domingo, 10 de março de 2013

Pão e Circo sim! Mas pão doce e circo de qualidade.

Vários amigos assim como eu próprio seguem o coro dos que não comungam de tanta afeição pelo violinista e show man francês André Rieu. De fato o tom circense e tão célere em suas apresentações me deixam as vezes (a maioria delas) atordoado com a mudança abrupta de melodias e gêneros musicais. Essa falta de formalidade estética, essa aparente falta de comprometimento com as linhas mais conservadoras de promover música, veio por terra quando o escutamos afirmar emocionado, como o fez essa noite num especial gravado e exibido pela Rede globo de televisão, afirmando que era feliz por ter escolhido a mais bela profissão do mundo. A de ser músico. E ainda arrematou dizendo desejar poder passar ainda muito tempo tocando ao lado de sua orquestra. Sim, sua orquestra!

É bem imaginável que para seguir por tanto tempo nessa linha de conduzir a música clássica por um caminho estritamente popular (no sentido da concepção de show) Rieu precisasse criar um grupo seu, com suas características qualitativas e disponibilidades de viagem. Não é de se pensar que todo músico se proponha a fantasiar-se, dançar ou mesmo receber com felicidade interferências constantes da plateia durante as apresentações. Em seu site de divulgação o Violinista explica "Eu e a minha orquestra somos quase como um casal. Não posso estar sem eles e eles não podem estar sem mim. Quando andamos em digressão, divertimo-nos imenso. Além da forma profissional como trabalhamos, considero isso muito importante. Se não conseguimos viver em felicidade e harmonia, como poderemos realizar concertos maravilhosos em conjunto". E deve também a isso o sucesso do grupo. A resposta rápida e o diálogo constante com o que mais importa na hora de um concerto. A plateia. 

Ainda assim para além de qualquer defesa, já que reconheci no início deste post que André Rieu não me apetece quanto poderia. Não posso deixar de reconhecer a importãncia de seu trabalho na difusão da música erudita. na forma com a qual toca uma obra e de maneira inteligente e sensível consegue fazer exalar os sentimentos nas pessos presentes em suas apresentações. Foi o que vi. Foi o que me motivou escrever. Porque na apresentação em questão pude perceber e me emocionar ao sentir tocadas pelas melodias tantas pessoas ali atentas. 

Foram duas oportunidades em particular. A primeira com a Ária Nessun Dorma (ninguém durma) do compositor italiano Giácomo Puccini, extraída da ópera Turandot e tão bem executada a fim de emancipar-nos à percepção de estarmos num quarto frio, olhando as estrelas e tremendo de esperança como a personagem central da ópera. O choro derramado e compartilhado em muitos na plateia é o divino sinal de que a música, no fim de si mesmo é o que mais importa. Que quando se a escuta, não importa a roupa, nem menos se o grupo detém nome de prestígio. A música precisa unicamente dialogar com os vários sentimentos guardados em nossas entranhas. E justamente por isso me emociono ouvir a canção brasileira Manhã de carnaval (Marcelo Bonfá), tão bem amaciada pelas três cantoras do grupo Carla Maffioletti, Kimmy Skota e a Paulistana Carmen Monarcha. 

Sempre que vejo um grupo de outro país executando nossas músicas tenho a impressãode que são quadrados, que não conseguirão nunca entender nosso balanço. Mas as batidas do violão num ensaio prodigioso de boa bossa nova, a delicadeza das vozes cantando a manhã de um carnaval que não é passageiro, e a plateia num coro silencioso de atenção e reconhecimento de algo seu por natureza, me fez imaginar que sim, existe compreensão da dimensão grandiosa que são os nossos ritmos. Nossa música ecoa. E mais importante que divagar sobre sua construção e efeito, é sentí-la como espelho. 






3 comentários:

  1. Pois bem, reconheço o valor de todo o espetáculo de André Rieu na contribuição para o acesso à música chamada erudita. Só tenho outros "poréns", rsrs. Que bom que o devido reconhecimento está sendo dado à Orquestra, como pude ler. E como Carmen Monarcha era uma desconhecida pra mim há poucos anos, tenho que admitir que também fui beneficiada pelo showman. Pude ouvi-la, me encantar com sua interpretação e descobrir (que grata surpresa!) que é mais um talento brasileiro.

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  2. Não tinha como não evidenciar a orquestra como primeiro plano. Ela é o motivo ao qual faz eu achar o Rieu um tanto quanto instigante. Desde sua concepção até o que se apresenta como ponte entre o erudito e a recepção popular de seus concertos. E sim, a grande Carmem Monarca indiscutivelmente é fabulosa. Não por ser brasileira, não por ser jovem e bela. Mas pela potência que carrega em seu instrumento vocal, e pela segurança encantadora e sensual toda vez que interpreta a Carmem do Bizet. Ela é completa, ela é cênica e tão cantante que me faz pensar que o Brasil de fato não conhece o Brasil como Cantou a Elis Regina.

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  3. Achei massa aquela bem rapidinha quase no final...

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