Na última segunda-feira em comemoração ao aniversário da cidade de Aracaju, a Orquestra Sinfônica de Sergipe (ORSSE) prestigiou o público sergipano com um concerto alusivo à data e deu ponta pé inicial à temporada de apresentações do grupo. Uma concerto que se iniciou na tarde daquele dia, varou a noite e empolgou muitíssimo os presentes no Parque dos Cajueiros.
2014 parece abrir-se com uma perspectiva diferente dos anos anteriores em muitos segmentos musicais em Sergipe. E em vários aspectos se configura como uma boa perspectiva de tentativas de ajustar erros substanciais ou alcançar patamares ainda inalcançáveis. Foi dentro dessa perspectiva que vi a ORSSE se lançar no último concerto e nos prestigiar com um concerto dançante, envolvente e sereno. Alcançar a população sergipana é talvez ainda o único mérito não conseguido pelo grupo que passeia como unanimidade entre os meios de comunicação que a vincula sempre de maneira muito positiva, e tem lá suas verdades.
Desde a entrada do Regente Paulista Guilherme Mannis à frente da direção artística do grupo, é vistoso quanto a orquestra deu saltos e vem se mostrando esteticamente coerente com o título que carrega. O de orquestra. Desde pequenos detalhes como uma melhor editoração dos programas impressos até às formalidades cênicas de palco que são seguidas a risca como fazem os grandes grupos. Mudou o figurino, mudou o direcionamento artístico com a escolha de repertórios mais eruditos e menos excertosos, tentou desvencilhar-se mais dos palcos do teatro com um série de concertos dedicada a levar música clássica aos interiores do nosso estado e também da catedral metropolitana de Aracaju. São indizíveis contribuições inclusive para desmistificar em nosso estado a arte como consequência ocasional e não como produto de uma concepção detalhadamente maior.
Méritos impassíveis de injúria mas que em termos práticos não causam nada além de sono a quem desconhece o funcionamento real de uma agremiação como essa. E se o digo é justamente para aludir ao fato de que mesmo exultante frente a tantas qualidades, me preocupo por aquilo que deveria ser mais importante. Derrubar os muros que separam a multidão extasiada do concerto no Parque e levá-los aos espaços fixos da orquestra. Não é tarefa fácil, mas como já pôde evidenciar o Maestro Mannis em boas oportunidades não é a coisa mais inatingível de se fazer e prima por conceitos bem menores. Não estou com isso dizendo que os concertos devem ser pautados por programas puramente populares, por que não é apenas uma questão de escolha de repertório. É entender para quem ou pra que fazemos um concerto e mantemos um grupo que não representa nada em termo de identidade aos que a mantêm como grupo. E acho mesmo que o êxito parte por esse caminho. O de se firmar como o que se pode ser e não como aquilo que não é.
A ORSSE é sim representativamente interessante, mas muito se construiu sobre o pilar da mentira que se naturaliza como verdade. É só olhar para determinados naipes deteriorados da orquestra que podemos constatar a inexistência deles e como reflexo direto o mau funcionamento da execução de determinadas obras, e tudo isso desemboca inclusive no fato de como plateia, esperar por concertos que nunca virão ou mesmo alguns que já se anunciam como tiro no pé. E se é duro refletir sobre questões tão preliminares, imaginemos seguir por um caminho pior que é o de constatar que em termos de manutenção a orquestra praticamente paga para existir justamente por não sair do meio termo. Não se auto sutenta como os grandes grupos vide a baixa procura regular por suas apresentações, e nem se abre para ser casa de observação de todos. É como apenas e exclusivamente portfólio da vaidade de um maestro que inclusive na temporada de 2013 esqueceu de reger sua própria orquestra e viajou.