sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Ao menos não foi como ter visto a treze anos atrás cair em Slow Motion as Torres Gêmeas. Ainda assim era 11 de Setembro e a poeira leva tempo até assentar-se.

A orquestra Sinfônica de Sergipe (ORSSE) recebeu em seu palco na noite de ontem duas importantes personalidades do cenário musical brasileiro. O Maestro Luiz Fernando Malheiro e a Soprano Daniella Carvalho que junto com a orquestra executaram um repertório dedicado à composições Americanas. Não ficou claro se o Concerto era alusivo ou não ao ataque das Torres do complexo World Trade Center, que sofreram um 2001 ataque terrorista matando milhares de pessoas, mas coincidentemente ou não a apresentação de ontem a noite carregou em si tal conotação. 

É quase sempre engrandecedor receber convidados tarimbados para estar a frente de nossa orquestra, alguns passam como se fossem dispensáveis, é bem verdade, outros, como é o caso da Daniella e do Malheiro, chegam para abrilhantar e se fazer necessário frente a tamanho silêncio. Se não o fosse assim, o concerto de ontem teria sido mais um da série 2014 não tem sido um ano afável com a ORSSE, a julgar os desmantelos e amadorismos na condução desta temporada atípica. 

Daniella Carvalho
A voz da Soprano realmente ecoa com a rigidez necessária a prender o fôlego de quem a escuta  e seu vulto se movimenta no palco com a serenidade inevitável de um Flamingo posto sobre uma única perna, cabeça erguida à beira do lago a espreita de um horizonte que virá em revoada.
 Não havia ruptura na densidade de seu canto, a não ser a necessária, a cênica, por conta da mudança de estilo musical. De maneira tal que não foi em nada lesivo a transição da primeira parte do Concerto, mais voltada a trechos sinfônicos, pra de quando no segundo momento a Soprano interpretou clássicos populares da música Americana como So In Love, I've got you under my skin,  Night and day e Begin the beguine. 

Luiz Fernando Malheiro
Já o consagrado e tão prestigiado diretor operístico Luiz Fernando Malheiro, chegou ao Teatro Tobias Barreto, aqui em Aracaju, com a conotação leve de quem entende o palco no qual pisa. Sua figura por si desponta qualquer perspectiva de afoitismo e a tranquilidade com a qual dirige sua marcação é de impressionar pelo didatismo e  singeleza. Ao tomar a voz no início do espetáculo, junto à Soprano, dedicou o Concerto à memória da renomada Soprano Italiana Magda Olivero, que faleceu aos 104 anos esta segunda-feira 08 de Setembro. E seguiu pelo caminho de agradecer o convite do Maestro Guilherme Mannis e enfatizar o lugar de destaque que a orquestra conquistou no cenário musical nacional.

É bem verdade e me alegro ouvir louros em relação a orquestra sinfônica de meu Estado natal, de vê-la dentre os quinhões de importância daqueles que vivem e promovem a música. A ORSSE é sem dúvida um espaço de construção interessante e porta em suas dependências muitos potenciais, desde os sublimes aos abissais. O que mais preocupa em tons menores é justo de onde ela veio, onde chegou e para onde caminha. Ao completar trinta anos de fundação, justo no ano de 2014 é uma orquestra que não merece por parte de seu próprio berço honras e menções. Homenagens mínimas que afaguem os anais da história. E segue errando por fazer dela um presente sem passado. Que surgiu do nada e caminha para o descompromisso com quem a mantém.  Vagueia como quem é apenas uma máquina e que os sentimentos, o humanismo, próprio do indivíduo não ultrapasse a significância de apenas ser grupo. Seja por questões administrativas ou de ego, vide o Beatles sinfônico cancelado sem prévio aviso nos meios de comunicação e a constante desatualização informativa de suas atividades via site institucional que mudou muito desde o início da temporada. Se viver é ir-se despindo das cores que matizam a liberdade, até que nos precipitemos camaleonicamente no vazio incolor da necessidade última, que é morrer, espero que haja na ORSSE espirito de fênix para que 2015 ressurja com vigor de novo.