quarta-feira, 24 de julho de 2013

Embora a melodia seja sentimental e o vídeo saudosamente tendencioso , não queria falar apenas do Villa Lobos e sim de como o sopro que brota do chão de Itabaiana me fascina como se fosse a primeira vez que os escutei!

E não entendia absolutamente nada de musicalidade. Julgava o bom e o ruim pela perspectiva apenas da afinidade musical. Quase que em geral o conjunto dos sopros era o naipe que menos me agradava em qualquer agrupamento e talvez por isso mesmo nunca fui um apreciador das bandas de fanfarra. Meus ouvidos me empurravam quase sempre para escolhas de repertório que explorassem mais as cordas e sobre maneira a percussão.

A obviedade em alguns casos nos manda que sejamos atentos às novas possibilidades e que sejamos menos absolutistas em se indispor com um ou outro gênero especifico. O que de certa forma me levou a observar com mais atenção o conjunto de sopros de uma orquestra. Por fim, e aos poucos fui me aproximando da realidade deles e tentando conhecer um pouco mais, fato esse que inclusive me faz sentir inveja diante da minha incapacidade respiratória para aventura-me em aprender a tocar Oboé

A cada dia me impressiona a qualidade musical dos sopros na cidade de Itabaiana (agreste sergipano), e não falo restritivamente em relação a atuação deles dentro de uma orquestra, ao contrário, falo sobre a herança histórica que vem se desenvolvendo nesse sentido na cidade. Não sem propósito, Itabaiana abriga a instituição musical mais antiga no pais em atividades ininterruptas, a Filarmônica Nossa Senhora da Conceição (FNSC). São 268 anos de trabalho e incentivo à manutenção da arte musical, que começou como serviços sacros e que hoje é referência em ensino e promoção de música para jovens e que abriga a Orquestra Sinfônica de Itabaiana (OSI). Como qualquer cidadezinha do interior, a música em Itabaiana se desenvolve conjunturalmente a partir de uma pequena banda de música, as chamadas fanfarras. É sem dúvida um expoente na formação dos músicos mais práticos que acadêmicos. E esse fato tem lá suas vantagens. 

Se por um lado crescer e morrer enfurnado dentro de uma agremiação dessa natureza atavia as possibilidades artísticas dos músicos, que muitas das vezes, na maioria delas, não conseguem se sobrepor a esse tipo de conjunto e ir além profissionalmente (sobre maneira pela característica cultural de que fazer parte de de uma banda como essa tem vida útil; assim como sua projeção como musicista), do outro, é quase certa a versatilidade com que a percepção musical se projeta para cada um dos músicos. É como se a teoria fosse estritamente cognitiva e que os manuais de nada servem sem o apuro de compreender de maneira empírica a dinâmica de cada melodia. Essa é a grande diferença entre os músicos de banda de fanfarra e muito músicos bons de formação acadêmica. Não é regra claro, mas potencialmente o primeiro grupo se sobressai sonoramente em relação ao segundo me fazendo imaginar que se todos eles tivessem o mesmo acesso à educação, o esplendor de tê-los em grupos sinfônicos seria inigualável. 

Não é diferente em Itabaiana. Não é difícil olhar em volta e perceber o apuro que madeiras e metais itabaianenses imprimem ao longo dos anos. O que coloco como qualitativo aqui, é justamente porque em termos proporcionais, a grande maioria daqueles jovens estudantes de música nunca frequentaram uma universidade ou tiveram acesso a professores gabaritados de maneira constante. Sua formação é muito mais o desejo de desenvolver-se e fazer música. Digo com a precisão de quem esteve por perto por muitos tempo e pode observar o desprendimento comercial em sua formação. Aprendiam de maneira voluntária e também assim o executavam nos diversos grupos. Foi justamente nesse período que conheci de perto muitos músicos com talento nato, que sopravam como exercício da alma como muitas vezes vi fazerem os flautistas Bianca Paixão, Levy Lopes e Isabela Oliveira (todos na faixa dos 15 anos ou menos na época). Recordar a brincadeira genial que fizeram com o solo do Adiós nonino do Piazzolla é uma lembrança que só reverbera em bons outros momentos como a Carmen do Bizet no teatro Lourival Batista em Aracaju, ou mesmo, ficar horas a fio escutando a disparidade que existia e de certo ainda persiste entre as cordas e os sopros da OSI como quando executamos a melodia sentimental do Heitor Villa Lobos no palco do Tobias Barreto. Era um som experimental, era um grupo de estudantes recém descobrindo a música e ainda assim, parecia que músicos como o Isaac Santana, Jackson Higino, Tassio Trindade, Frederico Cunha, Márcio Paixão e Max Santana (que já foi felizmente citado aqui) ,Todos ainda muito novos, ou veteranos como Nailson Rosa e Alisson Vasco, conseguiam fazer brotar beleza de um solo que em termos de sonoridade das cordas, ficam muito a frente em termos de segurança e qualidade. 

É necessário ponderar que tudo isso é reflexo de uma tradição antiga de cultivo à música dos pequenos grupos, das fanfarras que enchiam as praças para que todos os vissem em grandeza e da herança militar de marchar em fila empunhando seus instrumentos como alerta de glória. Itabaiana é sem dúvida um polo, assim como outras tantas cidades espalhadas por Sergipe e pelo Brasil em que o poder público se isentou da responsabilidade de manter viva a cultura e que os que verdadeiramente se propõe a fazer o faz em tom de tirania ou fins lucrativos. De modo que esse post é apenas um alento no sentido de que existe grandeza no som daqueles jovens.  Um desejo sinuoso de que cada um deles possam ter a oportunidade de catapulta.




segunda-feira, 22 de julho de 2013

Será um mau presságio no Ballet Bolshoi?

Em mais um episódio polêmico na história recente do teatro Bolshoi, na Rússia, um dos violinistas mais antigos da instituição morreu depois de cair num fosso em frente ao palco, pouco antes de um ensaio da orquestra.
Viktor Sedov, 65, tocou violino em balés e óperas do teatro de Moscou durante 4 décadas até o trágico incidente, que aconteceu na terça-feira (16). 
Sedov foi levado ao hospital e morreu no dia seguinte, segundo informações do próprio Bolshoi.

O músico tocava nos segundos violinos e era um membro popular da orquestra, conhecido por seu "senso de humor e extraordinária erudição". As circunstâncias exatas da morte permanecem obscuras.
A morte de Sedov é mais uma má notícia num ano conturbado no Bolshoi. Em janeiro, Sergei Filin, diretor artístico do balé, sofreu um ataque e teve ácido jogado em seu rosto, o que o deixou quase cego.
A investigação sobre o caso levou à prisão bailarino Pavel Dmitrichenko, um dos principais do elenco da instituição, que admitiu ter sido o mentor do atentado. Além disso, outro bailarino, Nikolai Tsiskaridze, foi expulso do balé.
Teatro Bolshoi foi reaberto há dois anos
Na última semana, o diretor artístico do teatro, Anatoly Iksanov, foi demitido após 13 anos por causa de "uma situação difícil no Bolshoi", segundo informou o ministro da Cultura da Rússia, Vladimir Medinsky. 
O teatro Bolshoi foi reaberto há dois anos, com um investimento de quase Ç 500 milhões.

Fonte: www.uol.com.br 

terça-feira, 2 de julho de 2013

Concertos digitais. Essa moda deveria vingar!

Muitas vezes tenho falado neste espaço sobre a importância de difundir a música orquestral não como algo esteticamente fechado e restrito a grupos, e sim como uma possibilidade mais abrangente de contato com as camadas menos informadas sobre sua construção e efeitos. Não é fácil ser orquestra para públicos ainda não domesticados, de mesmo modo, não é fácil ser  plateia quando existe uma imensa barreira que separa o sentimento de se oportunizar conhecer aquele novo gênero musical, do sentimento de repulsa quando as formalidades ataviam a liberdade de compreensão. Em determinada oportunidade escrevi no blog Soldadinho de Chumbo que não é possível ser civilizado e liberto ao mesmo tempo, e sigo acreditando que setores como orquestras contribuam cada vez mais para esse cerceamento.

Site Universo Online
De toda sorte, ainda existem tentativas de dialogar com um público maior que o de costume, sejam por causas ideologicamente comprometidas ou comerciais, e ainda assim louvo a iniciativa do Site de notícias UOL que abre pela primeira vez espaço para essa divulgação, e firma uma parceria que me parece e desejo que assim o seja, interessante, com a Orquestra Sinfônica de São Paulo (OSESP). Juntas elas fazem nesta quarta-feira 04 de Julho a partir das 20:45,  o primeiro concerto da Série Digital. Os concertos serão transmitidos ao vivo para os espectadores da Tv uol

"Sob regência da nova-iorquina Marin Alsop, a orquestra apresenta composições de Mozart, Dvorák e Prokofiev. Confira o programa abaixo.
O concerto conta ainda com o premiado solista de violino Stefan Jackiw."
OSESP e Marin Alsop

Sem dúvidas é uma ótima oportunidade para levar à música erudita além dos muros de uma sala deaqui!
concertos, e pretensiosamente atingir a muito mais pessoas que não conseguem pagar uma entrada neste tipo de espetáculo, mas que agora já tem a possibilidade de ser tocado sem mesmo necessitar sair de casa. Ainda que não seja a mesma sensação, a mesma catarse de estar diante de um grupo sublevando a alma através da música, é um ótimo começo e vale a pena conferir o programa do concerto