Todo esse ácido para dizer que me sinto feliz (embora discorde ideologicamente das rupturas abruptamente escancaradas que menos tem a ver com intenções reais de popularizar-se por entender a necessidade de que a arte deva emanar do povo para o povo) de que haja uma tentativa interessante de levar à orquestra ao ponto de onde ela partiu. E quando digo isso, não é de longe uma defesa escancarada postulada sobre a égide da antiga direção artística da Orquestra Sinfônica de Sergipe ORSSE, não! No entanto hemos de convir que nos últimos anos a nossa orquestra tenha declinado em termos de popularidade. Passou da casa cheia ao mezanino às moscas e isso objetivamente reflete não a qualidade técnica do conjunto de músicos e maestro, não é isso que se deve questionar nessa perspectiva, mas sim, a maturidade artística de entender a necessidade local de cada povoamento e suas referências de arte.
Já postulei inúmeras vezes que não defendo o afastamento dos cânones musicais dos programas mensais, nem de longe seria sensato já que a pluralidade de compositores e estilos nos empurra pragmaticamente para a audição de potências como Mahler, Mozart, Dvorak, Villa Lobos, Beethoven, Vivaldi, Saint Saens e é sem dúvidas um deleite escutá-los de perto, de vê-los reinterpretados debaixo de nossa arena Tobiense. O que tange minhas predileções e que se firma evidente diante de todos aqueles que não injustamente se oportunizam refletir, é o fato de que o público sergipano aos poucos vem amadurecendo suas escolhas, defendendo de maneira mais intensa a construção de uma nova realidade que se perdeu quando o Lamentavelmente o Maestro Guilherme Mannis assumiu a direção artística da ORSSE e a transformou num infinito particular, infinitamente alheio a tudo que fora construído para melhorar a compreensão do público sobre o acercamento possível através de um tipo de música que nos retratasse ,de uma arte que por muito tempo em Sergipe se restringiu às aristocracias falidas e que finalmente abria espaço para que pobres, leigos, endinheirados, brancos, viados e putas pudessem compartir o mesmo espaço de audição e tivesse a acesso a um tipo de identificação que ultrapassava as barreiras do que pode ou não pode. Porque a música era o único elo, e universalmente os colocava como um só.
Entendo a diversidade de condução, compreendo sem injustiças a importância de afastar-se de sombras do que é passado e fazer-se novo. E em sendo o maestro Guilherme Mannis não mudaria mesmo em nada em minha perspectiva de condução. Porque estou arraigado ao que acredito e vou até o fim defendendo o que julgo ser correto para mim ainda que todos a minha volta me mostre os equívocos. É parte do que somos defender o que acreditamos, é quando nos destacamos da multidão custe o que custar. Mas existe nessa possibilidade um grande abismo, e é justamente nele que vejo mergulhado as escolhas administrativas que toma para si nosso maestro. E o abismo se representa na incapacidade de reconhecer que somos autônomos para perceber as mudanças forçadas, os discursos que não se sustentam sozinhos diante das predileções diretivas de um programa a outro, ou de que não conseguimos fazer sozinhos uma retrospectiva estética e perceber que sim, avançamos, mas não avançamos com a alma, não avançamos de maneira a naturalizar o espaço significativo que pode ter a música popular dentro de um espaço erudito. E justamente por isso me paraliso toda vez em que nos últimos meses a fio, mesmo à distância do Brasil, vejo muito mais defesas discursivas do que mudanças pragmáticas. Louvo e parabenizo os espaços que vem se colocando, até por entendê-los (sem arrogância) como pautas de reivindicação, e repudio amargamente a ideologia em trânsito, como que perdida na própria nulidade de não ir até o fim com o que deveria ser marca única de um projeto diretivo.
A quem puder lembrar, Villa Lobos foi execrado por inúmeros segmentos por sua associação à francesa com o governo getulista que lhe provia de promoção em troca de escancaradas associações publicitárias ao seu governo. Oportunismo, burrice, egoismo ou pobreza ideológica? Certamente. Mas também a possibilidade de o termos como um dos maiores, quiça o maior da música erudita em toda a América. Karajan ou Bernstain: deliciosamente despóticos, eu sei. Tangíveis a qualquer consciência dotada de humanidade, e ainda assim, não há que vá de encontro ao fato de que havia sensibilidade estética em suas durezas de espirito. E que vê-los conduzir é como parar no tempo e anular qualquer informação de bastidor para vivenciar no palco a alma despida de pudor. O que há de comum em tudo isso é justamente o feito de não abrir mão de si para construir-se como queria o outro. Porque existe a possibilidade de não mudarmos nossas perspectivas, quando assumimos com tranquilidade a qualidade essencial de ser aquilo que acreditamos ser possível até o fim. E quem em percebendo a mudança, ela venha tranquila como um processo e não imposta como a vejo em programas como o desta quinta-feira 8 de Agosto de 2013 :
Serie Mangabeiras III
Brasil Sinfônico
Leonardo DAVID, regente convidado
Marco PEREIRA, violão
Marco PEREIRA
Violão Vadio
Suíte das Águas
Círculo dos amantes
Jean SIBELIUS
Sinfonia nº2, op.43, em ré maior
Quando:
08 de agosto de 2013, 20h30
Onde:
Teatro Tobias Barreto
Quanto:
R$ 20 (inteira)
R$ 10 (meia)