tripas a primeira lira que animou todos os sons, os ensinamentos de Celso me chegam como o conforto de poder buscar esta sinestesia ao menos nos versos, no silêncio métrico e retórico que pode emanar das palavras. É a forma com a qual abraço a todos sem exceção, que decidiram ou se permitiram ser guiados pela palavra, pela melodia, pela harmonia das dores e alegrias intimas a cada dia que vem embalada pelo fazer música:

 Miré a tus manos,
encontré una profunda delicadeza
y combinada con ella
también estaba esa fuerza tuya,
en ellas vi pasión y también creación.

En un instante el pensamiento soñó
en que esas manos
tomaran mi corazón como instrumento...
lo hicieran vibrar y con ello
emitiera sonidos llenos de cariño...

Afina entonces las cuerdas de mi vida
haz con ella canciones para los dos
hazme útil en tus sinfonías
y rompe con ello el silencio de mi corazón.


Andrés Guzmán C (enero 19,  2007)

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Minha terra tem palmeiras onde canta os sabiás e as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá!

A poesia cotidiana anda esquecida na memória de muitos. O Brasil ainda não conseguiu dissociar através da educação a relação entre arte e identidade sexual. Se na Argentina adolescentes leem Borges, no Brasil, salvo exceções, se um menino se atreve a escancarar sua predileção à leitura poética,  logo lhe conferem um estigma. Não tem sido muito diferente na música, e aqui falo de memorialismo. Certamente o Brasil ainda insiste em não conhecer o Brasil.

O verso saudoso do titulo deste post tudo tem a ver com a vontade de escutar executada essa noite a Bachiana brasileira n. 4. Embora já a tenha visto anteriormente sendo executada pela Orquestra Sinfônica de Sergipe (ORSSE) e provavelmente pelo quase mesmo grupo, o cenário desta vez me parece muito mais propicio ao lirismo melódico envolto no preludio da obra em questão. A série Sons da Catedral é sem dúvidas a série mais bem acertada pela direção do Maestro Paulista e diretor artístico da ORSSE Guilherme Mannis. É o espaço que mais agrupa diferentes segmentos da sociedade sergipana que não necessariamente está associada à vida pratica da música erudita, ou é o público cativo afeito a esse tipo de música. São frequentadores das missas, passantes sem rumo pelos arredores da Catedral metropolitana , estudantes, curiosos... Mas principalmente é nessa série de Concertos em que a população com menos acesso de trânsito entre as salas de concerto pode se dirigir de maneira gratuita e centralizada até a arte. 

Para além do espaço físico da Catedral que é encantador independente do credo ou religião, ou da possibilidade de acesso irrestrito, a série Sons da Catedral é privilegiada justamente pela variedade musical de seus programas, que se apresentam sempre dentro da perspectiva mais didática de dialogar com a plateia tantas vezes ainda de ouvidos crus. Por ela passaram desde o Concerto para trompa n. 3 de Mozart, o tão conhecido e enfadonho (mais muito preterido pela plateia) Bolero de Ravel, Abertura Carnaval Romano do Hector Berlioz que pude aplaudir com justiça, até também derrocadas como a Suite Aquática do Häendel ou as Antigas danças e árias para Alaúde. Certamente essa série funciona como um espaço de formação musical e também de resgate memorialista ao que no principio tinha a própria igreja como espaço de manutenção e impulsão à criação artística musical. A noite que será conduzida pela Batuta do maestro Assistente da Sinfônica, Daniel Nery e contará ainda com a execução solística  do Spalla Márcio Rodrigues e trará na programação além do Villa Lobos, também um Cantabile para violino e Orquestra Eliana de La Torre e a já conhecida obra Il barbiere di Siviglia (O barbeiro de Sevilla) de Giácomo Rossini





Sons da Catedral III

07 de novembro de 2013
Sons da Catedral III - Catedral Metropolitana de Aracaju
07, quinta-feira, 19h
Daniel NERY, regente
Márcio RODRIGUES, violino 
Gioacchino ROSSINI (1792-1868)
Abertura da ópera O Barbeiro de Sevilha 
Eliana de LATORRE  (1953)
Cantabile, para violino e orquestra
Heitor VILLA-LOBOS (1887-1959)
Bachianas Brasilieras n. 4
1.      

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A universalidade da morte é indubitável. Feliz día de los muertos!

Hoje cedo despertei acossado por duas representações da morte. A primeira é justamente o fato de que aqui no Perú (onde tenho me escondido) a celebração aos mortos é algo intrínseco à cultura Andina. O colorido, a vivacidade  com a qual é lembrado cada ente já destituído de espirito e massa me faz rir em certos pontos, e não pejorativamente, mas a fim de entender como é presente a memória na vida dos que ainda vivem. Fui convidado a visitar um cemitério e beber junto a uns amigos e seu pai (falecido) em questão. Declinei do convite por achar demasiado cataclismático para minha primeira vez. 

A segunda delas delas foi o fato de receber uma mensagem de minha prima contando feliz os progressos violinísticos e discorrendo também sobre  os desafios de ensaiar uma peça do Saint-Säens.
Achei curioso demais o fato correlacionado de que a morte hoje tem me perseguido. Por que justamente a peça em questão é a Danse Macabre, que fazia tempo estava esquecida em minha play list mas que hoje veio a tona. Justo porque vejo beleza na morte desde sempre, como se fosse uma efêmera amiga repousando sobre o peito vivo de cada um. E passeando por blogs encontrei essa justa definição da peça do Säens:

 " retrata uma tradição medieval, iconográfica, a Dança Macabra. Esta dança representa a universalidade da morte, e por conseguinte, da condição humana. Para lembrar da brevidade, beleza e importância da vida, apesar de referir-se à sua ‘contraparte’, a morte. Figurou no imaginário e na cultura medieval, em tempos da Peste Negra."

E seguindo meu apreço sobre o tema da morte, não houve como não lembrar com felicidade as palavras do sábio Chicó no leito de morte de seu melhor amigo joão Grilo, personagens icônicos da Obra maior do pernambucano Ariano Suassuna:

"Acabou-se o grilo mais inteligente do mundo, cumpriu sua sentença, encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca de nosso estranho destino sobre a terra, que de fato não tem explicação, que iguala tudo que é vivo em um só rebanho de condenados, porque tudo que é vivo... morre."

E aproveito para deixar como indicação um vídeo animado muito interessante sobre o tema da Danse Macabre. Que passem bem o dia dos mortos, das bruxas, do Saci...





O auto da compadecida

domingo, 8 de setembro de 2013

O desserviço jornalistico contra a cultura sergipana, ou de quando devo me perguntar o que enfim é cultura para alguém que só enxerga com os olhos musicais e esquece o mundo de possibilidades culturais.

Quase sempre me enfado ao zapear pelos blogs ou colunas de arte musical dos principais jornais aqui no Brasil. O fato é que quase sempre escrevem em duas perspectivas especificas e que não se relacionam: Ou se escreve sobre música pura e aplicada (quase sempre de maneira mais apaixonada do que devíamos, sim porque nisso me incluo sobre maneira) o que leva o leitor a quase sempre migrar em busca de outras perspectivas, ou  se escreve sobre a música enquanto produto cultural. O problema nesse sentido é o fato de que nem sempre os colunistas estão preparados para separar as duas coisas ou uni-las de maneira verdadeiramente politizada. 

Música e cultura não deveriam jamais andarem dissociados da discussão politica de manutenção de sua execução. E não entendo por que ainda hoje, depois do boom da informatização e do livre acesso ao compartilhamento de opiniões, algumas pessoas se neguem a pautar a discussão totalitária sobre acesso e manutenção das politicas culturais. No Brasil, a cultura,  é sem dúvida uma das áreas mais ricas de exploração e possibilidades e ainda assim por alguns setores é vista como desimportante, ou a tratam de maneira levianamente menor do que deveria. Ao ler nessa manhã de domingo a página do jornal  Estadão me deparei com o que curiosamente a principio fizeram meus olhos brilhar pelo título: A cultura de Sergipe ao alcance de todos. Meu susto foi se delineando quando vi que a noticia ao invés de conectar-me com a felicidade de possivelmente ter ali numa matéria em que a secretária de cultura do estado de Sergipe Eloisa Galdino falava sobre os rumos da nossa cultura, usou fatos antigos da Orquestra Sinfônica de Sergipe (ORSSE) para enaltecer a grandiosidade de nossa inserção no cenário nacional. 

E não haveria problema algum na condução da matéria (já que no caderno) o tema principal abordado periodicamente pelo pianista Álvaro Siviero é justamente a música erudita. O que vem como inconformidade nesse mais de um ano de atividades deste blog, é o fato de propagandear o inverídico. Falar de música orquestral é também cheio de possibilidades de um jornalismo ético e investigativo com as informações, já que elas se apresentam como dados estatísticos. Se olharmos a nossa volta saberemos que sim, e já muitas vezes dito aqui neste espaço, a ORSSE tem se colocado de maneira vistosa em muitos aspectos, e muito embora o meu desejo seja um dia ler os passos vistosos que ela vá dá como objeto cultural, ainda não é nem de longe toda a pompa e circunstância que se apresenta na matéria.

É para além de qualquer suspeita, essa me parece uma matéria sem lisura e que se coloca num tom suspeitosamente encomendado. Afinal de contas não compreendo a lógica de um entrevistador colocar tanto peso sobre perguntas que todas elas vão descambar em fatos ocorridos a quatro anos atrás, que apesar de importantes para as poucas pessoas sergipanas que se informam sobre nossa orquestra, não tem importância alguma para os que fazem a música a nível nacional. Então me pergunto o porque de a quatro anos atrás não termos tido nenhum tipo de alarde sobre a nossa turnê internacional e agora sermos tão vistosos como pauta? Ou que menos nos representa ao contrabalancear aspectos políticos na condução de todos os caminhos que se desenvolvem desde a organização de um programa até mesmo a finalização do processo com o concerto físico. Porque continuo a desacreditar que intercâmbios com nomes de peso sejam mera concessão de prestigio e respeito e mais tem a ver com o peso da moeda no mercado musical. 

A quem interessar tirar as próprias conclusões... Saboreie a noticia na integra aqui .

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Ou de quando os gatos saem os ratos fazem a festa!

Em mais uma divagação com uma das violinos de salto, acabamos por nos dar conta de que destrutivamente acabei por me ausentar de minha terra justo no momento em que mais atrativos parecem ser os concertos da Orquestra Sinfônica de Sergipe (ORSSE). Não tomo como aviso prévio de que mais parece conchavo esperando minha ausência, assim como matematicamente imagino quão bom seria se cada sergipano pudesse aproveitar centavo por centavo o que nossa Orquestra tem a nos dar.

De modo que encurtarei esse post ultra contraceptivo de baixo orçamento ideológico para dizer que para além de minha obvia afeição pelo Gustav Mahler  lamento não poder escutá-lo em sua 4ª sinfonia como forma de afugentar de meus dias as 9 sinfonias do Beethoven apresentas pela Orquestra sinfônica de Arequipa. 

" A apresentação que faz parte da série Laranjeiras, contará com a regência do maestro convidado Luiz Fernando Malheiro e solo da soprano Maíra Lautert, e terá como peça principal a ‘4º Sinfonia’, do compositor austríaco Gustav Mahler.
A peça escolhida para esta apresentação foi composta entre 1893 e 1896, mas estreou somente em 1901. Curiosamente, a obra começou a ser escrita pelo quarto movimento, originalmente concebido como passagens na terceira sinfonia. Mahler, entretanto optou por escrever uma nova sinfonia tomando por base essa composição, acrescentando-lhe as três partes iniciais.
O quarto movimento é o ponto focal da sinfonia. Nele aparece a soprano solista, cantando ‘Das himmlische Leben’ (A Vida no Paraíso) - poema popular alemão, de autoria desconhecida, parte do ciclo. Este poema representa o canto de uma criança que morreu e descreve o paraíso, com suas comidas deliciosas e abundantes, seus personagens e afazeres, sua música perfeita. As estrofes são intercaladas por breves interlúdios orquestrais, onde se sobressai o guizo do primeiro movimento, fazendo do concerto como um todo, uma experiência única e inesquecível." 
PROGRAMA:


Laranjeiras III

06 de setembro de 2013
Laranjeiras III – Teatro Atheneu
06, sexta-feira, 20h30


LUIZ FERNANDO MALHEIRO, regente convidado
MAÍRA LAUTERT, soprano

Gustav MAHLER
Sinfonia nº4

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Cumprir um ano de atividades a serviço do que acredito é tão complexo quanto a masturbação psicológica refutada nos discursos niilistas!

Imaginei começar esse post parabenizando-me pela paciência de um ano inteiro de sensações animosamente violentas, ou escrever algo estilisticamente compatível com as minhas preferências musicais. Nada disso surtiria mais efeito do que de maneira clara expor minha felicidade e desagrados  frente ao que se tornou este espaço. Há exatos 365 dias atrás, no dia 09 de Agosto de 2012 fui obrigado por mim mesmo a abrir este espaço. Ela já vinha sendo desenhado desde que invejosamente comecei a buscar parceiros de gravata para escrevermos um blog sobre música e duelar acirradamente com o blog violinosdesalto. Nunca encontrei os parceiros, mas encontrei na revolta de assistir um concerto completamente sem sentido inspirados em quatro poemas do escritor Sergipano Tobias Barreto, a possibilidade de dizer o que penso sobre como se constrói os espaços da música erudita em Sergipe. 

Intitulado como " Há quatro momentos para o enterro da poesia", o post inaugural era para soar apenas como um desabafo e mostrar à direção da nossa orquestra estatal ORSSE que existe crítica para além da obviedade. E que nem todo o louro que propagandeavam eram noticias factíveis.  O post reverberou e encoleirou a muitos, desde os mais atrelados ao sistema, aos seguidores fieis que pouco entendiam sobre manipulação à francesa. Fato é que a partir daí, o blog tomou outro rumo e de maneira natural se tornou espaço de revindicação e divulgação das realizações nesse segmento de música não só em Sergipe, como em todo o país. O mais encantador é perceber a pluralidade com a qual me disponho a encarar este espaço físico, que é antes de tudo ideológico.

Escrever é como um exercício metafisico para mim, falar de algo que amo como a música transpassa qualquer perspectiva de associação ou partidarismo. O partido do Violino de Gravata é a música e me alegro que ainda que de maneira rasteira, muito já o tenham percebido. Afinal, os post passeiam antes de tudo sobre as minhas simples impressões do mundo musical no intento de partilhar informação e transpor a sensação frente as diversidades aplicativas da música. Sergipe é grande musicalmente e vem passando por diferentes transformações nesse sentido, e ao entender esse balanço o este blog se coloca como espaço não apenas de divulgação, mas de impulsão das correntes que por aqui se estabelecem. A crítica é necessáriamente oportuna, seja para levantar ou derrubar movimentos, e sim, a isso me proponho quando julgo necessário.

O que será que eu sei? Não sei nada. Como bem aprendi com o poeta, é como se num segundo já estivesse sem uma gota de sangue, mal podendo respirar ou sobreviver. De modo que não sei e nem imagino os rumos que isso tudo vai tomar, nem mais desejo nada, e nem mais idealizo algo além do que já vejo se colocar como mudança. Aproveito para agradecer a todos os que seguem este espaço de maneira sincera e opinativa, a todos os que dedicam um pouco do tempo para analisar com detalhamento as informações aqui partilhadas, a todos que anonimamente o promovem, leem, maldizem, se alegram, a todos os que desejei entrevistar mas ficaram no meio do caminho por motivos que respeito embora não os entenda... À todos que acreditam que com  luta se pode transformar os campos de centeio.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Intrigante ver a mudança de discurso e a defesa de um programa que mescle popular com o erudito para agradar o público, ou de quando de uns tempos pra cá abrir as pernas (no sentido literal, claro, já que ainda mantenho uma relação pudica com as palavras) não requer o menor pudor!

Todo esse ácido para dizer que me sinto feliz (embora discorde ideologicamente das rupturas abruptamente escancaradas que menos tem a ver com intenções reais de popularizar-se por entender a necessidade de que a arte deva emanar do povo para o povo) de que haja uma tentativa interessante de levar à orquestra ao ponto de onde ela partiu. E quando digo isso, não é de longe uma defesa escancarada postulada sobre a égide da antiga direção artística da Orquestra Sinfônica de Sergipe ORSSE, não! No entanto hemos de convir que nos últimos anos a nossa orquestra tenha declinado em termos de popularidade. Passou da casa cheia ao mezanino às moscas e isso objetivamente reflete não a qualidade técnica do conjunto de músicos e maestro, não é isso que se deve questionar nessa perspectiva, mas sim, a maturidade artística de entender a necessidade local de cada povoamento e suas referências de arte.

Já postulei inúmeras vezes que não defendo o afastamento dos cânones musicais dos programas mensais, nem de longe seria sensato já que a pluralidade de compositores e estilos nos empurra pragmaticamente para a audição de potências como Mahler, Mozart, Dvorak, Villa Lobos, Beethoven, Vivaldi, Saint Saens e é sem dúvidas um deleite escutá-los de perto, de vê-los reinterpretados debaixo de nossa arena Tobiense. O que tange minhas predileções e que se firma evidente diante de todos aqueles que não injustamente se oportunizam refletir, é o fato de que o público sergipano aos poucos vem amadurecendo suas escolhas, defendendo de maneira mais intensa a construção de uma nova realidade que se perdeu quando o Lamentavelmente o Maestro Guilherme Mannis assumiu a direção artística da ORSSE e a transformou num infinito particular, infinitamente alheio a tudo que fora construído para melhorar a compreensão do público sobre o acercamento possível através de um tipo de música que nos retratasse ,de uma arte que por muito tempo em Sergipe se restringiu às aristocracias falidas e que finalmente abria espaço para que pobres, leigos, endinheirados, brancos, viados e putas pudessem compartir o mesmo espaço de audição e tivesse a acesso a um tipo de identificação que ultrapassava as barreiras do que pode ou não pode. Porque a música era o único elo, e universalmente os colocava como um só. 

Entendo a diversidade de condução, compreendo sem injustiças a importância de afastar-se de sombras do que é passado e fazer-se novo.  E em sendo o maestro Guilherme Mannis não mudaria mesmo em  nada em minha perspectiva de condução. Porque estou arraigado ao que acredito e vou até o fim defendendo o que julgo ser correto para mim ainda que todos a minha volta me mostre os equívocos. É parte do que somos defender o que acreditamos, é quando nos destacamos da multidão custe o que custar.  Mas existe nessa possibilidade um grande abismo, e é justamente nele que vejo mergulhado as escolhas administrativas que toma para si nosso maestro. E o abismo se representa na incapacidade de reconhecer que somos autônomos para perceber as mudanças forçadas, os discursos que não se sustentam sozinhos diante das predileções diretivas de um programa a outro, ou de que não conseguimos fazer sozinhos uma retrospectiva estética e perceber que sim, avançamos, mas não avançamos com a alma, não avançamos de maneira a naturalizar o espaço significativo que pode ter a música popular dentro de um espaço erudito. E justamente por isso me paraliso toda vez em que nos últimos meses a fio, mesmo à distância do Brasil, vejo muito mais defesas discursivas do que mudanças pragmáticas. Louvo e parabenizo os espaços que vem se colocando, até por entendê-los (sem arrogância) como pautas de reivindicação, e repudio amargamente a ideologia em trânsito, como que perdida na própria nulidade de não ir até o fim com o que deveria ser marca única de um projeto diretivo. 

A quem puder lembrar, Villa Lobos foi execrado por inúmeros segmentos por sua associação à francesa com o governo getulista que lhe provia de promoção em troca de escancaradas associações publicitárias ao seu governo. Oportunismo, burrice, egoismo ou pobreza ideológica? Certamente. Mas também a possibilidade de o termos como um dos maiores, quiça o maior da música erudita em toda a América. Karajan ou Bernstain: deliciosamente despóticos, eu sei. Tangíveis a qualquer consciência dotada de humanidade, e ainda assim, não há que vá de encontro ao fato de que havia sensibilidade estética em suas durezas de espirito. E que vê-los conduzir é como parar no tempo e anular qualquer informação de bastidor para vivenciar no palco a alma despida de pudor. O que há de comum em tudo isso é justamente o feito de não abrir mão de si para construir-se como queria o outro. Porque existe a possibilidade de não mudarmos nossas perspectivas, quando assumimos com tranquilidade a qualidade essencial de ser aquilo que acreditamos ser possível até o fim. E quem em percebendo a mudança, ela venha tranquila como um processo e não imposta como a vejo em programas como o desta quinta-feira 8 de Agosto de 2013 :

Serie Mangabeiras III
Brasil Sinfônico
Leonardo DAVID, regente convidado
Marco PEREIRA, violão
Marco PEREIRA
Violão Vadio
Suíte das Águas
Círculo dos amantes
Jean SIBELIUS
Sinfonia nº2, op.43, em ré maior
Quando:
08 de agosto de 2013, 20h30
Onde:
Teatro Tobias Barreto
Quanto:
R$ 20 (inteira)
R$ 10 (meia)



quarta-feira, 24 de julho de 2013

Embora a melodia seja sentimental e o vídeo saudosamente tendencioso , não queria falar apenas do Villa Lobos e sim de como o sopro que brota do chão de Itabaiana me fascina como se fosse a primeira vez que os escutei!

E não entendia absolutamente nada de musicalidade. Julgava o bom e o ruim pela perspectiva apenas da afinidade musical. Quase que em geral o conjunto dos sopros era o naipe que menos me agradava em qualquer agrupamento e talvez por isso mesmo nunca fui um apreciador das bandas de fanfarra. Meus ouvidos me empurravam quase sempre para escolhas de repertório que explorassem mais as cordas e sobre maneira a percussão.

A obviedade em alguns casos nos manda que sejamos atentos às novas possibilidades e que sejamos menos absolutistas em se indispor com um ou outro gênero especifico. O que de certa forma me levou a observar com mais atenção o conjunto de sopros de uma orquestra. Por fim, e aos poucos fui me aproximando da realidade deles e tentando conhecer um pouco mais, fato esse que inclusive me faz sentir inveja diante da minha incapacidade respiratória para aventura-me em aprender a tocar Oboé

A cada dia me impressiona a qualidade musical dos sopros na cidade de Itabaiana (agreste sergipano), e não falo restritivamente em relação a atuação deles dentro de uma orquestra, ao contrário, falo sobre a herança histórica que vem se desenvolvendo nesse sentido na cidade. Não sem propósito, Itabaiana abriga a instituição musical mais antiga no pais em atividades ininterruptas, a Filarmônica Nossa Senhora da Conceição (FNSC). São 268 anos de trabalho e incentivo à manutenção da arte musical, que começou como serviços sacros e que hoje é referência em ensino e promoção de música para jovens e que abriga a Orquestra Sinfônica de Itabaiana (OSI). Como qualquer cidadezinha do interior, a música em Itabaiana se desenvolve conjunturalmente a partir de uma pequena banda de música, as chamadas fanfarras. É sem dúvida um expoente na formação dos músicos mais práticos que acadêmicos. E esse fato tem lá suas vantagens. 

Se por um lado crescer e morrer enfurnado dentro de uma agremiação dessa natureza atavia as possibilidades artísticas dos músicos, que muitas das vezes, na maioria delas, não conseguem se sobrepor a esse tipo de conjunto e ir além profissionalmente (sobre maneira pela característica cultural de que fazer parte de de uma banda como essa tem vida útil; assim como sua projeção como musicista), do outro, é quase certa a versatilidade com que a percepção musical se projeta para cada um dos músicos. É como se a teoria fosse estritamente cognitiva e que os manuais de nada servem sem o apuro de compreender de maneira empírica a dinâmica de cada melodia. Essa é a grande diferença entre os músicos de banda de fanfarra e muito músicos bons de formação acadêmica. Não é regra claro, mas potencialmente o primeiro grupo se sobressai sonoramente em relação ao segundo me fazendo imaginar que se todos eles tivessem o mesmo acesso à educação, o esplendor de tê-los em grupos sinfônicos seria inigualável. 

Não é diferente em Itabaiana. Não é difícil olhar em volta e perceber o apuro que madeiras e metais itabaianenses imprimem ao longo dos anos. O que coloco como qualitativo aqui, é justamente porque em termos proporcionais, a grande maioria daqueles jovens estudantes de música nunca frequentaram uma universidade ou tiveram acesso a professores gabaritados de maneira constante. Sua formação é muito mais o desejo de desenvolver-se e fazer música. Digo com a precisão de quem esteve por perto por muitos tempo e pode observar o desprendimento comercial em sua formação. Aprendiam de maneira voluntária e também assim o executavam nos diversos grupos. Foi justamente nesse período que conheci de perto muitos músicos com talento nato, que sopravam como exercício da alma como muitas vezes vi fazerem os flautistas Bianca Paixão, Levy Lopes e Isabela Oliveira (todos na faixa dos 15 anos ou menos na época). Recordar a brincadeira genial que fizeram com o solo do Adiós nonino do Piazzolla é uma lembrança que só reverbera em bons outros momentos como a Carmen do Bizet no teatro Lourival Batista em Aracaju, ou mesmo, ficar horas a fio escutando a disparidade que existia e de certo ainda persiste entre as cordas e os sopros da OSI como quando executamos a melodia sentimental do Heitor Villa Lobos no palco do Tobias Barreto. Era um som experimental, era um grupo de estudantes recém descobrindo a música e ainda assim, parecia que músicos como o Isaac Santana, Jackson Higino, Tassio Trindade, Frederico Cunha, Márcio Paixão e Max Santana (que já foi felizmente citado aqui) ,Todos ainda muito novos, ou veteranos como Nailson Rosa e Alisson Vasco, conseguiam fazer brotar beleza de um solo que em termos de sonoridade das cordas, ficam muito a frente em termos de segurança e qualidade. 

É necessário ponderar que tudo isso é reflexo de uma tradição antiga de cultivo à música dos pequenos grupos, das fanfarras que enchiam as praças para que todos os vissem em grandeza e da herança militar de marchar em fila empunhando seus instrumentos como alerta de glória. Itabaiana é sem dúvida um polo, assim como outras tantas cidades espalhadas por Sergipe e pelo Brasil em que o poder público se isentou da responsabilidade de manter viva a cultura e que os que verdadeiramente se propõe a fazer o faz em tom de tirania ou fins lucrativos. De modo que esse post é apenas um alento no sentido de que existe grandeza no som daqueles jovens.  Um desejo sinuoso de que cada um deles possam ter a oportunidade de catapulta.




segunda-feira, 22 de julho de 2013

Será um mau presságio no Ballet Bolshoi?

Em mais um episódio polêmico na história recente do teatro Bolshoi, na Rússia, um dos violinistas mais antigos da instituição morreu depois de cair num fosso em frente ao palco, pouco antes de um ensaio da orquestra.
Viktor Sedov, 65, tocou violino em balés e óperas do teatro de Moscou durante 4 décadas até o trágico incidente, que aconteceu na terça-feira (16). 
Sedov foi levado ao hospital e morreu no dia seguinte, segundo informações do próprio Bolshoi.

O músico tocava nos segundos violinos e era um membro popular da orquestra, conhecido por seu "senso de humor e extraordinária erudição". As circunstâncias exatas da morte permanecem obscuras.
A morte de Sedov é mais uma má notícia num ano conturbado no Bolshoi. Em janeiro, Sergei Filin, diretor artístico do balé, sofreu um ataque e teve ácido jogado em seu rosto, o que o deixou quase cego.
A investigação sobre o caso levou à prisão bailarino Pavel Dmitrichenko, um dos principais do elenco da instituição, que admitiu ter sido o mentor do atentado. Além disso, outro bailarino, Nikolai Tsiskaridze, foi expulso do balé.
Teatro Bolshoi foi reaberto há dois anos
Na última semana, o diretor artístico do teatro, Anatoly Iksanov, foi demitido após 13 anos por causa de "uma situação difícil no Bolshoi", segundo informou o ministro da Cultura da Rússia, Vladimir Medinsky. 
O teatro Bolshoi foi reaberto há dois anos, com um investimento de quase Ç 500 milhões.

Fonte: www.uol.com.br 

terça-feira, 2 de julho de 2013

Concertos digitais. Essa moda deveria vingar!

Muitas vezes tenho falado neste espaço sobre a importância de difundir a música orquestral não como algo esteticamente fechado e restrito a grupos, e sim como uma possibilidade mais abrangente de contato com as camadas menos informadas sobre sua construção e efeitos. Não é fácil ser orquestra para públicos ainda não domesticados, de mesmo modo, não é fácil ser  plateia quando existe uma imensa barreira que separa o sentimento de se oportunizar conhecer aquele novo gênero musical, do sentimento de repulsa quando as formalidades ataviam a liberdade de compreensão. Em determinada oportunidade escrevi no blog Soldadinho de Chumbo que não é possível ser civilizado e liberto ao mesmo tempo, e sigo acreditando que setores como orquestras contribuam cada vez mais para esse cerceamento.

Site Universo Online
De toda sorte, ainda existem tentativas de dialogar com um público maior que o de costume, sejam por causas ideologicamente comprometidas ou comerciais, e ainda assim louvo a iniciativa do Site de notícias UOL que abre pela primeira vez espaço para essa divulgação, e firma uma parceria que me parece e desejo que assim o seja, interessante, com a Orquestra Sinfônica de São Paulo (OSESP). Juntas elas fazem nesta quarta-feira 04 de Julho a partir das 20:45,  o primeiro concerto da Série Digital. Os concertos serão transmitidos ao vivo para os espectadores da Tv uol

"Sob regência da nova-iorquina Marin Alsop, a orquestra apresenta composições de Mozart, Dvorák e Prokofiev. Confira o programa abaixo.
O concerto conta ainda com o premiado solista de violino Stefan Jackiw."
OSESP e Marin Alsop

Sem dúvidas é uma ótima oportunidade para levar à música erudita além dos muros de uma sala deaqui!
concertos, e pretensiosamente atingir a muito mais pessoas que não conseguem pagar uma entrada neste tipo de espetáculo, mas que agora já tem a possibilidade de ser tocado sem mesmo necessitar sair de casa. Ainda que não seja a mesma sensação, a mesma catarse de estar diante de um grupo sublevando a alma através da música, é um ótimo começo e vale a pena conferir o programa do concerto



quinta-feira, 27 de junho de 2013

As aparências enganam assim como também o amor e o ódio se emanam quase sempre. Ou de quando não entender que o amor à música é o único partido ofende!

Em conversa longa com Thirza Costa, uma das autoras do blog Violinos de salto e colaboradora frequente deste espaço, fui levado a  ponderar que muitas vezes ( a maioria delas, a bem da verdade) acabo sendo efetivamente opositivo ao maestro Guilher Mannis e suas escolhas como diretor artístico da Orquestra Sinfônica de Sergipe (ORSSE). Em partes as colocações de minha amiga blogueira são fundamentadas, o que segundo ela a leva a entender porque tenho mais desafetos que admiradores. Se escrevo este post é também como agradecimento pela preocupação que me dispensa e por entender que existirá sempre boas evoluções ideológicas nas oposições.

Ponto esse que tentei alertá-la para sua importância. A oposição de ideias. Já havia falado aqui em outra oportunidade que o Maestro Guilherme Mannis tinha abarcado para a nossa orquestra uma qualidade estética inigualável, e isso é motivo de orgulho, motivo de projeção para idealizações que podem se concretizar para além da forma. Nunca duvidei de seu potencial musical, assim como nunca serei injusto ao reconhecer quando um programa for fabuloso, e o faço sempre que necessário. Acho até que em certo ponto acabo dando maior visibilidade do que lhe é necessário. A questão central não é e nem será nem de longe se gosto ou desgosto. Não o conheço para além do que se apresenta e sobre essa perspectiva que escrevo sempre.


Isso tudo para apaziguar os corações dilacerados daqueles que leram a entrevista que este blog concedeu ao site Cultura Interativa no inicio desta semana e pode ser lida aqui. Ao falar sobre minha perspectiva de entender a política musical em Sergipe, não pude fazê-lo sem passear por todos os grupos que se apresentam como alternativa musical em Sergipe. Sem colocar a devida responsabilidade pelos fiascos em que se deve colocar não avançamos, e por isso a relação Estado- Maestro. Afinal, quando se assume o compromisso administrativo de estar a frente de um produto sergipano, há que ponderar que naquele setor, o maestro é o representante direto do estado. Para aqueles que entendem com dificuldades o que escrevo, ou prefere se eximir a uma analise menos apaixonada e mais investigativa, explico claramente que a associação é inevitável e não maledicente, que não culpo o maestro, e sim que a culpa é todinha da secretária de cultura (SECULT) . Todinha.

domingo, 23 de junho de 2013

No momento que eu acordo, antes de fazer minha maquiagem eu faço uma pequena prece para você, ou de quando isso nem de longe é uma confissão homessexual, mas desejo de que continues a escrever com analogias gastronômicas!

E não porque eu seja um glutão, não preciso descer aqui a miudezas de detalhes para ressaltar que minha fome pendeu para outras naturezas. O fato é que um hiato separa essa matéria da última e não é justo comigo mesmo que sempre cobro dinamismo e regularidade em blogs amigos. O fato é que retirar-se é um exercício reflexivo de por onde andar. Lamento o fato de não estar em Aracaju por esse tempo junino. Não é difícil imaginar que os concertos alusivos a nossa principal festa tenham sido memoráveis. Os ventos sopraram detalhes eufóricos de novos tempo musicais em Sergipe e disso eu desacredito embora aproveite o espaço para parabenizar a direção artística da Orquestra Sinfônica de Sergipe (ORSSE) por ter oportunizado esses dois espaços, e embora eu lamente de verdade que o Maestro Mannis não tenha sido suficiente inteligente de perceber que reger o Cataluzes e o Brasileiríssimo seria em si um bom trunfo para mudar junto ao público, seu apático senso populista. 

O que me traz aqui a bem da verdade é justamente falar das surpresas que nos acomete os dias frios. Sim, temperaturas baixas aqui embaixo do vulcão Misti, e pouca paciência para zapear canais televisivos ou ficar perambulando na internet. Qual foi minha surpresa ao ler no blog Violinos de salto  uma matéria pra lá de interessante sobre eruditismo clássico que sufoca o erudito popular e me peguei por horas a fio relendo o texto para tentar sublevar meu entendimento acerca da ponte que genialmente as autoras do blog fizeram com a educação gastronômica para turistas. Associando o fato de que é preciso ir do mais simples ao mais complexo na seleção de repertório orquestral, assim como um turista que se encontra em outro sitio deva começar a comer algo de fácil degustação para apenas depois ir sendo apresentado aos sabores típicos regionais (que podem ser um pouco mais pesados e incompreensíveis a principio). 

Encantadora a forma fácil com que a matéria desenha esse paralelo gastronômico musical afim de mediar um debate tão inerente entre as camadas acadêmicas  e tão velado entre os que passeiam na corda bamba de fazer valer o que seja amplamente coletivo. E esse é daqueles posts que não se alongam, mais que desvenda os olhos da cegueira. Aplaudo a iniciativa de escrever um blog sobre música de maneira tão leve e contemplativa. Em mesma proporção louvo o fato de que estes saltos em questão estejam nessa luta de difundir ideias e noticias musicais a já quatro anos aqui em nosso estado de Sergipe. 

sexta-feira, 31 de maio de 2013

É a luta de toda uma vida ir de encontro ao marasmo diretivo, mas que bom que existe lucidez para afastar de nós o tempo que parece infindo. Que esse seja apenas um exemplo de que toda luta vinga, e de que músicos e música devem ser respeitados e temidos. Ah! se aí em Sergipe fosse assim...

Tudo começou assim:   " Os problemas com a Orquestra Sinfônica do Recife (OSR) se agravam. Depois de enviarem na quarta-feira um documento pedindo a saída do maestro Osman Gioia do comando, os músicos viram uma apresentação, que ia acontecer no mesmo dia no Teatro de Santa Isabel, ser cancelada repentinamente, uma hora e meia antes do horário de subir ao palco.
Maestro Osman Gioia
Por meio do seu Facebook, o violinista Dadá Malheiros afirmou que o cancelamento se deu por determinação de Gioia. “Nem mesmo em 13 anos de sua permanência entre nós, (Gioia) defendeu o nosso tão necessário e urgente Plano de Cargos, Carreiras e Salários. Pelo contrário, sempre atrapalhou”, ainda critica o violinista.
A cobrança para a criação de um plano de cargos e carreiras, exigência antiga dos músicos que finalmente virou projeto enviado para a Câmara Municipal em fevereiro deste ano, ainda não foi votada. A insatisfação com as condições atuais de trabalho atingiram um novo nível nesta semana, quando foi entregue à Prefeitura do Recife e à Secretaria de Cultura um documento assinado por 49 dos 75 integrantes da orquestra exigindo a saída de Gioia."

Essa é de certo a parte que mais me anima. Não é difícil imaginar as dificuldades ancestrais que os que fazem arte, e nesse ponto figura entre os mais emblemáticos os músicos, enfrentam diariamente para conseguir espaço de reconhecimento e respeito. No Brasil e não diferente de muitos outros países, mesmo os mais ricos e "culturalmente" desenvolvidos, essa celeuma toda se arrasta e vai continuar assim sempre que os músicos decidirem não entender a força de seus gestos, de sua voz e de seus instrumentos. Já havia falado sobre reinvindicação antes neste espaço, era um porvir, um sinal de que existia uma faísca de sanidade e amor próprio. Naquele caso não foram bem sucedidos os músicos ainda que a vejo como vanguardista e promissora aí no nordeste, de modo que Fico feliz não pela demissão do maestro Osman Gioia, já que é também um fazedor de arte e importante maestro no cenário nacional e que tanto contribuiu para a  Orquestra Sinfônica do Recife (OSR). Mas fico exultante de perceber que ainda que de maneira vagarosa, os que são agentes diretos e principais dentro de uma orquestra, tenham começado a entender a possibilidade de mudança através da reinvindicação. Tanto o foi que essa história termina felizmente assim:

"Depois do abaixo-assinado pedido a retirada de Osman Gioia do cargo de regente da Orquestra Sinfônica do Recife (OSR), a secretária de Cultura da gestão municipal, Leda Alves, aceitou nesta sexta (31/5) o pedido de demissão do maestro, feito através de carta. Segundo a secretaria de imprensa, Leda não vai se pronunciar sobre o caso até que o nome do novo regente seja definido, o que pode demorar, devido aos requerimentos específicos do cargo.A maioria dos músicos da orquestra havia assinado uma carta na quarta (29/5) que pedia a retirada de Gioia do comando da orquestra, pelo desgaste dos mais de 12 anos à frente do cargo. Os integrantes ainda pedem a provação do plano de cargos e carreiras para a OSR."

Fonte: www.diariodepernambuco.com.br

domingo, 26 de maio de 2013

Sim! Existe beleza num domingo frente à televisão ou se alguém tiver que arbitrar só poderá contar com os delírios de tudo que passou e já prescreveu.

Canal Arte 1
Descobrir na televisão algo que vá além da perspectiva rasa do entretenimento rápido, baixo e fácil é quase uma odisséia e talvez por isso mesmo eu me impaciente sempre quando fico frente ao aparelho televisor. Zapear é muito mais que uma inquietação imperativa, no meu caso, uma demonstração certa de que pouquíssima coisa (para além dos canais de filme) me interessa. Em recente conversa com uma das autoras do blog Violinos de salto descobri que o canal 101(arte 1 SKY) é dedicado exclusivamente e em tempo integral a tópicos sobre cultura em suas variadas manifestações. Prometi a mim que prestaria mais atenção a ele quando me deparo com uma incrível apresentação da Orquestra Filarmônica de Viena e solo de piano Chinês Lang Lang.  É uma pena que uma parcela mínima da população tenha acesso às redes fechadas de TV, de toda sorte, sigo acreditando por hora que um dia a poesia de fato vá conquistar a todos o direito ao pão como bem postulou Rosa Luxemburgo. Enquanto esse dia não vem, nos contentemos com as migalhas informativas e as impressões nem sempre tão exultantes desta gravata amarrotada pela falta de tempo.

O fato é que toda vez que vejo um concerto na televisão, eles me parecem surreais, quase impossíveis de ser digerido, tamanha seja sua qualidade. É como se meus ouvidos não estivessem educados a perceber as nuances intimistas de uma boa execução. Ao que suponho chamar de desespero espiritual. E não um desespero lacerante, e sim uma abertura para desejar o impossível. Desejar estar ali pertinho, de tê-los aqui comigo ou de poder ter assas e voar muito mais sempre que possível para esses espetáculos de uma vez a cada ano em nossas vidas. Sou afortunado e não reclamo o fato de poder viajar com freqüência e ver boas audições, de toda sorte gostaria que fosse muito mais constante e que a cada semana fossem ali do lado.

Orquestra Filarmônica de Viena
O canal 101 (disponível na SKY) é sem dúvida um horizonte para os que vem tão distantes a realidade da arte em suas vidas e uma proposta atraente aos que desejam conhecer (no caso musical) concertos não tão convencionais e melodias já batidas com leituras qualitativas. O concerto deste domingo 26 de maio por exemplo, foi uma mostra de quão confuso e intrigante pode ser esperar magnitude de uma execução, por levar em conta o currículo do grupo, e decepcionar-se ou de impressionar-se com um bis ao final do concerto como se ele por si só valesse a apresentação completa. Foi exatamente nesta ordem que contemplei o maestro Indiano Zubin Mehta reger de maneira esplendorosa o concerto nº 2 do Chopin com um solo alucinante do Lang Lang.
Lang Lang
Considerado pela crítica como um dos maiores expoente pianistas da atualidade e alçado pelo jornal americano The NY times como o mais espetacular artista clássico da atualidade, a performance violenta do chinês contribuiu em muito para arrancar aplausos da platéia entre um movimento e outro. E embora eu ache forçadamente desnecessária a caricatura na qual se envolve toda vez que toca em público, inegavelmente existe demanda de talento e prospecção em seus dedos em relação à obra do Chopin. Toda essa beleza ficou infinitamente pequena diante da lacerante execução da Polonaise em Lá que ecoou maior do que me parecera quando apreendido a primeira seqüência de notas, e de quando a platéia silenciou climaticamente para irromper no final de sua apresentação.

Contraste que impossibilita comparação entre as peças do programa, já que a 5ª do Bethowen tão esperada por mim, acabou não passando de um equivoco desmesurado e sem possibilidade de deleite. Esperei ansioso todo o vigor recorrente que exige o primeiro movimento desta sinfonia, antevendo a tensão necessária que faz com que ela seja emblematicamente uma dos maiores enigmas musicais de que se tem discussão, e não passou de um fardo arrastado e incompreensivamente fora do seu ritmo minimamente aceitável.
Zubin Mehta
Não empolgou e levou junto todo o encanto do segundo movimento voltando a parecer ter significado apenas do meio do terceiro movimento para o final do quarto. Ainda assim vale ressaltar a magnífica cumplicidade entre a regência explicativa e sem arroubou do Zubin Mehta e a generosidade com o qual entendeu o tempo de conduzir o brilhantismo do solista como alavanca para que fosse resplandecente a orquestra.  

terça-feira, 7 de maio de 2013

É sabido de todos que queria muito dizer que Acharam a Pétrouchka e ela estava morta. Seria injusto. De certo que a encontraram e ela estava agonizante: existia um sopro de vida. Ou de quando abstinência moral é crime hediondo.

Espero que o título acima dissipe qualquer dúvida que haja no sentido da escrita por vias políticas. Não é pessoal muito menos tendencioso o fato de pleitear com minha escrita que a gestão pública em Sergipe seja fiscalizada de perto por todos os que contribuem para que os investimentos sejam aplicados de maneira moral. Inúmeras vezes deixei claro o meu desgosto de ver que a arte em nossa terra seja ainda estritamente conservadora e elitista, ou que pior, as decisões importantes estejam sempre pautadas de maneira arbitrária. Falei consequentemente inúmeras vezes sobre a importância de fiscalizarmos de perto e tecermos as críticas: tantos as boas quantos as necessárias, como intento de que os que demandam poder possam perceber que existe observação e partam de nós os pleitos por qualidade.
Cena da montagem teatral do Ballet Pétrouchka
A finalidade maior deste blog (que começou apenas como um desejo pessoal e intransferível de escrever as sensações que emanavam das minhas percepções musicais) acabou por se tornar um importante veículo de discussão, de pauta sobre a cena orquestral em Sergipe. E me contento dizer que mesmo que a grande maioria dos que o lêem, que o compartilha e faz alarde quase sempre negativos o vejam como um estorvo, vejo nele e na dinâmica de acessos contínuos e crescentes uma resposta positiva ao fato de que inegavelmente este espaço que é também  coletivo (já que os leitores têm total liberdade opinativa) venha exercendo uma permanência séria e  efetiva no cenário cultural de Sergipe. Não importa se na perspectiva da crítica em si, que é importante e deve sempre existir como parâmetro de fiscalização, ou na perspectiva da divulgação comprometida com todos os grupos que fazem a música erudita em Sergipe. 

Todas essas coisas me levam de volta ao título deste post, ou ao que pretendo dizer, que ele é apenas reflexo da justiça com a qual me proponho dialogar em meu blog. Ainda que seja meu, e apenas a mim caiba hiperbolizar ou não minhas sensações. Se este blog nasceu foi muito em decorrência do episódio que envolvia a retirada da Pétrouchka do Programa no dia 09.08.2012 e sobre o meu comentário colérico sobre os absurdos tiranos com os quais eu vi aquele programa ser moldado. Fora uma noite desastrosa e imaginei sem dúvidas que ela iria voltar a ser pauta. Sabia para além de qualquer verdade que não ia ser bom por vários elementos e todos eles puramente técnicos ou éticos visto aqui. A própria orquestração dela exige instrumentos ou número de instrumentos por naipe que nossa (ORSSE) não compreende. E esse fato demanda muitas outras questões de ordem financeira que me incomodam, como o fato de ter que gastar além da conta o orçamento público com a contratação de pessoal e estrutura sendo que essa economia poderia ser feita de maneira clara com a substituição dessa obra por uma menos onerosa aos nossos cofres. E além, contar com a real possibilidade de fazer música com o grupo de que dispomos. É isso ou chegar a conclusão de que de fato não somos suficientemente completos para soarmos como orquestra. E então fica a questão, até que ponto seguir essa linha de pensamento é ser conveniente com um ou outro grupo? Se estamos atrasados em termos de postura a tal ponto de não sustentarmos nossas próprias percepções é justamente por que nos relacionamos de maneira passiva com os mandos e desmandos e nos deixamos diminuir com o tipo de pensamento autocrático que nos aprisiona a imaginar que estamos na contra-mão do financiamento cultural. Para mim, financiar a cultura deve ser ante de tudo um dever ético e não uma concessão lastimosa em detrimento de pequenos grupos. 

A verdade é que a (ORSSE) tal qual a temos hoje se sustenta de maneira insipiente e ardilosa sobre propagandas consideravelmente enganosas sobre a qualidade do grupo orquestral. Não somos dos principais grupos do norte e Nordeste como se apregoa tanto, mas poderíamos ser se não nos colocássemos de maneira passiva sobre o fato de verificar que de fato, é necessária uma reforma administrativa e artística de nosso grupo. Contar com obras que favorecessem o potencial de nosso grupo tal qual ele é é um bom começo. Ou não é fato que é perceptível que existem bons músicos na orquestra, que existe uma remuneração vergonhosa para quem se dedica diariamente a desenvolver sua arte com primor, e que estes tantos são sempre postos a prova de maneira constrangedora ao executar coisas que in natura não é possível sem muita depuração e tempo. Só atrairemos atenção para nossa real qualidade quando formos verdadeiros e investimos na orquestra com humanidade (que não dispensa disciplina e rigor) sem precisarmos esperdiçar tanto dinheiro.

Pétrouchka Partitura
A Pétrouchka é só um exemplo de que é possível fazer música boa e com qualidade em Sergipe, é preciso apenas tempo e respeito com o conjunto. Não super valorizar o currículo de um em detrimento do prazer de trabalho da maioria. Priorizar o tempo de depuração de uma obra em ensaios até que ela seja suficiente, tenha brilho. Não tocar pela obrigação de tocar. Porque tocar de maneira disforme atavia as possibilidade de se mostrar com respeito. Quando digo isso é porque não desgostei de todo do ballet. Mas ainda assim, vejo como afronta expor músicos e plateia (cada vez menores) ao desabor de fingir ser dor a dor que deveras sente, como cantou o Fernando Pessoa ao falar que o poeta é antes de tudo um fingidor.  E ainda que o tenha visto ser pontualmente ingrato no primeiro momento de existência, onde todos os naipes se embolaram em confusão e desde a primeira sequência melódica a insegurança real fazia com que a peça em nada se apresentasse circense como deveria ser, perceber que nem mesmo os enxertos propostos nos naipes fizeram maior o som confuso no pequeno e desaconselhável palco do Teatro Atheneu, a vi crescer de maneira interessante e congruentemente envolvente do meio para o fim. Sobre tudo com a limpeza dos metais que andavam meio enferrujados e com as cordas que pareciam tocar ainda sobre o efeito reverberante dos aplausos do Viotti. E foi reflexivo para além de ter gostado ou não estar sentado diante daquele grupo os escutando vencer aos poucos a timidez, e me alegro estar enganado quando imaginei sair de casa direto para o funeral do pobre palhaço Pétrouchka, mas conseguir vê-lo corado na cama de hospital. Porque enquanto respirar tudo quanto tenha vida, dali se pode extrair algum sumo. 

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Quem saberá contar o enredo Sem alterar o tom, o teor e o desfecho: Sem errar, nem mudar uma vírgula? Ou Quem me dirá não o que desejo nem o que sei Mas aquilo de que preciso Sem botar nem tirar uma sílaba?

Ouvi uma vez e com assombro um amigo reproduzir o conceito winkpediano do que seja música  (muito mais pela fonte que pelo conceito), e embora eu tenha achado curioso, no fundo deva ser mesmo isso: a combinação entre som e silêncio. Nesse quesito a noite da última sexta-feira 03.05.2013 foi esplendorosa para o violinista e Spalla da (ORSSE) Márcio Rodrigues. Foi sem dúvidas resposta qualitativa em relação às suas últimas apresentações, sobre tudo quando tocou sem paixão o Por una cabeza visto aqui. Consegui ver algo que raramente presenciamos nos concertos em Sergipe: silêncio. E não silêncio por vias tediosas, mas aquele cuja contemplação se açoita em cada respiração atenta como forma de capturar alguma nesga de entendimento. E nem de longe era preciso já ter escutado o forte concerto nº 22 para violino e orquestra do compositor italiano Giovanni Viotti, para sagrar a noite como sendo peculiarmente atípica  Como sendo exclusivamente a noite do Spalla e suas cordas. E justamente por isso, para não colocar essa apresentação tão primorosa na vala comum a qual o Maestro Guilherme Mannis enterrou a segunda parte do concerto, e também para não diminuir em nada a felicidade de ter ouvido música boa depois de tanto tempo já que havia afirmado que esse seria o programa que de certo levaria a Orquestra do céu ao inferno, dialogarei apenas com aquilo que me trás à memória esperança.

Ainda que eu entenda ser esse concerto tecnicamente bem executável, e tangível a qualquer precipitação de complexidade, sem dúvida esse fato tornou o concerto atraente em medidas. Pelo conjunto sobre maneira. Que delinearam ótimas respostas aos apelos cênicos que emanavam do solista. É por si mesmo a solução para que a nossa orquestra encare de frente e com seriedade o papel que pauta encenar: qualidade, responsabilidade e consciência de suas capacidades técnicas. A mais de três anos como principal violinista da Sinfônica de Sergipe, Rodrigues com certeza já pode ter-se testado em várias performances solísticas, mas sem resignação entendo essa como a mais forte. A mais intuitivamente verdadeira, ainda que aquém daquilo que sabemos bem, esse grande violinista pode dar. E neste Viotti pude perceber para além dos bastidores, a sua potencial liderança. Conseguiu alçar junto com o Viotti, mas inegavelmente usurpando forças que lhe eram concedidas diretamente de seus companheiros músicos. O que me leva a constatar com pesar algo que já digo entre meus amigos mais atentos: O tempo é cruel, o tempo acomoda qualquer perspectiva e imobiliza os instintos de perceber os abismos. Espero com isso que haja tempo que Márcio Rodrigues, para além de qualquer predileção, possa entender o tempo essencial para cada ruptura. Que veja nas fênix um movimento de transição e trânsito.

Foi realmente grandioso e salvador o Concerto. Foi empolgante como não imaginei que seria (ainda que eu esperasse pela ordem natural das coisas) que o concerto de Viotti fosse vir na segunda parte do concerto, para que pudéssemos ter a oportunidade de um Bis. Para que no final das contas a sensação da grandiosidade de sua execução ficasse mais presente do que a decepção de ouvir (para além de qualquer obviedade) uma Pétrouchka disforme. O silêncio a que me referia foi para mim catalizador para entender que algo novo vem acontecendo. A música finalmente tem começado a educar por si só a percepção   musical coletiva mesmo entre os mais leigos. Parece que os sons conseguiram ultrapassar o palco e dialogar com a terceira parede, fazê-los calar para que interiormente pudessem escutar a alma que emana da arte. E foi assim em muitos momentos grandiosos do concerto, onde pude contemplar a dança violar o espirito denso de um homem cujas feições são tão rígidas mas que o coração pulsa  à distância. E sua dança, longe de afetação, conseguia envolver todo seu naipe, toda a orquestra, que parecia animosamente compreensiva em relação a lei de causa e efeito. Para o que cada golpe violento e com desejo de existir, estimulasse todo o conjunto a soar uníssono e com uma identidade que só se vê raras vezes. Os apreciei com imenso afã executar brilhantes o lirismo que existe o Viotti quase sempre tão operístico.


segunda-feira, 29 de abril de 2013

Mea culpa, mea maxima culpa!

Muito alarde estas últimas semanas, muita falação para pouco entendimento em relação a uma análise feita sobre o recital de música dos alunos de graduação em música da Universidade federal de Sergipe (RAMU). Sobre esta gravata pesa dentre outras coisas a acusação enciumada de eu não ter sido justo com aqueles que fizeram da noite um esplendor da música acadêmica em Sergipe. De ter-me atido além da conta em elogiar a uns em detrimento de outros, e principalmente de ter alegado escutar muita porcaria e o afirmá-lo sem pesar como podem verificar aqui. Vamos aos esclarecimentos mais uma vez: Este blog não é nada além do que a forma que busquei de expor as sensações que chegam até mim na forma de música e também de ajudar a divulgar o trabalho da música orquestral em Sergipe, fazendo com isso que estejamos mais atentos e pleiteemos maior qualidade sobre tudo daqueles grupos que são financiados por nós enquanto comunidade civil. De modo que não entendo a obrigação que me cobram sobre relatar tal qual a percepção individual de cada segmento. E nesse sentido afirmo que não fui injusto. Relatei o que dentro de meu entendimento deveria ser destacado e isso em nada diminui a importância da atuação de todos que passaram sobre aquele palco. Este blog, não é um blog jornalístico, comprometido com a crítica musical investigativa, não ganho dinheiro com ele e tão pouco ele é fonte de trabalho. Escrevo quando quero, sobre o que quero e da forma que quero, o que me leva a refletir e expor uma vez mais que este blog é apenas um deleite meu e que quem o leva a sério em demasia o faz com o risco inevitável de se envolver sem necessidade. 

Muito embora tudo isso, atendendo a uma conversa com meu primo (a quem o escutei com tranquilidade e verifiquei lucidez em suas colocações) entendi que para além de minha predileção em ser agradável sem necessidade com gente que nem de longe me importo, era importante que eu reconsiderasse e aparasse algumas arestas que ficaram flutuando soltas, de modo a que nos pontos que seguirão tentarei ser fiel à lógica que me fez não citar algumas apresentações:

Primeiro as apresentações de violão. É claro que para além de qualquer entendimento, foram apresentações muito bem executadas, se é isso que muito importa que se diga, não faz parte das porcarias que escutei. Não citá-los não foi lançá-los na vala comum dos incapazes de tocar, e como tocou. Se não os mencionei foi justamente por achar que apesar da técnica apurada (sobre tudo do Diego Lima que tocou um Villa Lobos em dedilhado sereno) os três violões que me recordo bem não ousaram em escolha de repertório. E apenas isso. Imagino que escolher um repertório deva ser algo intrinsecamente responsável e que vá além da predileção pessoal. O show é para o público e não apenas para nossa alma individualista. Algo que critico ferrenhamente em vários outros post e que concedeu ao Daniel Nery um destaque. Foi justamente a maturidade de escolher um repertório interessante mesmo que o fosse para um grupo que não se favorecia cantando que me fez gostar sutilmente de sua apresentação. Não há demérito na crítica, só não me surpreendeu e não vejo nisso crime. Aliás, vejo com positivismo que não tenha me surpreendido, já esperava dos violões uma apresentação correta, delicada como deveria ser.

Seguindo por aí não posso esquecer de dizer que o grupo que executou o Carinhoso foi infindamente empolgante por vários aspectos. Primeiro pela leitura doce, pela flauta encorpada e um entrosamento musical muito atento às respirações e às dinâmicas que fizeram dele tão gostoso de se ouvir. E embora tudo isso, não me importei citá-los justamente por também não achar que foram felizes na escolha: principalmente em se tratando de um público que na maioria, a grande maioria eram os próprios alunos de músicas e já conhecedores de todos os clichês possíveis no sentido daquele agrupamento em específico. O talento do agrupamento poderia ter ido além da obviedade do Barroso e nos mostrar algo avassalador.

Se houve de fato injustiças, confesso como preterido no título deste poste (ainda que não pareça meu amigo Társis Santos, está completamente escrito em Latim) foi em relação a magnifica ou surpreendente (até a raiz do cabelo) apresentação da cantora Hildriele. Surpreendente porque de tudo que esperei ouvir em termos de canção, não esperei um samba. E sobre tudo não esperei um samba tão bem cadenciado. Não cadenciado sem introspecção, mas ao contrário, cheio de vigor. Inicialmente tímido e inteiramente compreensível, mas crescente até se revelar potente e promissor. Se há consenso entre os que me acompanharam àquela noite, felizmente gira em torno de sua apresentação e da possibilidade de vê-la entoar outros cânticos e se mostrar plena. Porque de presença artística sua alma já está adornada.