sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Disse o Pessoa que o poeta é um fingidor. E que finge tão completamente que chega a sentir que é dor a dor que de verdade sente.

Poucas vezes vi tamanha excitação e aclamação perante a figura de um músico solista de sua própria orquestra como no concerto de ontem a noite da série Laranjeiras da Orquestra Sinfônica de Sergipe. Observação essa que prevaleceu sobre meu desejo de não escrever hoje. Há tanto que pode-se dizer sobre a atmosfera receptiva que envolveu o palco do Teatro Atheneu; desde a própria orquestra com a qual por apenas uma noite me dispus a fazer as pazes e vê-la distanciada de um olhar nublado e que até por isso pensei duas vezes em chamar esse post de " Se eu me apaixonar vê se não vai debochar da minha confusão. É que uma vez me apaixonei e não foi o que pensei... Estou só desde então", o solista ou também a figura serena do maestro sobre o estrado.

Depois de ter visto no municipal do Rio de Janeiro há um mês o Ballet Coppélia e sentir que aquilo havia sido das primorosidades que objetivo ver de quando em quando sempre que me dispuser a sair de minha cidade, e de idealizar o que é estrangeiro à minha realidade, voltar a Aracaju e ouvir a ORSSE me tomou de assalto a felicidade de chamá-la de minha e de recebê-la com o orgulho necessário a singeleza posta sobre o primeiro momento do concerto onde foi executado a abertura da ópera A flauta Mágica de Mozart e a Fantasia sobre a ópera Carmen para Contrabaixo e orquestra do norte americano Frank Proto. E bastava mesmo essas duas peças para que a noite tivesse sido completa.
Maestro Daniel Nery - Mozart - Beethoven - Jair Maciel
Tudo aconteceu terno e de algum modo, mesmo em se chegando o fim de ano e o cansaço de uma temporada conturbada, como tem sido até aqui, não atribulou em nada a noite que parece que desde sua gênese sagrou-se vitoriosa. Como foi quando desde o início, a orquestra encheu o teatro com um som vigorante e nada fúnebre como quase sempre entendo a abertura da Flauta mágica. De modo a ter sido dançante e bem articulada em uma cadência convidativa a que pedagogicamente entendêssemos o espirito iluminista da obra. A uniformidade saltava vistosa do maestro Daniel Nery ao grupo e se estabelecia em uma unidade sequencial de sons em muitos trechos dialogando aconchegante, tão viva e firme quanto o necessário como prelúdio para o que chamarei de maior presente da noite, o solo do contrabaixista Carioca Jair Maciel na Fantasia sobre o tema de Carmen.

Daí talvez a necessidade de explicar a escolha pelo segundo título do post. E quando falo em dor e fingimento é apenas como metáfora para o que entendo como fingir não sê-lo quando em verdade o é. Se pudesse se ver de frente, com o olhar de expectador, seguramente se alegraria o contrabaixista em perceber em sua frente o artista como reflexo do desejo. Os aplausos no meio dos movimentos, a ovação anterior quando explicava as peças o maestro ou quando ao final demoradamente o aplaudiram de pé não foi em nada menor do que a proporção do que vimos em som. Em tempo de liquidez e fragmentação identitária, há muito artista que não se compreende como um ou não entende a dimensão transcendental de subir no palco e transformar a brutalidade da estrutura e da regra métrica em arte. O artista de ontem também finge não sentir, mas em verdade sente e o expõe exibicionista o interior que dedilha o instrumento como se não houvesse plateia, orquestra, maestros, medos e anseios, e se coloca diante de nós como brincar em seus estudos individuais em que se pode permitir imprimir sobre a leitura qualquer tom que destoe do convencional e faça sua própria interpretação. 

Não menos notável a cumplicidade dele com a orquestra e com o maestro quando os deixavam ser grandes quando era um lapso perceber-se solista em meio a tantos outros instrumentos. Daí a grandiosidade da Aragonaise misteriosa e harmonicamente tão desconstrutora sobre a clareza do piano ao fundo como se nos quisesse mostrar um tablado espanhol e nos fazer entender que a tourada é nada mais que uma tentativa erótica de agarrar o drama pelo pescoço e reconhecer os crimes , as dores, os amores não correspondidos como uma pitada sarcástica das possibilidades do jazz. Ou então do diálogo com a harpa como sendo uma aliança verossímil ou a doçura das madeiras frente a frente com o atino arrebatador das cordas na Nocturne-Micaela’s Aria em um delicado andante, tão puro como obsceno ao desencadear na alma a possibilidade de liberdade e voo. E ao escutá-lo, confesso as lágrimas que açoitaram meu niilismo frente a possibilidade de que saltar de dentro a fora é mesmo olhar-se num espelho que diz ser este movimento a possibilidade de qualquer contrabaixo se transformar em violino caso assim o deseje. Mas não há porque já que se basta. 




quinta-feira, 9 de outubro de 2014

As composições de Piano do Paulo Francisco Paes são como chão de Nuvens.

O dia de ontem foi feliz por duas grandes apresentações de piano na cidade do Rio de Janeiro. Ao meio dia e meio no CCBB dentro das programações do importante projeto Música no Museu pude ver o jovem Pianista e compositor Paulo Francisco Paes, já a noite no espaço BNDES às 19h o prestigiado Arthur Moreira Lima. Dois espetáculos grandiosos e inteiramente gratuitos que dentro de características distintas nos aprisionam a vê-los. E assim o foi. 

Embora eu tenha rabiscado inúmeros pontos a partilhá-los aqui, decidi de última hora e como um sopro no ouvido que não me deixou ir por outro caminho, escrever sobre o que mais me prendeu. E se eu pudesse classificar a apresentação do Paulo Francisco, diria que foi como repousar sobre a possibilidade de mergulhar num quadro de imagens fortes ainda que as tintas fossem as mais claras na tela. Não o conhecia, confesso. De Aracaju quase não se pode ver o mundo ainda que a internet seja uma explosão de informações e novidades. Daí a importância de sempre e quando sair em busca de novos ares, como me propus agora estas duas semanas.

O jovem pianista já é bem conhecido por aqui e também já bastante laureado com premiações por todas as partes. Nada que seja maior em sua biografia do que o ar sereno com o qual mostra que identidade musical nada tem a ver com o corpo que se move frente ao instrumento. Mas que ir além na interpretação de determinada obra é o diferencial que impulsiona o êxtase da arte. Ao vê-lo em cena é como não esperar nada além de talento, mas ao escutar as primeiras notas de seu som, é sentir-se como entrando num vagão, feito o do Villa, e ser levado aos altos picos da montanha para de lá ver quão grandes possibilidades de frio na barriga se pode ter ao segurar a mão de um desconhecido.

Paulo Francisco Paes - Pianista
Paes foi grande nas interpretações de Bach, e se parecem tão íntimos os dois que não tive dúvidas de que era como a leitura de uma carta a um amigo. Da mesma forma com a qual passeou por Villa Lobos, Debussy e Nepomuceno. Todas as peças vibrantes e que preencheram o Teatro II do Centro Cultural Bando do Brasil (CCBB). Mas foi mesmo quando se lançou a executar composições próprias de seu recente primeiro cd intitulado Chão de Nuvens, lançado em 2013 no espaço Tom Jobim aqui no Rio de Janeiro, que me desvencilhei um pouco do costado da cadeira a escutar com enorme afoitismo a grandiosidade daquelas peças que mesclavam com muita propriedade o o erudito e o popular.

Ao executar Fragmentos, e Naquela Tarde, sentia-me como vagando por um imenso corredor de muitas portas em busca de uma que me libertasse para o mar, tudo isso numa cadência misteriosa de ataques rígidos e de cinismo musical recorrentes nos filmes não comerciais. Ao me precipitar por cada porta, levado pelo martelar ora forte, ora delicado do piano, não antevia a facilidade que era girar a maçaneta e entender que lá fora, com o brilho do dia eu podia sentar-me à beira da fonte e escutar o canto dos pássaros. Era como ir-se, descortinando a natureza à medida que Paulo, no auto de seus 30 anos e recém regressado de uma temporada de estudos na Espanha, encheu de maturidade e ternura a Música no Museu.

De forma que vale a recomendação de alguns minutos de beleza e engenhosidade aos que se deixarem tomar pela mão num passeio até o alto da colina e conhecer os prodígios de um cd  que inspira e diz muito sobre o novo olhar musical autoral no Brasil. Mais jovem, valente e ainda cheio dos mesmo velhos sentimentos de ondas do mar. De lá, a imagem é tua e não importa como as pinte, certamente os tons serão de alvorada.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Ao menos não foi como ter visto a treze anos atrás cair em Slow Motion as Torres Gêmeas. Ainda assim era 11 de Setembro e a poeira leva tempo até assentar-se.

A orquestra Sinfônica de Sergipe (ORSSE) recebeu em seu palco na noite de ontem duas importantes personalidades do cenário musical brasileiro. O Maestro Luiz Fernando Malheiro e a Soprano Daniella Carvalho que junto com a orquestra executaram um repertório dedicado à composições Americanas. Não ficou claro se o Concerto era alusivo ou não ao ataque das Torres do complexo World Trade Center, que sofreram um 2001 ataque terrorista matando milhares de pessoas, mas coincidentemente ou não a apresentação de ontem a noite carregou em si tal conotação. 

É quase sempre engrandecedor receber convidados tarimbados para estar a frente de nossa orquestra, alguns passam como se fossem dispensáveis, é bem verdade, outros, como é o caso da Daniella e do Malheiro, chegam para abrilhantar e se fazer necessário frente a tamanho silêncio. Se não o fosse assim, o concerto de ontem teria sido mais um da série 2014 não tem sido um ano afável com a ORSSE, a julgar os desmantelos e amadorismos na condução desta temporada atípica. 

Daniella Carvalho
A voz da Soprano realmente ecoa com a rigidez necessária a prender o fôlego de quem a escuta  e seu vulto se movimenta no palco com a serenidade inevitável de um Flamingo posto sobre uma única perna, cabeça erguida à beira do lago a espreita de um horizonte que virá em revoada.
 Não havia ruptura na densidade de seu canto, a não ser a necessária, a cênica, por conta da mudança de estilo musical. De maneira tal que não foi em nada lesivo a transição da primeira parte do Concerto, mais voltada a trechos sinfônicos, pra de quando no segundo momento a Soprano interpretou clássicos populares da música Americana como So In Love, I've got you under my skin,  Night and day e Begin the beguine. 

Luiz Fernando Malheiro
Já o consagrado e tão prestigiado diretor operístico Luiz Fernando Malheiro, chegou ao Teatro Tobias Barreto, aqui em Aracaju, com a conotação leve de quem entende o palco no qual pisa. Sua figura por si desponta qualquer perspectiva de afoitismo e a tranquilidade com a qual dirige sua marcação é de impressionar pelo didatismo e  singeleza. Ao tomar a voz no início do espetáculo, junto à Soprano, dedicou o Concerto à memória da renomada Soprano Italiana Magda Olivero, que faleceu aos 104 anos esta segunda-feira 08 de Setembro. E seguiu pelo caminho de agradecer o convite do Maestro Guilherme Mannis e enfatizar o lugar de destaque que a orquestra conquistou no cenário musical nacional.

É bem verdade e me alegro ouvir louros em relação a orquestra sinfônica de meu Estado natal, de vê-la dentre os quinhões de importância daqueles que vivem e promovem a música. A ORSSE é sem dúvida um espaço de construção interessante e porta em suas dependências muitos potenciais, desde os sublimes aos abissais. O que mais preocupa em tons menores é justo de onde ela veio, onde chegou e para onde caminha. Ao completar trinta anos de fundação, justo no ano de 2014 é uma orquestra que não merece por parte de seu próprio berço honras e menções. Homenagens mínimas que afaguem os anais da história. E segue errando por fazer dela um presente sem passado. Que surgiu do nada e caminha para o descompromisso com quem a mantém.  Vagueia como quem é apenas uma máquina e que os sentimentos, o humanismo, próprio do indivíduo não ultrapasse a significância de apenas ser grupo. Seja por questões administrativas ou de ego, vide o Beatles sinfônico cancelado sem prévio aviso nos meios de comunicação e a constante desatualização informativa de suas atividades via site institucional que mudou muito desde o início da temporada. Se viver é ir-se despindo das cores que matizam a liberdade, até que nos precipitemos camaleonicamente no vazio incolor da necessidade última, que é morrer, espero que haja na ORSSE espirito de fênix para que 2015 ressurja com vigor de novo. 

terça-feira, 29 de julho de 2014

Dias chuvosos servem para que as melodias cheguem como presságio!

Mas bem que esse post poderia se chamar também Mistério. Fazia tempo e eu não escutava a trilha original do filme Central do Brasil composta em 1998 por Antônio Pinto (Filho do cartunista Ziraldo e também irmão do Menino Maluquinho) em parceria com o Violoncelista Jaques Morelembaum. Hoje a tarde choveu e atinei quase que de impulso sobre esta melodia que embolou todas as minhas memórias.



É bem certo que ao escrever agora o faço sem a perspectiva de ir pelo caminho da análise da composição, até porque já usei este espaço para falar do Antônio Pinto. O que me vem por hora é a lembrança do sentimento de medo que essa música causava não apenas no Josué (personagem central do filme vivido por Vinícius de Oliveira) mas também em mim quando o vi pela primeira vez e torci para que aquela fazenda em meio a aridez e a selvageria da pobreza no sertão de Pernambuco fosse realmente o destino final da busca de Dora, papel de Fernanda Montenegro, em busca do pai do menino. Lembro também desejo, com o qual Josué abre a cancela e sai em disparada até a casa central. O olhar desfalecido quando olha por primeira vez aqueles que serão supostamente sua família.

 E me pergunto se não é mesmo um caminho delicioso esse o de rememorar épocas através das imagens que os sons nos possibilita. Enquanto as respostas não vem, a chuva que cai lá fora chega mesmo como presságio. Mas desta vez não igual ao que chegou ao Josué e o desapontou. Por sorte, ou por hora.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Entre o cinema e a música espanhola de Alberto Iglesias reside cores de Almodóvar!

Alberto Iglesias
Foi justo através da análise desse casamento entre o compositor espanhol Alberto Iglesias e do também espanhol e célebre cineasta Pedro Almodóvar que retirei timidamente o primeiro fôlego por escrever algo sobre duas de minhas maiores paixões. O cinema e a música. Era um aficionado pelas narrativas fílmicas espanhola de diretores intrigantes e existencialistas como o Eloy de la Iglesia, Julio Medem e também o Almodóvar de onde justo me apareceu pela primeira vez a intrigante relação entre o cinema e a música do Iglesias. 

Assistir ao filme Todo sobre mi madre foi a derradeira possibilidade sobre buscar conhecer mais desse grandioso talento musical que despontava como expoente das trilhas sonoras num cenário quase sempre dominado por Jhon Williams e Enio Morricone. Da curiosidade ao arrebatamento foi só questão de escutá-lo junto a outros diretores e histórias imortalizadas em grandes filmes como Os amantes do círculo polar do diretor Julio Medem que sobre Alberto em entrevista disse que grande parte da magia de seus filmes se devem às suas trilhas. E parece mesmo unanimidade entre os críticos que as canções do Iglesias são como personagens que ganham uma linguagem independente dentro dos filmes, como sendo a própria linguagem e entendimento.

Sobre esse fascínio que me tomou na primeira metade de 2008 compartilhei um texto bruto e ingenuo no meu velho e esquecido blog soldadinho de chumbo e hoje, seis anos depois decidi revisitá-lo a fim de encontrar aspectos de quando vi o filme do Almodóvar pela primeira vez. De modo que como algumas leituras haviam caducado, reeditei o texto que pode ser lido na íntegra em um espaço que venho colaborando com o site Violino vermelho desde o primeiro semestre deste ano. 

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Começou doce, virou mistério, caminhou rumo a espiritualidade, arrebatou ao passear pelo Brasil e ser tão universal. Ou de quando tem muito dinheiro entrando na minha conta por escrever este post e ainda assim deixo aqui o número de minha poupança a quem mais interessar me comprar: B.B agc: 5657-X CP: 15.207-2 / 51

Inegavelmente a Orquestra Sinfônica da Universidade de Sergipe (OSUFS) vem já há bastante tempo sendo dos maiores, senão o principal espaço de educação musical para o público aqui em Sergipe, e nessa perspectiva me alegra o fato de ser aluno da referida  instituição, de já ter sido parte da Orquestra e principalmente por poder prestigiar de fora dela a grandiosidade de alcance a tantas camadas. Prioritariamente por entendê-la dentro de um plano de extensão que realmente funciona como base acadêmica aos que fazem o curso de música poderem não apenas ter mais um espaço para desenvolver seus conhecimentos, que sei, podem ser ainda maiores e mais coletivos, mas também de prestar contas à sociedade que os mantem de pé e neste processo de extensão universitárias nem sempre são respeitados. 

tecnicamente não foi o concerto perfeito. Não está isento de que o vejamos como passível de críticas que desemborquem na qualidade sonora de alguns trechos específicos como a morte do Cisne (pela terceira vez aqui em Sergipe e justo pelas três orquestras do estado). E ainda assim prefiro ir na contramão de quem espera que eu vá justificar os concertos da OSUFS como imunes já que aprecio a visão artística do Maestro Ion Bressan e pautar justamente aquilo que julgo ter sido infalível para que a noite de ontem 14-05-2014,  mesmo sob a égide de uma chuva torrencial e da pouca divulgação de massa o Teatro Tobias Barreto tenha recebido um público considerável e plural. Direcionamento artístico. 
Concerto alusivo aos 46 anos da UFS

E a noite foi recheada de cartadas que fizeram dela uma noite para além da chuva fora do teatro. Evolveu a medida que foi inteligente, artístico, pueril e não menos vibrante. Foi uma noite grata sobre maneira a que eu pudesse ver retornar ao palco do Tobias Barreto um formalismo estético e ponderadamente leve por parte de seu condutor ou também a altivez dominante de dialogar tão clarividente com seu público a ponto de não ser evasivo e prolongado ao dar ao público apenas um bis e sinalizar  o fim de uma era em que plateia não sabia se portar com conveniência e direcionava situações de embaraço e tumulto a cada fim de apresentação. E ao pontuar este aspecto, não estou afirmando com isso uma era ditatorial e distante do público. E sim de que entendo as ações antigas como parte do aspecto de educação e formação de plateia. de prender pelo estômago o espectador mediante sua fome. E depois de saciá-lo, falar-lhe da importância de novas cozinhas e conceitos. Educação essa que permitiu em medida um concerto sereno e educado ao respeitar o espaço de execução de obras que eram sequenciais como o Requiém de Mozart. 

Tangencialmente o concerto alusivo aos 46 anos de criação da Universidade Federal de Sergipe (UFS) foi também espaço de visibilidade para que pudêssemos  presenciar o crescimento musical e artístico da orquestra. O direcionamento e intercalamento das obras direcionou o concerto para uma dinâmica bastante interessante que poderia ser suicida (vide ser um programa de tantos excertos), mas que se solidificou extremamente atraente ao ser popularesco a medida em que foi eloquente. Soube passear com tanta segurança por esta perspectiva que em nada pode ser acusado de não erudito. E como espaço acadêmico, de experimentação, três possibilidades me chamaram mais atenção.

Tarcísio Rodrigues
A primeira no sentido cênico e plenamente avassalador quando o Spalla Tarcísio Rodrigues não só tomou o controle de suas expressões artísticas ao solar a Dança macabra do compositor francês Saint Säens, como também no plano musical pôde se mostrar tão maduro e expressivo como violinista. Foi tão engenhoso que conseguia, via suas pulsações, envolver seu naipe com um som recheado e reverberante a ponto de passar do palco ao público o mistério necessário para se deixar envolver pela dança. E por todo o conjunto desejar vê-lo mais vezes como estava ontem. Inspirado. 

Naline Menezes
A segunda possibilidade foi a de receber depois de oito anos vivendo em São Paulo a Soprano sergipana Naline Menezes para uma récita de memorável interpretação e potencial vocal. Já havia sido aprazível ao vê-la interpretar na semana passada temas da Disney e Brodway junto a ORSSE e se materializou para mim e além de qualquer desconhecimento prévio sobre o repertório que iria cantar, ao dar vida a canções como a melodia sentimental do brasileiro Heitor Villa Lobos, ou de quando cantava com todas as verdades cênicas um excerto da ópera Madame Buterfly de Giacomo Puccini fazendo qualquer um no teatro crer que mesmo trajando um lindo vestido azul tropical, fosse em verdade uma gueixa. A doçura que perpassou as canções veio num sentido identitário, o de reconhecer em nosso seio um talento nato com extensão de sabiá.

OSUFS e a Soprano Naline Menezes
E não menos empolgante, refleti toda o dia sobre como é vistoso o crescimento da orquestra, como dialoga num sentido de ir buscando se firmar como de fato essencial aos que a apenas a veem menor do que potencialmente o é. São níveis técnicos  e maturidades divididas entre quem já faz música e os que estudam para isso. E ainda que pungente ao fato de ser uma orquestra não profissional, e sim acadêmica e, que por sua própria natureza, tenda sempre buscar um limiar entre repertórios maduros e tecnicamente executáveis, tem sabido se colocar de maneira vistosa e desejo que siga mesmo rumo a esse caminho. Bem como já  havia falado em relação a temporada 2014 da ORSSE, afirmo o mesmo para a OSUFS, sinto que vá ser um grande ano para realizações e auto-firmações. Para isso, a orquestra contará inclusive com o empenho vistoso do CORUFS. Tem impressionado muito pelo entrosamento e pelas qualidades vocais que tem passado por ele. Ao soar no teatro ontem o Réquiem ganhou toda a virilidade que  lhe custou a acústica em sua ultima apresentação na igreja do São José. 


sexta-feira, 9 de maio de 2014

Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes.

Assim como antever a beleza indica sobre tudo o cuidado minucioso de não se comportar como amadora, principalmente quando diante das câmeras, dos músicos,do público e das mídias, propagamos uma orquestra das mais bem preparadas e atuantes do norte e nordeste. É uma pena que as situações vexatórias do concerto dedicado à Brodway e Disney na noite de ontem 08.05.2014 desaguem em cima de uma apresentação que tinha tudo para ser incrível e teve momentos encantadores, mas não passou de desconfortável e injusta com quem se dispôs a presenciar um espetáculo. E não irei aqui discorrer sobre o desemprenho da orquestra que foi inegavelmente inconteste frente a tantos inconvenientes, foi audível e viva na mesma proporção em que entreteve e arrebatou seus fãs, colocando-se como ainda o maior mérito de qualquer depreciação para quem espera ser tratado com respeito uma vez que é plateia. O concerto da última noite se configurou desde o inicio como um ato suicida, e não conseguiu parar de ecoar questões desconfortáveis levantadas pela reportagem madura do portal Infonet que pode ser conferida na integra aqui

Não esperei viver para ver o dia em que, para além de minhas opiniões constantemente duras em relação a ORSSE neste espaço, e em uma noite apenas, tantas questões simples e não menos importantes que sempre pautei neste blog em relação ao funcionamento da orquestra, viessem a tona, escancaradas em modo natural como quem se livra de um fardo e atribui culpas a terceiros de maneira despreparadamente leviana, a Secult através de seu assessor de comunicação Glauco Vinícius.


Não é a primeira vez que o público sergipano, mantenedor direto do acesso às artes em nosso estado, seja expostamente desrespeitados em situações em que prevalece a má gestão de recurso e direcionamento organizacional de um evento. O concerto Brodway/ Disney se pretendia uma ponte entre o popular e o erudito no intento de aproximar e levar a população menos frequente e sabedora das salas de concerto e acabou sendo o pivô em um escândalo tão evidente que beira ao patetismo. A equação é simples: 800 lugares de um teatro que não comportaria a fúria de fãs disputando a tapas ver a apresentação da noite, capacidade de lotação desrespeitada sumariamente com a abertura de ingressos além da capacidade mínima de o concerto acontecer em segurança, igual a pessoas abarrotadas nos corredores, em pé ao fundo do teatro e também do mezanino dele, enquanto lá fora uma grande parcela de pessoas se esgueiravam para tentar apreciar o concerto vide o fato de terem em mãos seus ingressos comprados. Caos. Absurdo que por si só não se justificaria, sendo que temos um teatro estatal, o Tobias Barreto que comporta mais de 3.000 lugares, mas que consegue ser pior quando o assessor da Secult afirma que a Orquestra não tem público suficiente e que quase sempre se apresenta com uma plateia que oscila entre baixa e media lotação como justificativa para o uso do Atheneu. E que além deste fato, parte da culpa é dos músicos que distribuem indeliberadamente cortesias afim de que as pessoas possam ir às suas apresentações, mas que esta distribuição ocorre de maneira aleatória e sem o mínimo controle de ninguém. Ninguém que bem pode ser em cadeia crescente Guilherme Mannis (Diretor artístico da orquestra), Cláudio Alexandre  (Diretor Administrativo) e Eloisa Galdino (Secretária de Cultura).

O que lamento muito é saber que à luz da verdade e no final de tudo, tenha recaído sobre as costas do maestro Daniel Nery (Regente adjunto da ORSSE) o desconfortável papel de servir como isca para os leões ao tentar explicar a confusa e irresponsável superlotação, de firmar um novo concerto adicional  para o dia de hoje e gratuito para sanar qualquer principio de incompreensão, mas chocar ainda mais os que ali sentados pagaram para ter acesso ao concerto, e quase em sequência desfazer o mal dito ao afirmar que não havia possibilidade de que o concerto fosse gratuito. Tudo isso dentro da perspectiva de ser prolixo ao tentar explicar o fato desastroso sem muito tato para se esvair sem ser atingido pelas críticas posteriores e no minuto seguinte vias de uma bagunça considerável da plateia que aglomerada potencializava o burburinho, ser deselegante ao tentar ponderar a pulso firme a necessidade de educação para assistir o concerto. Ora, então esse mesmo público, parte dele levado por um ônibus à porta do teatro pela própria Orquestra afim de divulgar o projeto de Orquestra Sinfônica Jovem, não padece antes de qualquer coisa, de uma formação musical adequada? De uma relação horizontal em que não seja preciso o maestro Daniel Nery tentar de maneira forçosa uma aproximação com o público menos esclarecido, ao explicar a mesma anedota misteriosa de ser dele a voz grave dos anúncios do programa de concerto pela segunda vez ou de tratar a plateia como se fôssemos os baixinhos da Xuxa, ao se dirigir a nós em sua afetada prosódia irritantemente circense e exaltiva aos diminutivos em fim de frase?

Não bastaria que a Orquestra evitasse de maneira organizacional antever os precipícios de um caminho de espinhos ao pensar artisticamente suas apresentações, ou de que fosse avaliada constantemente e de perto pela própria secretaria de cultura afim de assegurar menos vaidades desnecessárias e mais empenho em concertos simples e estruturalmente confortáveis como deveria ser o da noite passada? Não basta expor os músicos à sensação falsa de apoteose quando nos bastidores é sabido de todos que a realidade debaixo de cada lençol é menos pungente que o que se propaga quando não há controle de qualidade recorrente e que as críticas em nada vão arrancar do pedestal àqueles que fazem farra com o dinheiro público em detrimento de uma não defesa de melhores salários e condições de valorização artística para os músicos de sua agremiação. Afinal, se há algo a ser defendido e respeitado acima de qualquer confusão, são mesmos os músicos, que com bravura  se sustentam a cada circunstância perversa de nulidade e depreciação e se apresenta como a possibilidade de solidificação da vontade de fazer e levar ao povo sua arte.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Série Concerto nas igrejas

A maior reclamação que sempre lanço a meus amigos é justo sobre meu desejo de ler matérias relacionadas a música clássica aqui em Sergipe. Acabo por vezes sendo incisivo em aporrinhar a vida da blogueira do Violinos de Salto em meu afã por ver mais e mais espaços e pessoas diferentes escrevendo como que para descentralizar a opinião burra e tão recorrente deste espaço, sem perceber ainda que previamente consciente, o fato de que seu blog vá por uma linha ideológica completamente diferente. Ainda assim fica aqui o meu pedido que sei bem é o de muitos amigos, para que  Noemi Ferreira e a Thirza Costa, respectivas co-autoras dos saltos não nos deixem sem atualizações.  Passear por ele a espera de um novo texto é como a espera num campo de centeio. 

E o que me trás a depois de exatamente uma semana passado o último concerto da Orquestra Sinfônica de Sergipe (ORSSE) indicar a leitura de uma crítica sobre o referido Concerto e escrito pelo Pastor Jabes Nogueira Filho em seu blog. E ainda que eu ache muito destoante da minha realidade de escrita, me alegra o fato de poder ler sobre e não ter a obrigação de escrever sobre, como que para documentar. Vale a pena um passeio por todo o blog e não apenas o artigo em questão que pode ser lido aqui.
É um blog inteligente e tangível a quem acha que ser cristão é ir por uma vala comum de sensos rebaixados. Convicção é outra coisa e a quem interessam boas metáforas, indico a série de textos intitulado Parábola das coisas, que divaga sempre em mostrar boas perspectivas através de objetos e coisas que corriqueiramente passam desapercebidas.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Juro que todos os dias sonho em matar de vez este blog. Não o acho nada além de armadilha e ainda assim me sinto preso a seguir porque o amo, assim como amo a ORSSE ainda que me lembre o Gabo escrever quase em amarelo que o amor é uma cólera. Ou de quando Habemus Programa da temporada 2014 da Orquestra Sinfônica de Sergipe

Esperar o programa anual é quase a gestação de uma criança. E então me pergunto no espelho: 
_ Se o programa for muito mais do mesmo é equivalente a sentires que carregas nos braços uma criança feia? 
_ Tenho certeza que sim. E como todo pai imagino olhá-lo com os olhos de primeira vez. Sem tentar presumir o que será quando grande, se terá muitos e bons amigos, se serão poucos mas fiéis. Amará ou será amado? _ Será que haverá espaço para o ódio? 
_ Meu reflexo então respondeu paciente como se fosse a Roberta Sá e sem o riso cínico habitual no rosto ( não o dela, o meu. O meu eu no espelho) : _ Não há amor sem que uma hora o ódio venha e então que seja bendito o ódio que mantenha a intensidade do amor.
Não contente vasculhei umas fotos antigas; achei umas de mim criança e me pus a rir desenfreadamente com a feiura estampada em álbuns seguidos. Achei também umas de meus irmãos e mostrei ao mais novo. Não tínhamos certeza se era ele ou o outro. Ficamos confusos até ir tirar as conclusões. O pai respondeu que era o mais velho, e rimos sem parar como felizes por ser bem mais feios que nós dois ao que a mãe replica: Esse é você Elevi. 
_ Como a senhora sabe que sou eu? os tamanhos são diferentes e a cara não é a mesma.
_Tá ficando louco menino? Você saiu de dentro de mim esqueceu? 
Segui rindo, e não mais de nossas feiuras. Ria do quão simples é enxergar beleza onde não há, justo porque ali reside amor. E se é esperado como a um filho, se no parto doer e fizer chorar de emoção, ainda que nos primeiros passos tropece, que ao falar a primeira palavra não seja papai ( fazendo-o odiar o fato de ele não ter sido gerado em suas entranhas). No fim, rirá de contemplação e o abraçará como seu. E o é. 








Temporada 2014

  • Série “Música nas Igrejas” I

    25 de abril de 2014

    25, sexta-feira, 20h30
    Série “Música nas Igrejas” I – Primeira Igreja Batista de Aracaju

    GUILHERME MANNIS, regente
    MARCIO RODRIGUES, violino
    MIRNA HIPÓLITO, flauta
    ERICA RODRIGUES, flauta

    Georg Friedrich HÄNDEL
    Abertura do oratório “O Messias”
    Johann Sebastian BACH
    Concerto de Brandemburgo nº4, BWV 1048, em sol maior
    Felix MENDELSSOHN
    Sinfonia nº5, op.107, em ré maior, “A Reforma”
  • Laranjeiras I

    08 de maio de 2014

    08, quinta-feira, 20h30
    Laranjeiras I – Teatro Atheneu
    Concerto popular, Disney e Broadway

    DANIEL NERY, regente
    NALINI MENEZES, soprano

    Leonard BERNSTEIN
    Abertura Candide
    Stephen SCHWARZ
    Defying gravity, do musical “Wicked”
    Kristen ANDERSON-LOPEZ
    Let it go, do filme “Frozen”
    Andrew LLOYD WEBBER
    Think of me, do musical “O Fantasma da ópera”
    Claude SCHONBERG
    I dreamed a dream, do musical “Les Miserables”
    Johann Sebastian BACH/Leopold STOKOWSKI
    Toccata e fuga em ré menor
    Amilcare PONCHIELLI
    Dança das Horas, da ópera “La Gioconda”
    Paul DUKAS
    O Aprendiz de Feiticeiro

  • Cajueiros II

    22 de maio de 2014

    22, quinta-feira, 20h30
    Cajueiros II - Teatro Tobias Barreto

    GUILHERME MANNIS, regente
    DANIEL GUEDES, violino
    CORO SINFÔNICO DA ORSSE
    DANIEL FREIRE, regente

    Ludwig van BEETHOVEN
    Abertura Egmont
    Richard WAGNER
    Abertura e coro inicial da ópera “Os Mestres Cantores de Nurembergue”
    Coros “Einzug der Gäste” e “Beglückt darf nun”, da ópera Tannhäuser
    Johannes BRAHMS
    Abertura Trágica, op.81
    Ludwig van BEETHOVEN
    Concerto para violino e orquestra em ré maior, op. 61, em ré maior
  • Mangabeiras I

    05 de junho de 2014

    05, quinta-feira, 20h30
    Mangabeiras I - Teatro Tobias Barreto

    MPB Sergipana – Patrícia Polayne

    DANIEL NERY, regente

    O circo singular
    Sapato novo
    Arrastada
    Lentes de contato
    Quintal moderno
    Aparelho de memoriar
    O dote da donzela
    Rio Sim
    Sabiá, beija-flor
    Para o infinito
    Olhai o tempo do interurbano
  • Laranjeiras II

    27 de junho de 2014

    27, sexta-feira, 19h
    Laranjeiras II – Museu da Gente Sergipana

    GUILHERME MANNIS, regente

    Homenagem à cantora “Clemilda”

    Forró sem briga
    Recado a Propriá
    Rodero novo
    Fazenda Taquari
    Morena dos olhos pretos
    Guerreiro Alagoano
    Exaltação a Sergipe
    Prenda o Tadeu
    Recado pra Zetinha
    Dança Kerrenca
    Bilhete pra comadre Dinha
    Mamar na vaca ninguém quer
    Com menos gente
    Prenda o Tadeu
  • Cajueiros III

    10 de julho de 2014

    10, quinta-feira, 20h30
    Cajueiros III – Teatro Tobias Barreto

    GUILHERME MANNIS, regente
    CORO SINFÔNICO DA ORSSE
    DANIEL FREIRE, regente

    ROSANA LAMOSA, soprano
    CAROLINA FARIA, mezzo-soprano
    PAULO MANDARINO, tenor
    SEBASTIÃO TEIXEIRA, barítono

    Giuseppe VERDI
    Hino das nações
    Johannes BRAHMS
    Variações sobre um tema de Haydn, op.56a
    Anton BRUCKNER
    Te Deum
  • Mangabeiras II

    24 de julho de 2014

    24, quinta-feira, 20h30
    Mangabeiras II – Teatro Tobias Barreto

    DANIEL NERY, regente
    ANTONIO LAURO DEL CLARO, violoncelo

    João Guilherme RIPPER
    Psalmus
    Nino ROTA
    Concerto para violoncelo e orquestra
    Ralph VAUGHAN-WILLIAMS
    Sinfonia nº2, em sol maior, “Londres”
  • Mangabeiras III

    07 de agosto de 2014

    07, quinta-feira, 20h30
    Mangabeiras III – Teatro Tobias Barreto

    JUAN TRIGOS, regente convidado
    TAMILA SALIMDJANOVA, piano (vencedora do concurso BNDES)

    Piotr I. TCHAIKOVSKY
    Concerto nº1, em si bemol maior, para piano e orquestra
    Juan TRIGOS
    Sinfonia nº2, versão de câmara
    Alberto GINASTERA
    Variaciones Concertantes
  • Laranjeiras III

    27 de agosto de 2014

    27, quarta-feira, 20h30
    Laranjeiras III – Teatro Atheneu

    GUILHERME MANNIS e JAMES BERTISCH, regentes

    Edital da música sergipana – Cantores e bandas da terra
    Beatles Sinfônico
    Eleanor Rigby
    Got to get you into my life
    She’s leaving home
    Strawberry fields forever
    Penny Lane
    All you need is Love
    I am the walrus
    Pepperland (George Martin)
    Glass onion
    Martha, my dear
    Here comes the sun (George Harrison)
    Golden slumbers – Carry that weight – The end
  • Mangabeiras IV

    11 de setembro de 2014

    11, quinta-feira, 20h30
    Mangabeiras IV - Teatro Tobias Barreto
    An American Tour – Obras populares americanas

    LUIZ MALHEIRO, regente
    DANIELA CARVALHO, soprano

    Samuel BARBER
    Abertura “The School for Scandal”, op.5 (1931)
    Knoxville:  Summer of 1915
    Intermezzo da ópera “Vanessa”, op.32 (1957)
    Andromache\'s Farewell, op.39 (1962)
    George GERSHWIN
    Abertura da ópera “Porgy and Bess” (1935)
    Summertime, da ópera “Porgy and Bess” (1935)
    Harold ARLEN
    Somewhere Over the Rainbow (1938)
    Cole PORTER
    Medley (Begin the begin - So in love - I\'ve got under my skin - Night and day)
  • Cajueiros IV

    25 de setembro de 2014

    25, quinta-feira, 20h30
    Cajueiros IV – Teatro Tobias Barreto

    GUILHERME MANNIS, regente
    ALESSANDRO BORGOMANERO, violino

    Piotr I. TCHAIKOVSKY
    Serenade Melancolique
    Henry WIENIAWSKY
    Concerto nº2 para violino e Orquestra
    Piotr I. TCHAIKOVSKY
    Sinfonia Manfred
  • Mangabeiras V

    09 de outubro de 2014

    09, quinta-feira, 20h30
    Mangabeiras V – Teatro Tobias Barreto

    HELDER TREFZGER, regente convidado

    Heitor VILLA-LOBOS
    Sinfonietta nº1
    Renato GOULART
    Três momentos Sinfônicos
    Wolfgang Amadeus MOZART
    Sinfonia nº41, em dó maior, “Júpiter”
  • Laranjeiras IV

    22 de outubro de 2014

    22, quarta-feira, 20h30
    Laranjeiras IV – Teatro Atheneu

    VICTOR HUGO TORO, regente convidado
    DANIEL FREIRE, piano

    Charles GOUNOD
    Suíte Fausto
    George GERSHWIN
    Rhapsody in Blue
    Joseph HAYDN
    Sinfonia nº104, em ré maior, Londres
  • Cajueiros V

    06 de novembro de 2014

    06, quinta-feira, 20h30
    Cajueiros V – Teatro Tobias Barreto

    DANIEL NERY, regente
    JAIR MACIEL, contrabaixo

    Wolfgang Amadeus MOZART
    Abertura da ópera “A Flauta Mágica”
    Frank PROTO
    Fantasia sobre a ópera “Carmen”, para contrabaixo e orquestra
    Ludwig van BEETHOVEN
    Sinfonia nº6, op.68, em fá maior, “Pastoral”
  • Série “Música nas Igrejas” II

    21 de novembro de 2014

    21, sexta-feira, 20h30
    Série “Música nas Igrejas” II – Primeira Igreja Batista de Aracaju

    GUILHERME MANNIS, regente
    FÁBIO FREITAS, saxofone

    Heitor VILLA-LOBOS
    Concerto para Saxofone e Orquestra
    Hector BERLIOZ
    Sinfonia Fantástica
  • Laranjeiras V

    04 de dezembro de 2014

    04, quinta-feira, 20h30
    Laranjeiras V – Teatro Atheneu

    DANIEL NERY, regente
    HEINZ SCHWEBEL, trompete

    Camille SAINT-SAËNS
    Dança macabra, op. 40
    Alexander Arutunian
    Concerto para trompete e orquestra
    Franz SCHUBERT
    Sinfonia nº4, “Trágica”
  • Natal da Gente Sergipana

    06 de dezembro de 2014

    06, sábado, 17h
    Museu da Gente Sergipana

    GUILHERME MANNIS, regente

    NATAL DA GENTE SERGIPANA
  • Cajueiros VI

    18 de dezembro de 2014

    18, 19 quinta e sexta-feira, 20h30
    Cajueiros VI – Teatro Tobias Barreto

    GUILHERME MANNIS, regentes
    CORO SINFÔNICO DA ORSSE
    CORO INFANTIL DA ORQUESTRA JOVEM DE SERGIPE
    DANIEL FREIRE, regente
    NALINI MENEZES, soprano
    ROZIEL BENVINDO, barítono
    JONATHAS MATHIAS, tenor

    Carl ORFF
    Carmina Burana

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Nunca recuse um convite de ir comer Peruvian food achando que um Villa Lobos pode te preencher mais. A fome se duplicará até te lembrares que esta noite choveu muito nas pedras de tua rua.

1. Continuo creditando muita expectativa sobre o trabalho do Maestro adjunto da Orquestra Sinfônica de Sergipe (ORSSE) Daniel Nery, ainda que ele tenha se arrastado sobre o próprio peso ao reger a 7ª Bacchiana do Heitor Villa Lobos esta noite. Não duvido que suas tentativas de levar bom entretenimento passa antes por uma dedicada análise conjetural. Como quando se compromete a aproximar-se da plateia de maneira leve e natural, ou de quando há que se notar que nada pode contra a ineficiência técnica de determinado setores sob a sua regência.

1.1 Muito boa a escalação do programa desta abertura de temporada (e não, o concerto de aniversário de Aracaju não havia sido a abertura como divulguei aqui, ainda que eu não entenda a anulação de um pelo outro.) Juntos o Prelúdio para a tarde de um Fauno, de Claude Debussy, a Pavane op. 50 de Grabiel Fauré e a sétima Bacchianas brasileiras do compositor brasileiro Heitor Villa Lobos somam uma atmosfera de doçura e viagens vibrantes por movimentos distintos como o Impressionismo, Romantismo e o Modernismo. 

2. Fico feliz sempre que ouço a flauta da Mirna Hipólito e para além do que foi o todo hoje, nesta peça em questão,  ao entregar o tema do Fauno para a querida Oboé (que desconheço o nome, já que procurei referências suas no programa, mas ele está um tanto desatualizado) pude sentir que um minuto apenas que seja, vale um concerto inteiro de esperança.

3. E justo para reparar uma injustiça descabida de quem não lê o que escrevo e brinca de telefone sem fio: Quando falo do desgosto pessoal pelas madeiras das ORSSE tenho claro o brilhantismo dos que brilham como o Clarinetista Felipe Freitas (que hoje mais que tudo, em muitos momentos arrancou fôlego para salvar a beleza, como  lá pelo 5 minuto da Pavane ) e o Fagotista Isaac Soares que para além do programa, sempre nos arranca atenção para o som desconhecido e misteriosamente tão bem empostado de seu instrumento. 

4. Repito que me alegra ouvir a Thais Rabelo conduzir a Harpa, e ainda que soe clichê a defesa do músico sergipano em seu ingresso intermitente nos espaços musicais em nossa província. Há muito talento nela por defender.

5. Se há algo de sonoro e bonito nos violinos como o foi hoje em bons momentos, como quando pareciam querer salvar o fiasco que foi o Villa Lobos, lá do meio para o final do segundo movimento (quadrilha caipira) ou durante toda a fuga no quarto movimento, é ver se destacar lá no final do naipe de violinos primeiros o curitibano Eduardo Linzmayer. Ao que me pergunto diante de tamanha desenvoltura com a qual brinca de tocar e com isso faz festa, assim como o faz a primeira estante, o que ainda estão fazendo se perdendo nesta orquestra. Não há dúvida que haja destreza e potencial para o voo além fronteiras. Espero que não caduque o tempo nem seja cruel a paralisia que corrompe o desejo de seguir. 

6. Deus salve minha cabeça  e os Cellos da ORSSE.

6.1 Deus salve minha cabeça e os Oboés da ORSSE

7. Deus salve minha cabeça e desfaça a confusão aparente na qual os metais mergulharam neste 10 de abril. Que não seja reflexo do ano inteiro.

8. Isso tudo para desfazer o maldito que encontrei escrito aqui de que ano após ano os músicos da ORSSE vem crescendo e aprimorando a ênfase dos programas trabalhados. O concerto de hoje foi prova minuciosa de que tentar desviar o caminho da naturalidade como quem tapa o sol com a peneira não é em si uma boa abordagem. 

9. Assim como não entendo o comprometimento por parte da Secult, já que é ela quem subsidia as atividades de nossa orquestra, em fingir de maneira ensandecida  que a ORSSE só existiu desde o Maestro Guilherme Mannis para frente. Não é uma questão de defesa pessoal ao Maestro Ion Bressan como rotulam muitos a meu respeito, e sim um ataque direto à ignorância dos que esquecem que bem antes dos dois maestros a Orquestra já tinha uma história sob a direção de tantos outros regentes e situações sócio-economicas como o Maestro Sergipano Rivaldo Dantas. 

9.1 É sem duvidas um crime grave contra a memória da construção da cena musical no nosso Estado que seu site ou veiculações jornalísticas não apresente minimamente a ORSSE desde a sua fundação na década de oitenta e apresente-a como ativa e regular apenas a partir do ano de 2007 como pode ser conferido aqui.

10. Tudo isso para que voltemos ao ponto inicial: Para quem serve e a que serve termos uma instituição tão cara que não preserva as raízes memorialistas de nossa história e passa por cima de conceitos mínimos como o de não entender o público sergipano e os artistas da terra como parte integrante de seu funcionalismos. Fazer essa tal integração inclusive, vai além de promover um concerto alusivo as obras da Disney e Broadway e estigmatizá-lo como popular, ferindo o caráter inicial e melódico das composições eruditas, ou de achar que nossa identidade é apenas o Forró. Que venha Cremilda e Polayne, mas que também se comprometa a conhecer nosso folclore como música de raiz...