quinta-feira, 1 de novembro de 2012

De quando um menino maluquinho compõe trilha para cinema como gente grande!

Antônio Pinto
Faz tempo queria falar sobre trilha sonora. A bem da verdade se existe fagulha em mim de desejo de ir além com a música é dentro dessa perspectiva. Acho que fui tragado nesse meu afã cinéfilo muito antes pela música que pela composição dos enquadramentos e da decoupage dos filmes. Lembro quando na classe de 2008 de cinema (Patrocinadas pelo Minc (Ministério da cultura) e pela rede Olhar Brasil) da qual fui um dos anualmente 25 selecionados e numa das disciplinas discutíamos os efeitos da trilha sonora como composição de narrativa e espaço de subjetividades. Tópico esse que me excitava deveras, mas que a um colega de classe era explicitamente entorpecente. Recobro a lembrança de ele me explicar que achava em geral que a música acabava na maioria das vezes tendenciando a narrativa das imagens e que dramatizava sobre maneira o que poderia ser contado em silêncio e teria efeito mais profundo. Me recomendou inclusive um artigo do professor Ismail Xavier ( Professor da ECA-Escola de comunicação e Artes de São Paulo  ) que relutei a ler de inicio já que antevia alguma crítica no sentido de anular minhas perspectivas cinematográficas diante da construção do que eu cria, mas que depois degustei sem sobressaltos uma de suas obras mais completas sobre cinema:  O Discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência. E foi um tapa, ou a bem da verdade o recomeço para que eu visse também outro caminho e redescobrisse o cinema mudo. 

E deveria me alongar aqui falando sobre a experiência de estudar de maneira analítica as composições para cinema, ou de como elas tem efeito substancial sobre a construção de uma narrativa. De como esse campo que no Brasil ainda engatinha tem grande espaço e grandes colaboradores desconhecidos da grande mídia. Mas o que me toma a escrever nesse espaço, hoje, é algo mais simples e substancial. A lembrança doce de como ainda criança no ano de 1998 conheci o que  desconhecia como trilha, mas que me usurpou o sentido de estar frente a televisão combinando imagem e som, e já aos poucos entendendo quando a música contava mais que a imagem em si. Foi ai que conheci também o Antônio Pinto, mas que só o fui revisitar com madurez mais tarde. Ao assistir o filme brasileiro Central do Brasil, dirigido pelo também brasileiro Walter Salles, me senti anestesiado pela seleção das canções e de quando a composição erudita atravancava as cenas dando a elas um peso cênico que eu jamais imaginava que se pudesse com tanta beleza.

"A parceria entre o cineasta e o compositor começou em 1995, quando Antonio criou a música para o curta-metragem Socorro Nobre e para o longa Terra estrangeira, codirigido por Daniela Thomas, irmã de Antonio. Em 1998, compôs, ao lado de Jacques Morelenbaum, os temas de Central do Brasil, filme que correu o mundo e teve duas indicações ao Oscar. Filho do cartunista Ziraldo, Antônio também é o compositor da trilha de Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles, em parceria com Ed Cortês. Em 2004, deu início aos trabalhos internacionais: a trilha adicional do longa-metragem americano Colateral, de Michael Mann, protagonizado por Tom Cruise, e a trilha de Crônicas, de Sebastián Cordero, uma coprodução entre México e Equador. Foi indicado ao Globo de Ouro pela música original Despedida, composição sua, com letra e interpretação de Shakira, para o filme O amor nos tempos do cólera (Love in the Time of Cholera) (2007), de Mike Newell. Sócio-diretor da produtora Supersônica, é um dos poucos músicos brasileiros efetivamente especializados em trilhas sonoras para cinema."



É incrível o poder descritivo de suas trilhas e por isso o igualo ao meu favorito compositor para cinema, o espanhol Alberto Iglesias, que tanto colabora com os filmes do também espanhol e cineasta Pedro Almodóvar. Ao criar uma peça, ele recria a leveza de contar a história e por isso não consigo arrancar de minhas referência a passagem do filme Central do Brasil em que a personagem Dora, interpretada pela atriz Fernanda Montenegro, decide ir embora e que o Antonio Pinto escreve uma apoteose para pintar essa despedida. Sozinha e em silêncio Dora se despede de um pedaço de sua vida, algo que conquistou no susto e imprevisivelmente fez morada em sua pele, e não menos avassalador é sentir que essa despedida só tem  sentido se colocada frente à canção escrita por Antonio e que se chama A carta. A depressão dolorida da certeza da finitude marcada pela melodia e harmonia dos violinos, o choro contido no soluço da colaboração na trilha do violoncelista Jaques Morelembaum e o conjunto de qualidades dentro da simplicidade com que vejo ter sido escrita, quase que de forma experimental essa trilha me faz desejar que mais pessoas possam ter acesso a sua obra. 


______________________________________







2 comentários:

  1. Lembro de Jaques Morelenbaum pela parceria c/ Tom. E após tanto tempo que ouvi a trilha de Central do Brasil, agora tive vontade de escutá-la detalhadamente...

    ResponderExcluir
  2. Imagino que vá ser um deleite... tem alguns movimentos fantásticos como o Sai Pirralho é árido e incompreensível de tão simples. Aliás, não me refiro só a parte orquestral... Se vasculhar o filme encontrará um Cartola lá bem introduzido por um óboé.

    ResponderExcluir