segunda-feira, 31 de março de 2014

Ouve aquela canção que não toca no rádio 2!

Tudo começa de um ponto nulo em que nos damos conta da importância de algo. Daí a seguir parado ou se movimentar é um abismo. Semana passada revolvi na cama com o espirito inquieto em busca de uma melodia. Nas gavetas entreabertas de minha escrivaninha nada de muito expressivo, nas muitas pastas com arquivos de áudio em meu computador era também mais do mesmo. 

Desde começar a chover agorinha a pouco e os pingos grossos de chuva açoitarem a porta de vidro potencializando o frio vindo do ar-condicionado e a mesma sinfonia se repetir extensivamente no meu celular, decidi não escutá-la e o som que seguia se propagando no quarto abafava meu tesão em despertar por completo. Muitos instrumentos chiando ao mesmo tempo dessa vez foi lacerante, acho inclusive que só por hoje ou ao menos por aquela eternidade em que minha cama era maior alento que meu desejo musical, decidi que um ou dois instrumentos estavam de bom tamanho. 


terça-feira, 25 de março de 2014

A minha mãe me deu uma surra porque quebrei uma tigela. Imagine se ela visse meu namoro na janela Papagaio.

Na última segunda-feira em comemoração ao aniversário da cidade de Aracaju, a Orquestra Sinfônica de Sergipe (ORSSE) prestigiou o público sergipano com um concerto alusivo à data e deu ponta pé inicial à temporada de apresentações do grupo. Uma concerto que se iniciou na tarde daquele dia, varou a noite e empolgou muitíssimo os presentes no Parque dos Cajueiros. 

2014 parece abrir-se com uma perspectiva diferente dos anos anteriores em muitos segmentos musicais em Sergipe. E em vários aspectos se configura como uma boa perspectiva de tentativas de ajustar erros substanciais ou alcançar patamares ainda inalcançáveis. Foi dentro dessa perspectiva que vi a ORSSE se lançar no último concerto e nos prestigiar com um concerto dançante, envolvente e sereno. Alcançar a população sergipana  é talvez ainda o único mérito não conseguido pelo grupo que passeia como unanimidade entre os meios de comunicação que a vincula sempre de maneira muito positiva, e tem lá suas verdades. 

Desde a entrada do Regente Paulista Guilherme Mannis à frente da direção artística do grupo, é vistoso quanto a orquestra deu saltos e vem se mostrando esteticamente coerente com o título que carrega. O de orquestra. Desde pequenos detalhes como uma melhor editoração dos programas impressos até às formalidades cênicas de palco que são seguidas a risca como  fazem os grandes grupos. Mudou o figurino, mudou o direcionamento artístico com a escolha de repertórios mais eruditos e menos excertosos, tentou desvencilhar-se mais dos palcos do teatro com um série de concertos dedicada a levar música clássica aos interiores do nosso estado e também da catedral metropolitana de Aracaju. São indizíveis contribuições inclusive para desmistificar em nosso estado a arte como consequência ocasional e não como produto de uma concepção detalhadamente maior. 

Méritos impassíveis de injúria mas que em termos práticos não causam nada além de sono a quem desconhece o funcionamento real de uma agremiação como essa. E se o digo é justamente para aludir ao fato de que mesmo exultante frente a tantas qualidades, me preocupo por aquilo que  deveria ser mais importante. Derrubar os muros que separam a multidão extasiada do concerto no Parque e levá-los aos espaços fixos da orquestra. Não é tarefa fácil, mas como já pôde evidenciar o Maestro Mannis em boas oportunidades não é a coisa mais inatingível de se fazer e prima por conceitos bem menores. Não estou com isso dizendo que os concertos devem ser pautados por programas puramente populares, por que não é apenas uma questão de escolha de repertório. É entender para quem ou pra que fazemos um concerto e mantemos um grupo que não representa nada em termo de identidade aos que a mantêm como grupo. E acho mesmo que o êxito parte por esse caminho. O de se firmar como o que se pode ser e não como aquilo que não é.

A ORSSE é sim representativamente interessante, mas muito se construiu sobre o pilar da mentira que se naturaliza como verdade.  É só olhar para determinados naipes deteriorados da orquestra que podemos constatar a inexistência deles e como reflexo direto o mau funcionamento da execução de determinadas obras, e tudo isso desemboca inclusive no fato de como plateia,  esperar por concertos que nunca virão ou mesmo alguns que já se anunciam como tiro no pé. E se é duro refletir sobre questões tão preliminares, imaginemos seguir por um caminho pior que é o de constatar que em termos de manutenção a orquestra praticamente paga para existir justamente por não sair do meio termo. Não se auto sutenta como os grandes grupos vide a baixa procura regular por suas apresentações, e nem se abre para ser casa de observação de todos. É como apenas e exclusivamente  portfólio da vaidade de um maestro que inclusive na temporada de 2013 esqueceu de reger sua própria orquestra e viajou.