sexta-feira, 9 de maio de 2014

Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes.

Assim como antever a beleza indica sobre tudo o cuidado minucioso de não se comportar como amadora, principalmente quando diante das câmeras, dos músicos,do público e das mídias, propagamos uma orquestra das mais bem preparadas e atuantes do norte e nordeste. É uma pena que as situações vexatórias do concerto dedicado à Brodway e Disney na noite de ontem 08.05.2014 desaguem em cima de uma apresentação que tinha tudo para ser incrível e teve momentos encantadores, mas não passou de desconfortável e injusta com quem se dispôs a presenciar um espetáculo. E não irei aqui discorrer sobre o desemprenho da orquestra que foi inegavelmente inconteste frente a tantos inconvenientes, foi audível e viva na mesma proporção em que entreteve e arrebatou seus fãs, colocando-se como ainda o maior mérito de qualquer depreciação para quem espera ser tratado com respeito uma vez que é plateia. O concerto da última noite se configurou desde o inicio como um ato suicida, e não conseguiu parar de ecoar questões desconfortáveis levantadas pela reportagem madura do portal Infonet que pode ser conferida na integra aqui

Não esperei viver para ver o dia em que, para além de minhas opiniões constantemente duras em relação a ORSSE neste espaço, e em uma noite apenas, tantas questões simples e não menos importantes que sempre pautei neste blog em relação ao funcionamento da orquestra, viessem a tona, escancaradas em modo natural como quem se livra de um fardo e atribui culpas a terceiros de maneira despreparadamente leviana, a Secult através de seu assessor de comunicação Glauco Vinícius.


Não é a primeira vez que o público sergipano, mantenedor direto do acesso às artes em nosso estado, seja expostamente desrespeitados em situações em que prevalece a má gestão de recurso e direcionamento organizacional de um evento. O concerto Brodway/ Disney se pretendia uma ponte entre o popular e o erudito no intento de aproximar e levar a população menos frequente e sabedora das salas de concerto e acabou sendo o pivô em um escândalo tão evidente que beira ao patetismo. A equação é simples: 800 lugares de um teatro que não comportaria a fúria de fãs disputando a tapas ver a apresentação da noite, capacidade de lotação desrespeitada sumariamente com a abertura de ingressos além da capacidade mínima de o concerto acontecer em segurança, igual a pessoas abarrotadas nos corredores, em pé ao fundo do teatro e também do mezanino dele, enquanto lá fora uma grande parcela de pessoas se esgueiravam para tentar apreciar o concerto vide o fato de terem em mãos seus ingressos comprados. Caos. Absurdo que por si só não se justificaria, sendo que temos um teatro estatal, o Tobias Barreto que comporta mais de 3.000 lugares, mas que consegue ser pior quando o assessor da Secult afirma que a Orquestra não tem público suficiente e que quase sempre se apresenta com uma plateia que oscila entre baixa e media lotação como justificativa para o uso do Atheneu. E que além deste fato, parte da culpa é dos músicos que distribuem indeliberadamente cortesias afim de que as pessoas possam ir às suas apresentações, mas que esta distribuição ocorre de maneira aleatória e sem o mínimo controle de ninguém. Ninguém que bem pode ser em cadeia crescente Guilherme Mannis (Diretor artístico da orquestra), Cláudio Alexandre  (Diretor Administrativo) e Eloisa Galdino (Secretária de Cultura).

O que lamento muito é saber que à luz da verdade e no final de tudo, tenha recaído sobre as costas do maestro Daniel Nery (Regente adjunto da ORSSE) o desconfortável papel de servir como isca para os leões ao tentar explicar a confusa e irresponsável superlotação, de firmar um novo concerto adicional  para o dia de hoje e gratuito para sanar qualquer principio de incompreensão, mas chocar ainda mais os que ali sentados pagaram para ter acesso ao concerto, e quase em sequência desfazer o mal dito ao afirmar que não havia possibilidade de que o concerto fosse gratuito. Tudo isso dentro da perspectiva de ser prolixo ao tentar explicar o fato desastroso sem muito tato para se esvair sem ser atingido pelas críticas posteriores e no minuto seguinte vias de uma bagunça considerável da plateia que aglomerada potencializava o burburinho, ser deselegante ao tentar ponderar a pulso firme a necessidade de educação para assistir o concerto. Ora, então esse mesmo público, parte dele levado por um ônibus à porta do teatro pela própria Orquestra afim de divulgar o projeto de Orquestra Sinfônica Jovem, não padece antes de qualquer coisa, de uma formação musical adequada? De uma relação horizontal em que não seja preciso o maestro Daniel Nery tentar de maneira forçosa uma aproximação com o público menos esclarecido, ao explicar a mesma anedota misteriosa de ser dele a voz grave dos anúncios do programa de concerto pela segunda vez ou de tratar a plateia como se fôssemos os baixinhos da Xuxa, ao se dirigir a nós em sua afetada prosódia irritantemente circense e exaltiva aos diminutivos em fim de frase?

Não bastaria que a Orquestra evitasse de maneira organizacional antever os precipícios de um caminho de espinhos ao pensar artisticamente suas apresentações, ou de que fosse avaliada constantemente e de perto pela própria secretaria de cultura afim de assegurar menos vaidades desnecessárias e mais empenho em concertos simples e estruturalmente confortáveis como deveria ser o da noite passada? Não basta expor os músicos à sensação falsa de apoteose quando nos bastidores é sabido de todos que a realidade debaixo de cada lençol é menos pungente que o que se propaga quando não há controle de qualidade recorrente e que as críticas em nada vão arrancar do pedestal àqueles que fazem farra com o dinheiro público em detrimento de uma não defesa de melhores salários e condições de valorização artística para os músicos de sua agremiação. Afinal, se há algo a ser defendido e respeitado acima de qualquer confusão, são mesmos os músicos, que com bravura  se sustentam a cada circunstância perversa de nulidade e depreciação e se apresenta como a possibilidade de solidificação da vontade de fazer e levar ao povo sua arte.

6 comentários:

  1. Ei, você é safado que no fim nem avisou que ia de verdade. Li seu texto, li o da Infonet, escutei muita gente comentando e isso me deixa muito feliz. Feliz por saber que a Orquestra funciona como ponte mesmo e que o problema é de direcionamento artístico. Feliz por entender que o texto da Infonet é uma perspectiva a mais na dissolução dessas inverdades que lemos sobre qualidade. O que aconteceu ontem é muito primário pra ser verdade. Fico triste pelo maestro Nery que pelo que li acabou sendo o alvo do desconforto. E fico muito feliz por você que vem acertando mão no tom da crítica e tocando os textos para um distanciamento interessante. Ainda acredito que mais da metade das pessoas que não leem seu blog e fazem telefone sem fio deveriam parar por um instante e ler ele e perceber que há muita coisa boa, e que a crítica é sempre no intuito de construir uma melhor orquestra. Obrigado por levantar a bandeira dos músicos e da arte. Te amo primo.

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  2. De fato, a falta de organização do evento foi terrível, no entanto, a desculpa dada pela transferência desse para o teatro Atheneu foi pior ainda. Me sinto mal pelo regente acabar tendo que lidar com aqueles problemas num curto pedaço de tempo... espero primeiramente que os concertos voltem a acontecer no Tobias Barreto (também porque é mais perto de casa). Sobre o concerto em si, o tema foi definitivamente bem escolhido e tenho a esperança que mais coisas do tipo voltem a acontecer (não perderei minhas esperanças de presenciar a ORSSE tocando Alladin). Confesso que toda vez que fala sobre "o que acontece nos bastidores", me sinto meio perdido.. ó, caro escritor, dê-me luz.

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  3. Achei estranho ter lotado o Tobias, mas foi no Atheneu... Pelo menos teve um round 2 na sexta e eu pude ir. Acho que a mistura ficou errada, devia ter sido só Broadway porque o lado da Disney ficou muito sem graça, quem foi pra ouvir Broadway teve músicas a menos tomadas pela parte Disney e quem foi pra ouvir Disney só ouviu Fantasia que ficou sem graça, meio parado.
    Um medley interessante Disney em uma orquestra pequena é esse aqui, mas com um mínimo de esforço você encontra mais: https://www.youtube.com/watch?v=q74CbVPvnr0

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  4. Certo que houve falta de organização e consciência, desde o principio já sabia que esse concerto lotaria, fiquei assustada quando soube que seria no teatro Ateneu. Agora, o seu texto tem um equivoco, existe sim controle de cortesias para os músicos, cada músico só pode pegar 10 cortesias, nenhuma a mais. Houve desorganização no controle da venda, porque controle de cortesias existe. Quanto aos 'concertos simples e estruturalmente confortáveis' não existem outras orquestras no estado que já fazem esse papel? Acredito que a função da ORSSE seja justamente a que ela pretende desempenhar.

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  5. Sim, e essa menina vive no país das maravilhas é? Um concerto com um repertório Bugado desse é ao que a ORSSE tem que se propor a desempenhar? E outra, você realmente acredita que existe controle de cortesias, leia o texto: o próprio assessor da cultura disse lá em nota da infonet: " O assessor de comunicação da Secult, Glauco Vinícius, explicou que houve uma desarticulação na quantidade de bilhetes emitidos pelo Teatro Atheneu e pela ORSSE, o que levou à superlotação". Quem é a ORSSE?

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  6. Diante de tantos pontos, nem sei mais o que dizer sobre o concerto. Ver a casa cheia foi ótimo. Em compensação, ver a proporção que a bagunça foi tomando roubou a cena da noite. E pode ser mesmo que haja uma restrição em relação à distribuição de cortesias para os músicos, mas definitivamente não foi isso que relatou a Secult por meio de seu assessor de comunicação. De certo, espero que parte desse público se dirija também a outros concertos e possa ter acesso à possibilidade de ouvir para além de Disney e Broadway, embora concertos como este em nada devam se apresentar aquém dos de costume.

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