sexta-feira, 11 de abril de 2014

Nunca recuse um convite de ir comer Peruvian food achando que um Villa Lobos pode te preencher mais. A fome se duplicará até te lembrares que esta noite choveu muito nas pedras de tua rua.

1. Continuo creditando muita expectativa sobre o trabalho do Maestro adjunto da Orquestra Sinfônica de Sergipe (ORSSE) Daniel Nery, ainda que ele tenha se arrastado sobre o próprio peso ao reger a 7ª Bacchiana do Heitor Villa Lobos esta noite. Não duvido que suas tentativas de levar bom entretenimento passa antes por uma dedicada análise conjetural. Como quando se compromete a aproximar-se da plateia de maneira leve e natural, ou de quando há que se notar que nada pode contra a ineficiência técnica de determinado setores sob a sua regência.

1.1 Muito boa a escalação do programa desta abertura de temporada (e não, o concerto de aniversário de Aracaju não havia sido a abertura como divulguei aqui, ainda que eu não entenda a anulação de um pelo outro.) Juntos o Prelúdio para a tarde de um Fauno, de Claude Debussy, a Pavane op. 50 de Grabiel Fauré e a sétima Bacchianas brasileiras do compositor brasileiro Heitor Villa Lobos somam uma atmosfera de doçura e viagens vibrantes por movimentos distintos como o Impressionismo, Romantismo e o Modernismo. 

2. Fico feliz sempre que ouço a flauta da Mirna Hipólito e para além do que foi o todo hoje, nesta peça em questão,  ao entregar o tema do Fauno para a querida Oboé (que desconheço o nome, já que procurei referências suas no programa, mas ele está um tanto desatualizado) pude sentir que um minuto apenas que seja, vale um concerto inteiro de esperança.

3. E justo para reparar uma injustiça descabida de quem não lê o que escrevo e brinca de telefone sem fio: Quando falo do desgosto pessoal pelas madeiras das ORSSE tenho claro o brilhantismo dos que brilham como o Clarinetista Felipe Freitas (que hoje mais que tudo, em muitos momentos arrancou fôlego para salvar a beleza, como  lá pelo 5 minuto da Pavane ) e o Fagotista Isaac Soares que para além do programa, sempre nos arranca atenção para o som desconhecido e misteriosamente tão bem empostado de seu instrumento. 

4. Repito que me alegra ouvir a Thais Rabelo conduzir a Harpa, e ainda que soe clichê a defesa do músico sergipano em seu ingresso intermitente nos espaços musicais em nossa província. Há muito talento nela por defender.

5. Se há algo de sonoro e bonito nos violinos como o foi hoje em bons momentos, como quando pareciam querer salvar o fiasco que foi o Villa Lobos, lá do meio para o final do segundo movimento (quadrilha caipira) ou durante toda a fuga no quarto movimento, é ver se destacar lá no final do naipe de violinos primeiros o curitibano Eduardo Linzmayer. Ao que me pergunto diante de tamanha desenvoltura com a qual brinca de tocar e com isso faz festa, assim como o faz a primeira estante, o que ainda estão fazendo se perdendo nesta orquestra. Não há dúvida que haja destreza e potencial para o voo além fronteiras. Espero que não caduque o tempo nem seja cruel a paralisia que corrompe o desejo de seguir. 

6. Deus salve minha cabeça  e os Cellos da ORSSE.

6.1 Deus salve minha cabeça e os Oboés da ORSSE

7. Deus salve minha cabeça e desfaça a confusão aparente na qual os metais mergulharam neste 10 de abril. Que não seja reflexo do ano inteiro.

8. Isso tudo para desfazer o maldito que encontrei escrito aqui de que ano após ano os músicos da ORSSE vem crescendo e aprimorando a ênfase dos programas trabalhados. O concerto de hoje foi prova minuciosa de que tentar desviar o caminho da naturalidade como quem tapa o sol com a peneira não é em si uma boa abordagem. 

9. Assim como não entendo o comprometimento por parte da Secult, já que é ela quem subsidia as atividades de nossa orquestra, em fingir de maneira ensandecida  que a ORSSE só existiu desde o Maestro Guilherme Mannis para frente. Não é uma questão de defesa pessoal ao Maestro Ion Bressan como rotulam muitos a meu respeito, e sim um ataque direto à ignorância dos que esquecem que bem antes dos dois maestros a Orquestra já tinha uma história sob a direção de tantos outros regentes e situações sócio-economicas como o Maestro Sergipano Rivaldo Dantas. 

9.1 É sem duvidas um crime grave contra a memória da construção da cena musical no nosso Estado que seu site ou veiculações jornalísticas não apresente minimamente a ORSSE desde a sua fundação na década de oitenta e apresente-a como ativa e regular apenas a partir do ano de 2007 como pode ser conferido aqui.

10. Tudo isso para que voltemos ao ponto inicial: Para quem serve e a que serve termos uma instituição tão cara que não preserva as raízes memorialistas de nossa história e passa por cima de conceitos mínimos como o de não entender o público sergipano e os artistas da terra como parte integrante de seu funcionalismos. Fazer essa tal integração inclusive, vai além de promover um concerto alusivo as obras da Disney e Broadway e estigmatizá-lo como popular, ferindo o caráter inicial e melódico das composições eruditas, ou de achar que nossa identidade é apenas o Forró. Que venha Cremilda e Polayne, mas que também se comprometa a conhecer nosso folclore como música de raiz...

6 comentários:

  1. Acho justo você ter reconhecido as qualidades do Daniel Nery. É muito difícil ser líder de um grupo que não é coeso, e isso facilita a compreensão de que foi sim um concerto ideal, mesmo tendo sido muito confuso na última música. As duas primeiras eu gostei, eram mais simples de entender, não tava confuso como a do final. Gosto da ideia de você escrever por pontos aqui também, faz tempo vc abandonou o soldadinho de chumbo. Porque não tenta colaborar com algum jornal: se quiser tenho alguns contatos, seria bom expandir a discussão.

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  2. Eu não compareci, por isso não posso dizer o que achei, mas gostei da forma como descreveu, direta e objetiva, deu para ter uma ideia de como foi a noite! tenho acompanhado as últimas postagens e tenho gostado do que tenho lido.

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  3. A) Concordo, o repertório foi muito bom desse último concerto. Foi o que mais me animou a ir ao teatro depois de um dia cansativo.
    B) Façamos jus, então. Roberta Benjamim era a oboísta em questão, já conhecida de outros tempos aqui em Sergipe. E sim, o tema trazido por ela e seu oboé me encantou como me imagino frente a um fauno.
    C) O site da ORSSE tem um layout legal, mas realmente carecia de atualizações quando passei lá.
    D) Por último, mas não menos importante: não acha que fazer um concerto popular chamando-o de popular é só mais uma tentativa de atrair o povo aos concertos? Mesmo porque será no palco de um teatro, para que o rótulo de elitizado seja um pouco desvinculado da nossa instituição. Ou ainda, por que não associar o povo sergipano ao forró na mesma tentativa de aproximação? Mesmo que estejamos para muito, muito além disso.

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  4. Os pontos 9 e 9.1, me chamaram bastante atenção. Ao que parece, o histórico da orquestra diz respeito à nova gestão. Tudo o que foi feito desde a década de 80, parece ter sido ignorado. Não que eles tivessem a obrigação de mostrar os pormenores, mas não deveriam deixar parecer que tudo surgiu a partir de 2007.

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  5. Formato de texto interessante que apesar de ser totalmente por tópicos, todos eles se intercalam e criam uma dinâmica simples para um leigo como eu entender. Como o amigo falou acima, não compareci ao concerto então seria injusto julgar apenas pelo que li, mas quem sabe no futuro fazendo presença eu possa aprender e assim criticar para ajudar na evolução da orquestra (se assim eles compreenderem que é o objetivo, não é?).

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  6. Jajajajajajajajajajajajajajajajajajajajajajajajajajajajajajajajajaja

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