terça-feira, 7 de maio de 2013

É sabido de todos que queria muito dizer que Acharam a Pétrouchka e ela estava morta. Seria injusto. De certo que a encontraram e ela estava agonizante: existia um sopro de vida. Ou de quando abstinência moral é crime hediondo.

Espero que o título acima dissipe qualquer dúvida que haja no sentido da escrita por vias políticas. Não é pessoal muito menos tendencioso o fato de pleitear com minha escrita que a gestão pública em Sergipe seja fiscalizada de perto por todos os que contribuem para que os investimentos sejam aplicados de maneira moral. Inúmeras vezes deixei claro o meu desgosto de ver que a arte em nossa terra seja ainda estritamente conservadora e elitista, ou que pior, as decisões importantes estejam sempre pautadas de maneira arbitrária. Falei consequentemente inúmeras vezes sobre a importância de fiscalizarmos de perto e tecermos as críticas: tantos as boas quantos as necessárias, como intento de que os que demandam poder possam perceber que existe observação e partam de nós os pleitos por qualidade.
Cena da montagem teatral do Ballet Pétrouchka
A finalidade maior deste blog (que começou apenas como um desejo pessoal e intransferível de escrever as sensações que emanavam das minhas percepções musicais) acabou por se tornar um importante veículo de discussão, de pauta sobre a cena orquestral em Sergipe. E me contento dizer que mesmo que a grande maioria dos que o lêem, que o compartilha e faz alarde quase sempre negativos o vejam como um estorvo, vejo nele e na dinâmica de acessos contínuos e crescentes uma resposta positiva ao fato de que inegavelmente este espaço que é também  coletivo (já que os leitores têm total liberdade opinativa) venha exercendo uma permanência séria e  efetiva no cenário cultural de Sergipe. Não importa se na perspectiva da crítica em si, que é importante e deve sempre existir como parâmetro de fiscalização, ou na perspectiva da divulgação comprometida com todos os grupos que fazem a música erudita em Sergipe. 

Todas essas coisas me levam de volta ao título deste post, ou ao que pretendo dizer, que ele é apenas reflexo da justiça com a qual me proponho dialogar em meu blog. Ainda que seja meu, e apenas a mim caiba hiperbolizar ou não minhas sensações. Se este blog nasceu foi muito em decorrência do episódio que envolvia a retirada da Pétrouchka do Programa no dia 09.08.2012 e sobre o meu comentário colérico sobre os absurdos tiranos com os quais eu vi aquele programa ser moldado. Fora uma noite desastrosa e imaginei sem dúvidas que ela iria voltar a ser pauta. Sabia para além de qualquer verdade que não ia ser bom por vários elementos e todos eles puramente técnicos ou éticos visto aqui. A própria orquestração dela exige instrumentos ou número de instrumentos por naipe que nossa (ORSSE) não compreende. E esse fato demanda muitas outras questões de ordem financeira que me incomodam, como o fato de ter que gastar além da conta o orçamento público com a contratação de pessoal e estrutura sendo que essa economia poderia ser feita de maneira clara com a substituição dessa obra por uma menos onerosa aos nossos cofres. E além, contar com a real possibilidade de fazer música com o grupo de que dispomos. É isso ou chegar a conclusão de que de fato não somos suficientemente completos para soarmos como orquestra. E então fica a questão, até que ponto seguir essa linha de pensamento é ser conveniente com um ou outro grupo? Se estamos atrasados em termos de postura a tal ponto de não sustentarmos nossas próprias percepções é justamente por que nos relacionamos de maneira passiva com os mandos e desmandos e nos deixamos diminuir com o tipo de pensamento autocrático que nos aprisiona a imaginar que estamos na contra-mão do financiamento cultural. Para mim, financiar a cultura deve ser ante de tudo um dever ético e não uma concessão lastimosa em detrimento de pequenos grupos. 

A verdade é que a (ORSSE) tal qual a temos hoje se sustenta de maneira insipiente e ardilosa sobre propagandas consideravelmente enganosas sobre a qualidade do grupo orquestral. Não somos dos principais grupos do norte e Nordeste como se apregoa tanto, mas poderíamos ser se não nos colocássemos de maneira passiva sobre o fato de verificar que de fato, é necessária uma reforma administrativa e artística de nosso grupo. Contar com obras que favorecessem o potencial de nosso grupo tal qual ele é é um bom começo. Ou não é fato que é perceptível que existem bons músicos na orquestra, que existe uma remuneração vergonhosa para quem se dedica diariamente a desenvolver sua arte com primor, e que estes tantos são sempre postos a prova de maneira constrangedora ao executar coisas que in natura não é possível sem muita depuração e tempo. Só atrairemos atenção para nossa real qualidade quando formos verdadeiros e investimos na orquestra com humanidade (que não dispensa disciplina e rigor) sem precisarmos esperdiçar tanto dinheiro.

Pétrouchka Partitura
A Pétrouchka é só um exemplo de que é possível fazer música boa e com qualidade em Sergipe, é preciso apenas tempo e respeito com o conjunto. Não super valorizar o currículo de um em detrimento do prazer de trabalho da maioria. Priorizar o tempo de depuração de uma obra em ensaios até que ela seja suficiente, tenha brilho. Não tocar pela obrigação de tocar. Porque tocar de maneira disforme atavia as possibilidade de se mostrar com respeito. Quando digo isso é porque não desgostei de todo do ballet. Mas ainda assim, vejo como afronta expor músicos e plateia (cada vez menores) ao desabor de fingir ser dor a dor que deveras sente, como cantou o Fernando Pessoa ao falar que o poeta é antes de tudo um fingidor.  E ainda que o tenha visto ser pontualmente ingrato no primeiro momento de existência, onde todos os naipes se embolaram em confusão e desde a primeira sequência melódica a insegurança real fazia com que a peça em nada se apresentasse circense como deveria ser, perceber que nem mesmo os enxertos propostos nos naipes fizeram maior o som confuso no pequeno e desaconselhável palco do Teatro Atheneu, a vi crescer de maneira interessante e congruentemente envolvente do meio para o fim. Sobre tudo com a limpeza dos metais que andavam meio enferrujados e com as cordas que pareciam tocar ainda sobre o efeito reverberante dos aplausos do Viotti. E foi reflexivo para além de ter gostado ou não estar sentado diante daquele grupo os escutando vencer aos poucos a timidez, e me alegro estar enganado quando imaginei sair de casa direto para o funeral do pobre palhaço Pétrouchka, mas conseguir vê-lo corado na cama de hospital. Porque enquanto respirar tudo quanto tenha vida, dali se pode extrair algum sumo. 

3 comentários:

  1. Querido, não deixamos de ser provincianos. A Terra do Cacique Serigy e do Cacique Aperipê ainda não aprendeu a andar com as próprias pernas, não por não o saber, mas por temer que o saiba. O medo maior é ser auto-suficiente e aprender a ser bom, logo o melhor. Imagina o menor estado da federação, o quintal da Bahia, sendo incrível? Um temor! E imagine o povo vendo isso tudo... Poucas luzes existem, e tenho lampadas, as pões embaixo da cama, pra que brilhe licenciosa e tímida. Mas, avante!

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  2. Existe um abismo imenso entre fazer progresso com o que se tem (arar a terra, plantar, adubar, esperar crescer e então amadurecer) e querer progredir às custas da terra alheia. Muitas coisas correm errado por vários cantos... infelizmente (digo, para o povo Sergipano que eu tenho em grande consideração e afeto) fica impossível caminhar junto, quando as circunstâncias parecem tender à segunda opção- digo: querer progredir às custas da terra alheia. Fica minha mensagem aqui, depois de 7 anos fora do Brasil de Sergipe diretamente pro centro da cultura européia, pela qual fui e sou recebida de braços abertos e com a dignidade que desconheci da então gestão dessa orquestra. Sinto muito, queridos Sergipanos, por nada ter mudado até hoje! Guardo Sergipe porém não por essa lembranca em minha memória, mas sim, pelo lindo e válido projeto social que tive a honra de contribuir. Beijos

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  3. Gostei e muito desse novo texto, Jonas! Sinto que agora sim fizeste um bom e preciso juízo do ocorrido daquela noite! Porém nos próximos textos mantenha a simplicidade que teve a partir do segundo parágrafo, porque do primeiro eu não entendi bulhufas e me perdi deveras (talvez por ter lido com pressa).

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