terça-feira, 20 de novembro de 2012

De quando é divertido brincar de achar que o público não sabe o que é uma mudança abrupta. Ou da série: Nunca quis tanto ir a um concerto! E de verdade, ainda que digam o contrário, desejo que seja uma noite e tanto. Até convidei um amigo.

Imagino pra mim mesmo que esse hiato que me separou do último post tenha me feito ver as casas reais muito mais próximas à sua real conceptura. Vi diante de mim tantas e tantas posições. Fraquezas, medo, discordância, atrocidades com a arte musical aqui em Sergipe Del Rey. E o mais bonito de toda essa nuance é que ela acontece quase que sorrateira, como um ladrão que se precipita para dentro de nosso jardim e rouba a rosa preferida como se também não antevisse que o dono do jardim, mesmo que tarde, uma hora fosse proteger-se. E pra isso não precisa que haja muros, nem grades e cercas elétricas. Meu silêncio em nada é recuo. Ao contrário. O tempo de silenciar me recompõe para que eu escreva sobre e quando quiser. E não há como não sê-lo.  Hoje por exemplo, o instinto pulsa mais que no inicio deste blog. E descreverei com clareza o que faz deste post tão contraditório e difícil de sair.

A questão que rodeia minha cabeça por tanto tempo é a seguinte: Até que ponto nós sergipanos como público somos tão inocentes em relação aos mandos e desmandos gerenciais que permeiam nossa cultura sem que nos importemos, sem que de fato entendamos que todas as questões, inclusive as relações pessoais nesse sentido, sejam políticas? Isso tudo para que eu responda a mim mesmo que ainda vai levar algumas eternidades para que alguém se disponha a por fim no quesito "brincar de orquestra de nível internacional". Sim, porque se o discurso hierárquico é de que agora temos uma das orquestras mais atuantes do eixo norte e nordeste, vamos começar fazer jus à clarividência. Consigo compreender que a ORSSE tenha dado um salto, e já evidenciei aqui em outro momento. Mas não consigo compreender como ao mesmo tempo em que temos a possibilidade de ir adiante à transformação, insistimos em ficar no meio do caminho. E nisso credito a culpa diretamente a duas pessoas. A primeira, da secretária da cultura (na pessoa da SECULT) que parece fechar os olhos para o que é tão óbvio. Se hoje logramos o status de uma das orquestras mais atuantes do norte e nordeste é porque o compramos em duas perspectivas. A primeira, da veiculação do discurso, que apesar de ser questionável em termos técnicos, é de função nossa vendermos os produtos do estado (ainda que esse, não dialogue em nada com nossas raízes, nossos desejos, nossa identidade), a segunda no sentido de que não é preciso ser muito entendido em termos licitatórios para compreender que pagamos e pagamos muito caro para fingir que somos boa orquestra frente a regentes de renome nacional e internacional (que claro, não dispensariam por pouca bagatela um "convite" nosso). O segundo culpado, e o digo sem medo que me coma o fígado (afinal, só resta um e antes que ele acabe preciso escrever) sem sombra de dúvidas é o maestro Guilherme Mannis. 

Já falei aqui antes e repito com desejo de que soe e ressoe minha indignação frente à falta de respeito com que esse senhor conduz a nossa orquestra. Não é a primeira vez só nessa temporada que eu falo explicitamente da falta de respeito que existe por parte da direção no sentido de mudar um repertório, cancelá-lo ou qualquer coisa nesse sentido. Não existe coisa mais depreciativa que se encher de expectativa diante de um repertório e então dar de cara com um recorte bonito do que fora vinculado antes. Por exemplo:  22 de novembro de 2012... Onde foi parar O Patriota, ET, Pearl Harbour, Superman, Jurassic Park...? Certamente juntaram-se a Petrouscka. 

E por isso explico aqui meu pesar do primeiro parágrafo. Não desgosto menos o repertório que está posto para a quinta-feira dia 22 de novembro de 2012. Vai ser incrível, desejo que o seja, e fico feliz que trilhas como a do filme Jurassic Park esteja efetivamente de fora das execuções. Estou feliz, excitado e tão empolgado a ponto de convidar amigos para que vão ao concerto. É meu dever como mantenedor da orquestra, assim como também é meu dever que eu não me cale só porque o repertório favorece meu ego. Como também é meu dever supor entender que mais uma vez volto à questão de escolha do repertório como um atavio à nossas necessidades. É sobremaneira uma escolha elitista, que só dialoga com uma parcela mínima das pessoas que irão ao teatro. Cadê o espaço para a musica nacional? Onde ficou a sapiência entre mesclar bons repertórios de cinema mundial ao invés de trazer quase que um concerto inteiro alusivo à obra do Johnn Williams? Muito me espanta que nessa noite em que vamos falar de cinema não exista sombra alguma  do mestre Italiano Ennio Morricone e seu fabuloso Cinema Paradiso.

E ainda que o concerto não seja mais em comemoração ao aniversário de 150 anos do Debussy, vamos lá. Bom concerto.

Orquestra Sinfônica de Sergipe - Série Cajueiros IX
22 de novembro de 2012, 20h30
Teatro Tobias Barreto
Ingressos: R$20,00 (inteira), R$10,00 (meia)


"Cine Orquestra - Grandes Trilhas Sonoras do Cinema Mundial"
Daniel NERY e Guilherme MANNIS, regentes
Márcio RODRIGUES, violino

John WILLIAMS
Raiders March - Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida
Super Man March - Super-Homem
Suíte Star Wars
A Lista de Schindler
Suíte Sinfônica de Harry Potter e a Pedra Filosofal

Carlos GARDEL
Por una cabeza - Perfume de Mulher

Howard SHORE (Arr. Bob Cerulli)
Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel

Klaus BADELT (Arr. Ted Ricketts)
Piratas do Caribe - A Maldição do Pérola Negra  

Fonte: http://www.orquestrasinfonica.se.gov.br/temporada
          http://sinfonicasergipe.blogspot.com.br/

7 comentários:

  1. Com tantas "facetas" porque não uma entrada franca. Respeito e desrespeito: a cultura à mercê dos políticos.

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  2. Simples Konstantino. Puramente porque não reclamamos nunca. Nós pagamos o acesso à cultura em ergipe duas vezes, com os impostos e quando pagamos a entrada. Então não é dever constitucional do estado o acesso a educação, cultura e lazer? E bem sabemos que há como fazê-lo sem danos aos cofres públicos. Corte de gastos excessivos por exemplo... Menos Karabitchevisk e mais investimento no corpo da orquestra, que por sinal deveria ser mil vezes mais bem remunerado.

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  3. A cultura virou mercado. E infelizmente, somos ruralistas. O que leva a um pequeno grupo com regalos e um maior com apenas pão e circo.

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  4. deveria ser mais valorizada em Sergipe, mas as pessoas não gostam muito do gosto musical e por isso perdemos algo de alucinante no estado que possa ate crescer.
    conforme a a trilha sonora de filmes ficaria mais interessante com orquestra.
    apesar de tudo parabéns e continue com luta com oque vc gosta

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  5. Repertório de patrimônio público precisa agradar e respeitar o público. Não se forma platéia amante de música erudita nas 'coxas'. Formação escolar; programação cultural em rádio e tv; dias, horários e ingressos acessíveis e, principalmente, respeito ao público. O que temos, ainda é para uma elite e para alguns currículos.

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  6. Repito o que disse o companheiro Konstantino:

    "Repertório de patrimônio público precisa agradar e respeitar o público"

    Há algum tempo que venho perdendo o interesse em assistir aos concertos da ORSE, em parte por ser muito erudita,e também por não respeitar o programa a ser executado. Mas para ser sincero, a apresentação encheu novamente meu coração de esperança! nunca tinha visto o teatro tao cheio para uma apresentação da orquestra! o público entrou com vontades e expectativas e saiu realizado! pelo menos isso foi o que aconteceu comigo!

    gostaria de dar um recado ao senhor Guilherme Mannis.: reflita no que viu hoje a noite! uma gratidão do publico por ter apreciado uma apresentação popular! não desprezo a música
    erudita, mas nem só da musica erudita vive a orquestra! queremos também o popular, o nacional, a música latina! queremos um som que honre o sangue que corre em nossas veias!

    Anderson

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