quinta-feira, 15 de maio de 2014

Começou doce, virou mistério, caminhou rumo a espiritualidade, arrebatou ao passear pelo Brasil e ser tão universal. Ou de quando tem muito dinheiro entrando na minha conta por escrever este post e ainda assim deixo aqui o número de minha poupança a quem mais interessar me comprar: B.B agc: 5657-X CP: 15.207-2 / 51

Inegavelmente a Orquestra Sinfônica da Universidade de Sergipe (OSUFS) vem já há bastante tempo sendo dos maiores, senão o principal espaço de educação musical para o público aqui em Sergipe, e nessa perspectiva me alegra o fato de ser aluno da referida  instituição, de já ter sido parte da Orquestra e principalmente por poder prestigiar de fora dela a grandiosidade de alcance a tantas camadas. Prioritariamente por entendê-la dentro de um plano de extensão que realmente funciona como base acadêmica aos que fazem o curso de música poderem não apenas ter mais um espaço para desenvolver seus conhecimentos, que sei, podem ser ainda maiores e mais coletivos, mas também de prestar contas à sociedade que os mantem de pé e neste processo de extensão universitárias nem sempre são respeitados. 

tecnicamente não foi o concerto perfeito. Não está isento de que o vejamos como passível de críticas que desemborquem na qualidade sonora de alguns trechos específicos como a morte do Cisne (pela terceira vez aqui em Sergipe e justo pelas três orquestras do estado). E ainda assim prefiro ir na contramão de quem espera que eu vá justificar os concertos da OSUFS como imunes já que aprecio a visão artística do Maestro Ion Bressan e pautar justamente aquilo que julgo ter sido infalível para que a noite de ontem 14-05-2014,  mesmo sob a égide de uma chuva torrencial e da pouca divulgação de massa o Teatro Tobias Barreto tenha recebido um público considerável e plural. Direcionamento artístico. 
Concerto alusivo aos 46 anos da UFS

E a noite foi recheada de cartadas que fizeram dela uma noite para além da chuva fora do teatro. Evolveu a medida que foi inteligente, artístico, pueril e não menos vibrante. Foi uma noite grata sobre maneira a que eu pudesse ver retornar ao palco do Tobias Barreto um formalismo estético e ponderadamente leve por parte de seu condutor ou também a altivez dominante de dialogar tão clarividente com seu público a ponto de não ser evasivo e prolongado ao dar ao público apenas um bis e sinalizar  o fim de uma era em que plateia não sabia se portar com conveniência e direcionava situações de embaraço e tumulto a cada fim de apresentação. E ao pontuar este aspecto, não estou afirmando com isso uma era ditatorial e distante do público. E sim de que entendo as ações antigas como parte do aspecto de educação e formação de plateia. de prender pelo estômago o espectador mediante sua fome. E depois de saciá-lo, falar-lhe da importância de novas cozinhas e conceitos. Educação essa que permitiu em medida um concerto sereno e educado ao respeitar o espaço de execução de obras que eram sequenciais como o Requiém de Mozart. 

Tangencialmente o concerto alusivo aos 46 anos de criação da Universidade Federal de Sergipe (UFS) foi também espaço de visibilidade para que pudêssemos  presenciar o crescimento musical e artístico da orquestra. O direcionamento e intercalamento das obras direcionou o concerto para uma dinâmica bastante interessante que poderia ser suicida (vide ser um programa de tantos excertos), mas que se solidificou extremamente atraente ao ser popularesco a medida em que foi eloquente. Soube passear com tanta segurança por esta perspectiva que em nada pode ser acusado de não erudito. E como espaço acadêmico, de experimentação, três possibilidades me chamaram mais atenção.

Tarcísio Rodrigues
A primeira no sentido cênico e plenamente avassalador quando o Spalla Tarcísio Rodrigues não só tomou o controle de suas expressões artísticas ao solar a Dança macabra do compositor francês Saint Säens, como também no plano musical pôde se mostrar tão maduro e expressivo como violinista. Foi tão engenhoso que conseguia, via suas pulsações, envolver seu naipe com um som recheado e reverberante a ponto de passar do palco ao público o mistério necessário para se deixar envolver pela dança. E por todo o conjunto desejar vê-lo mais vezes como estava ontem. Inspirado. 

Naline Menezes
A segunda possibilidade foi a de receber depois de oito anos vivendo em São Paulo a Soprano sergipana Naline Menezes para uma récita de memorável interpretação e potencial vocal. Já havia sido aprazível ao vê-la interpretar na semana passada temas da Disney e Brodway junto a ORSSE e se materializou para mim e além de qualquer desconhecimento prévio sobre o repertório que iria cantar, ao dar vida a canções como a melodia sentimental do brasileiro Heitor Villa Lobos, ou de quando cantava com todas as verdades cênicas um excerto da ópera Madame Buterfly de Giacomo Puccini fazendo qualquer um no teatro crer que mesmo trajando um lindo vestido azul tropical, fosse em verdade uma gueixa. A doçura que perpassou as canções veio num sentido identitário, o de reconhecer em nosso seio um talento nato com extensão de sabiá.

OSUFS e a Soprano Naline Menezes
E não menos empolgante, refleti toda o dia sobre como é vistoso o crescimento da orquestra, como dialoga num sentido de ir buscando se firmar como de fato essencial aos que a apenas a veem menor do que potencialmente o é. São níveis técnicos  e maturidades divididas entre quem já faz música e os que estudam para isso. E ainda que pungente ao fato de ser uma orquestra não profissional, e sim acadêmica e, que por sua própria natureza, tenda sempre buscar um limiar entre repertórios maduros e tecnicamente executáveis, tem sabido se colocar de maneira vistosa e desejo que siga mesmo rumo a esse caminho. Bem como já  havia falado em relação a temporada 2014 da ORSSE, afirmo o mesmo para a OSUFS, sinto que vá ser um grande ano para realizações e auto-firmações. Para isso, a orquestra contará inclusive com o empenho vistoso do CORUFS. Tem impressionado muito pelo entrosamento e pelas qualidades vocais que tem passado por ele. Ao soar no teatro ontem o Réquiem ganhou toda a virilidade que  lhe custou a acústica em sua ultima apresentação na igreja do São José. 


sexta-feira, 9 de maio de 2014

Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes.

Assim como antever a beleza indica sobre tudo o cuidado minucioso de não se comportar como amadora, principalmente quando diante das câmeras, dos músicos,do público e das mídias, propagamos uma orquestra das mais bem preparadas e atuantes do norte e nordeste. É uma pena que as situações vexatórias do concerto dedicado à Brodway e Disney na noite de ontem 08.05.2014 desaguem em cima de uma apresentação que tinha tudo para ser incrível e teve momentos encantadores, mas não passou de desconfortável e injusta com quem se dispôs a presenciar um espetáculo. E não irei aqui discorrer sobre o desemprenho da orquestra que foi inegavelmente inconteste frente a tantos inconvenientes, foi audível e viva na mesma proporção em que entreteve e arrebatou seus fãs, colocando-se como ainda o maior mérito de qualquer depreciação para quem espera ser tratado com respeito uma vez que é plateia. O concerto da última noite se configurou desde o inicio como um ato suicida, e não conseguiu parar de ecoar questões desconfortáveis levantadas pela reportagem madura do portal Infonet que pode ser conferida na integra aqui

Não esperei viver para ver o dia em que, para além de minhas opiniões constantemente duras em relação a ORSSE neste espaço, e em uma noite apenas, tantas questões simples e não menos importantes que sempre pautei neste blog em relação ao funcionamento da orquestra, viessem a tona, escancaradas em modo natural como quem se livra de um fardo e atribui culpas a terceiros de maneira despreparadamente leviana, a Secult através de seu assessor de comunicação Glauco Vinícius.


Não é a primeira vez que o público sergipano, mantenedor direto do acesso às artes em nosso estado, seja expostamente desrespeitados em situações em que prevalece a má gestão de recurso e direcionamento organizacional de um evento. O concerto Brodway/ Disney se pretendia uma ponte entre o popular e o erudito no intento de aproximar e levar a população menos frequente e sabedora das salas de concerto e acabou sendo o pivô em um escândalo tão evidente que beira ao patetismo. A equação é simples: 800 lugares de um teatro que não comportaria a fúria de fãs disputando a tapas ver a apresentação da noite, capacidade de lotação desrespeitada sumariamente com a abertura de ingressos além da capacidade mínima de o concerto acontecer em segurança, igual a pessoas abarrotadas nos corredores, em pé ao fundo do teatro e também do mezanino dele, enquanto lá fora uma grande parcela de pessoas se esgueiravam para tentar apreciar o concerto vide o fato de terem em mãos seus ingressos comprados. Caos. Absurdo que por si só não se justificaria, sendo que temos um teatro estatal, o Tobias Barreto que comporta mais de 3.000 lugares, mas que consegue ser pior quando o assessor da Secult afirma que a Orquestra não tem público suficiente e que quase sempre se apresenta com uma plateia que oscila entre baixa e media lotação como justificativa para o uso do Atheneu. E que além deste fato, parte da culpa é dos músicos que distribuem indeliberadamente cortesias afim de que as pessoas possam ir às suas apresentações, mas que esta distribuição ocorre de maneira aleatória e sem o mínimo controle de ninguém. Ninguém que bem pode ser em cadeia crescente Guilherme Mannis (Diretor artístico da orquestra), Cláudio Alexandre  (Diretor Administrativo) e Eloisa Galdino (Secretária de Cultura).

O que lamento muito é saber que à luz da verdade e no final de tudo, tenha recaído sobre as costas do maestro Daniel Nery (Regente adjunto da ORSSE) o desconfortável papel de servir como isca para os leões ao tentar explicar a confusa e irresponsável superlotação, de firmar um novo concerto adicional  para o dia de hoje e gratuito para sanar qualquer principio de incompreensão, mas chocar ainda mais os que ali sentados pagaram para ter acesso ao concerto, e quase em sequência desfazer o mal dito ao afirmar que não havia possibilidade de que o concerto fosse gratuito. Tudo isso dentro da perspectiva de ser prolixo ao tentar explicar o fato desastroso sem muito tato para se esvair sem ser atingido pelas críticas posteriores e no minuto seguinte vias de uma bagunça considerável da plateia que aglomerada potencializava o burburinho, ser deselegante ao tentar ponderar a pulso firme a necessidade de educação para assistir o concerto. Ora, então esse mesmo público, parte dele levado por um ônibus à porta do teatro pela própria Orquestra afim de divulgar o projeto de Orquestra Sinfônica Jovem, não padece antes de qualquer coisa, de uma formação musical adequada? De uma relação horizontal em que não seja preciso o maestro Daniel Nery tentar de maneira forçosa uma aproximação com o público menos esclarecido, ao explicar a mesma anedota misteriosa de ser dele a voz grave dos anúncios do programa de concerto pela segunda vez ou de tratar a plateia como se fôssemos os baixinhos da Xuxa, ao se dirigir a nós em sua afetada prosódia irritantemente circense e exaltiva aos diminutivos em fim de frase?

Não bastaria que a Orquestra evitasse de maneira organizacional antever os precipícios de um caminho de espinhos ao pensar artisticamente suas apresentações, ou de que fosse avaliada constantemente e de perto pela própria secretaria de cultura afim de assegurar menos vaidades desnecessárias e mais empenho em concertos simples e estruturalmente confortáveis como deveria ser o da noite passada? Não basta expor os músicos à sensação falsa de apoteose quando nos bastidores é sabido de todos que a realidade debaixo de cada lençol é menos pungente que o que se propaga quando não há controle de qualidade recorrente e que as críticas em nada vão arrancar do pedestal àqueles que fazem farra com o dinheiro público em detrimento de uma não defesa de melhores salários e condições de valorização artística para os músicos de sua agremiação. Afinal, se há algo a ser defendido e respeitado acima de qualquer confusão, são mesmos os músicos, que com bravura  se sustentam a cada circunstância perversa de nulidade e depreciação e se apresenta como a possibilidade de solidificação da vontade de fazer e levar ao povo sua arte.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Série Concerto nas igrejas

A maior reclamação que sempre lanço a meus amigos é justo sobre meu desejo de ler matérias relacionadas a música clássica aqui em Sergipe. Acabo por vezes sendo incisivo em aporrinhar a vida da blogueira do Violinos de Salto em meu afã por ver mais e mais espaços e pessoas diferentes escrevendo como que para descentralizar a opinião burra e tão recorrente deste espaço, sem perceber ainda que previamente consciente, o fato de que seu blog vá por uma linha ideológica completamente diferente. Ainda assim fica aqui o meu pedido que sei bem é o de muitos amigos, para que  Noemi Ferreira e a Thirza Costa, respectivas co-autoras dos saltos não nos deixem sem atualizações.  Passear por ele a espera de um novo texto é como a espera num campo de centeio. 

E o que me trás a depois de exatamente uma semana passado o último concerto da Orquestra Sinfônica de Sergipe (ORSSE) indicar a leitura de uma crítica sobre o referido Concerto e escrito pelo Pastor Jabes Nogueira Filho em seu blog. E ainda que eu ache muito destoante da minha realidade de escrita, me alegra o fato de poder ler sobre e não ter a obrigação de escrever sobre, como que para documentar. Vale a pena um passeio por todo o blog e não apenas o artigo em questão que pode ser lido aqui.
É um blog inteligente e tangível a quem acha que ser cristão é ir por uma vala comum de sensos rebaixados. Convicção é outra coisa e a quem interessam boas metáforas, indico a série de textos intitulado Parábola das coisas, que divaga sempre em mostrar boas perspectivas através de objetos e coisas que corriqueiramente passam desapercebidas.