terça-feira, 26 de novembro de 2013

Concerto inaugural da Orquestra Sinfônica do Conservatório de música de Sergipe

CMS
Há muitas coisas que vão deixando saudosismo na gente. Uma delas é vagar pelos corredores, subir correndo afoito imensas escadas ou jogar RPG  no porão que ligava a sala de bateria à sala de concertos do Conservatório de música de Sergipe. Ou rememorar o tempo em que mesmo de maneira deficiente, o CMS tinha uma grade de estudo minimamente coerente que em meio a tantas faltas de acesso, permitia ao aluno ter acesso a praticas de conjunto.

Pude viver apenas o finzinho desde tempo, quando ingressei como aluno de violino do professor Rabelo e depois da Ana Guitã no ano de 2003, e que justo nesse período, paralelamente ao meu maior entusiasmos com as piscinas conheci a beleza do agrupamento orquestral no famoso grupo de alunos do professor Wolney Monte santo e Teresa Cristina. Do coral do professor Roberval Max...  O grupo era pequeno, as condições tão pouco favoráveis, não ensaiávamos não na sala de concertos que estava interditada e sim na sala do 1º andar Henrique Souza, mas o carinho com a qual nos dirigíamos a ela nos faz tomar como gostoso o nome. Orquestrinha. E orgulhosamente dela saíram  muitos que hoje fazem parte dos que atuam como profissionais em Sergipe.

Anos a fio sem que o CMS fosse visto como instrumento realmente importante de difusão musical e depois de tantas indiferenças, reclamadas inclusive por esta gravata; anos de reforma e descaso em termos de educação musical, o CMS teve retomada suas atividades meados deste ano. E tendo como professor de violino da casa e idealizador da Orquestra Sinfônica do CMS o Paranaense Márcio Rodrigues, essa quinta-feira, 28-11-2013 às 19:00hs, a instituição receberá alunos, familiares, professores, curiosos e demais segmentos da vida aracajuana para seu concerto inaugural. Com caráter estritamente acadêmico e repertório que passeia desde Mourão do compositor brasileiro Guerra Peixe, até  cânones como A primavera do Vivaldi e Jesus Alegria dos Homens de Bach, o concerto se pretende como uma apresentação inicial de proposta que deve ser apoiada e principalmente vigorada por todos os que pensam a música como segmento de base educativa. 

Pequena nota sobre o blog Biografias Sinfônicas

Cavucando coisas nesta madrugada insone, achei curioso o aparecimento de um blog que se dedique a dissertar de maneira biográfica sobre a vida de alguns vultos da música. Em parte os biografados são maestros ou músicos sinfônicos, em outra parte, músicos da Orquestra de Sergipe ou convidados que passaram pelos palcos sergipanos a cargo da associação com a orquestra estatal. O que me será muito útil no sentido de facilitar minhas pesquisas (ainda que isso seja antagônico ao que afirmarei no próximo parágrafo). 

O blog se chama Biografias sinfônicas e pode ser lido aqui. Não á autor descrito e muito menos é clara a linha pela qual se pretende este espaço. E ainda que pareça engraçado eu me importar em escrever sobre algo que não me interessa em nada e pra nada me serve, por desencargo de consciência fica a dica, vai que seja de utilidade pública... 

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Para viver com música!

Aprendi aos poucos com uma amiga de saltos a importância de ir na contra mão das datas comemorativas. Não como aversão e sim como parte de preservar a verdade da celebração, que muitas das vezes é solitária. Embora isso, não há como não refletir hoje sobre a comemoração que também impulsa muito do que e este espaço. O ser músico.

Tive a grata sorte de crescer num lar que inspirava arte e música. Sempre fui desde sempre incentivado a vê-la como uma manifestação da alma; nem sempre é assim. Lamentável sentir que há muito de preconceito ainda hoje, que há muito de descrença sobre a possibilidade de ser um músico e ser fruto do que a sua arte pode lhe proporcionar. E é entendível em parte. Estamos inserido numa cultura nilista que engatinha a passos trôpegos por firmar a música, a dança, a pintura, a literatura como carreiras profissionais. E sim, é preciso de regulamentação, é preciso de educação combativa e formadora de opinião. 

O ser músico é também uma pauta ideológica que deveria ser entendida desde a base. Sem leis, sem luta, não há a manutenção de uma carreira justa e coerente com não somente a demanda de trabalho em termos de inserção no mercado como também o respeito à vida útil de um profissional da música. Nem sempre esses dois aspectos são valorizados, e o músico das nossas realidades padece pelo mal de ter que ser mil homens para mil eventos como fonte de subsistência. Essa linha tênue entre fazer o que por amor o absorve e ser absorvido pela necessidade de se manter inserido dentro do que se ama fazer, me inquieta sempre. 

Para quem entende o seguir tocando como uma escolha aventureira e rebelde, não o é. É primeiro uma necessidade da alma, uma necessidade de expressão, e isso em nada implica ousadia. O músico, assim como o artista de outras veias, nasce para o que é. Seguir abrindo centelhas em meio a escuridão é mais que uma atitude de protesto, é como a necessidade da luta. A necessidade de que todos os olhos do mundo apontem na direção de sua arte e reconheça a força, o sangue, o suor que lapida as arestas e se transborda em harmonia quando lá fora, fora de nossos corpos, imperceptivelmente tudo parece vago e os sons nos arranca para dentro daquilo que desconheço em forma, mas alumbra minhas possibilidades de voo em melodias feitas apenas para mim. Apenas para os que conseguem se fazer escolhidos por essa teia misteriosa que nos enreda e nos permite ser.

Faz alguns anos e aprendi nas classes de literatura portuguesa do meu saudoso mestre Celso Donizete Cruz que a música coexiste e se perdura em muitas das representações poéticas a que temos acessos como literatura. E escutando o Chico em seu choro bandido quando indica que no principio fez-se das tripas a primeira lira que animou todos os sons, os ensinamentos de Celso me chegam como o conforto de poder buscar esta sinestesia ao menos nos versos, no silêncio métrico e retórico que pode emanar das palavras. É a forma com a qual abraço a todos sem exceção, que decidiram ou se permitiram ser guiados pela palavra, pela melodia, pela harmonia das dores e alegrias intimas a cada dia que vem embalada pelo fazer música:

 Miré a tus manos,
encontré una profunda delicadeza
y combinada con ella
también estaba esa fuerza tuya,
en ellas vi pasión y también creación.

En un instante el pensamiento soñó
en que esas manos
tomaran mi corazón como instrumento...
lo hicieran vibrar y con ello
emitiera sonidos llenos de cariño...

Afina entonces las cuerdas de mi vida
haz con ella canciones para los dos
hazme útil en tus sinfonías
y rompe con ello el silencio de mi corazón.


Andrés Guzmán C (enero 19,  2007)

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Minha terra tem palmeiras onde canta os sabiás e as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá!

A poesia cotidiana anda esquecida na memória de muitos. O Brasil ainda não conseguiu dissociar através da educação a relação entre arte e identidade sexual. Se na Argentina adolescentes leem Borges, no Brasil, salvo exceções, se um menino se atreve a escancarar sua predileção à leitura poética,  logo lhe conferem um estigma. Não tem sido muito diferente na música, e aqui falo de memorialismo. Certamente o Brasil ainda insiste em não conhecer o Brasil.

O verso saudoso do titulo deste post tudo tem a ver com a vontade de escutar executada essa noite a Bachiana brasileira n. 4. Embora já a tenha visto anteriormente sendo executada pela Orquestra Sinfônica de Sergipe (ORSSE) e provavelmente pelo quase mesmo grupo, o cenário desta vez me parece muito mais propicio ao lirismo melódico envolto no preludio da obra em questão. A série Sons da Catedral é sem dúvidas a série mais bem acertada pela direção do Maestro Paulista e diretor artístico da ORSSE Guilherme Mannis. É o espaço que mais agrupa diferentes segmentos da sociedade sergipana que não necessariamente está associada à vida pratica da música erudita, ou é o público cativo afeito a esse tipo de música. São frequentadores das missas, passantes sem rumo pelos arredores da Catedral metropolitana , estudantes, curiosos... Mas principalmente é nessa série de Concertos em que a população com menos acesso de trânsito entre as salas de concerto pode se dirigir de maneira gratuita e centralizada até a arte. 

Para além do espaço físico da Catedral que é encantador independente do credo ou religião, ou da possibilidade de acesso irrestrito, a série Sons da Catedral é privilegiada justamente pela variedade musical de seus programas, que se apresentam sempre dentro da perspectiva mais didática de dialogar com a plateia tantas vezes ainda de ouvidos crus. Por ela passaram desde o Concerto para trompa n. 3 de Mozart, o tão conhecido e enfadonho (mais muito preterido pela plateia) Bolero de Ravel, Abertura Carnaval Romano do Hector Berlioz que pude aplaudir com justiça, até também derrocadas como a Suite Aquática do Häendel ou as Antigas danças e árias para Alaúde. Certamente essa série funciona como um espaço de formação musical e também de resgate memorialista ao que no principio tinha a própria igreja como espaço de manutenção e impulsão à criação artística musical. A noite que será conduzida pela Batuta do maestro Assistente da Sinfônica, Daniel Nery e contará ainda com a execução solística  do Spalla Márcio Rodrigues e trará na programação além do Villa Lobos, também um Cantabile para violino e Orquestra Eliana de La Torre e a já conhecida obra Il barbiere di Siviglia (O barbeiro de Sevilla) de Giácomo Rossini





Sons da Catedral III

07 de novembro de 2013
Sons da Catedral III - Catedral Metropolitana de Aracaju
07, quinta-feira, 19h
Daniel NERY, regente
Márcio RODRIGUES, violino 
Gioacchino ROSSINI (1792-1868)
Abertura da ópera O Barbeiro de Sevilha 
Eliana de LATORRE  (1953)
Cantabile, para violino e orquestra
Heitor VILLA-LOBOS (1887-1959)
Bachianas Brasilieras n. 4
1.      

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A universalidade da morte é indubitável. Feliz día de los muertos!

Hoje cedo despertei acossado por duas representações da morte. A primeira é justamente o fato de que aqui no Perú (onde tenho me escondido) a celebração aos mortos é algo intrínseco à cultura Andina. O colorido, a vivacidade  com a qual é lembrado cada ente já destituído de espirito e massa me faz rir em certos pontos, e não pejorativamente, mas a fim de entender como é presente a memória na vida dos que ainda vivem. Fui convidado a visitar um cemitério e beber junto a uns amigos e seu pai (falecido) em questão. Declinei do convite por achar demasiado cataclismático para minha primeira vez. 

A segunda delas delas foi o fato de receber uma mensagem de minha prima contando feliz os progressos violinísticos e discorrendo também sobre  os desafios de ensaiar uma peça do Saint-Säens.
Achei curioso demais o fato correlacionado de que a morte hoje tem me perseguido. Por que justamente a peça em questão é a Danse Macabre, que fazia tempo estava esquecida em minha play list mas que hoje veio a tona. Justo porque vejo beleza na morte desde sempre, como se fosse uma efêmera amiga repousando sobre o peito vivo de cada um. E passeando por blogs encontrei essa justa definição da peça do Säens:

 " retrata uma tradição medieval, iconográfica, a Dança Macabra. Esta dança representa a universalidade da morte, e por conseguinte, da condição humana. Para lembrar da brevidade, beleza e importância da vida, apesar de referir-se à sua ‘contraparte’, a morte. Figurou no imaginário e na cultura medieval, em tempos da Peste Negra."

E seguindo meu apreço sobre o tema da morte, não houve como não lembrar com felicidade as palavras do sábio Chicó no leito de morte de seu melhor amigo joão Grilo, personagens icônicos da Obra maior do pernambucano Ariano Suassuna:

"Acabou-se o grilo mais inteligente do mundo, cumpriu sua sentença, encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca de nosso estranho destino sobre a terra, que de fato não tem explicação, que iguala tudo que é vivo em um só rebanho de condenados, porque tudo que é vivo... morre."

E aproveito para deixar como indicação um vídeo animado muito interessante sobre o tema da Danse Macabre. Que passem bem o dia dos mortos, das bruxas, do Saci...





O auto da compadecida