|
Canal Arte 1 |
Descobrir
na televisão algo que vá além da perspectiva rasa do entretenimento rápido,
baixo e fácil é quase uma odisséia e talvez por isso mesmo eu me impaciente
sempre quando fico frente ao aparelho televisor. Zapear é muito mais que uma
inquietação imperativa, no meu caso, uma demonstração certa de que pouquíssima coisa
(para além dos canais de filme) me interessa. Em recente conversa com uma das
autoras do blog Violinos de salto descobri que o canal 101(arte 1 SKY) é dedicado
exclusivamente e em tempo integral a tópicos sobre cultura em suas variadas
manifestações. Prometi a mim que prestaria mais atenção a ele quando me deparo
com uma incrível apresentação da Orquestra Filarmônica de Viena e solo de piano
Chinês Lang Lang. É uma pena que uma
parcela mínima da população tenha acesso às redes fechadas de TV, de toda
sorte, sigo acreditando por hora que um dia a poesia de fato vá conquistar a
todos o direito ao pão como bem postulou Rosa Luxemburgo. Enquanto esse dia não
vem, nos contentemos com as migalhas informativas e as impressões nem sempre
tão exultantes desta gravata amarrotada pela falta de tempo.
O
fato é que toda vez que vejo um concerto na televisão, eles me parecem surreais,
quase impossíveis de ser digerido, tamanha seja sua qualidade. É como se meus
ouvidos não estivessem educados a perceber as nuances intimistas de uma boa
execução. Ao que suponho chamar de desespero espiritual. E não um desespero
lacerante, e sim uma abertura para desejar o impossível. Desejar estar ali pertinho,
de tê-los aqui comigo ou de poder ter assas e voar muito mais sempre que
possível para esses espetáculos de uma vez a cada ano em nossas vidas. Sou
afortunado e não reclamo o fato de poder viajar com freqüência e ver boas
audições, de toda sorte gostaria que fosse muito mais constante e que a cada
semana fossem ali do lado.
|
Orquestra Filarmônica de Viena |
O
canal 101 (disponível na SKY) é sem dúvida um horizonte para os que vem tão
distantes a realidade da arte em suas vidas e uma proposta atraente aos que
desejam conhecer (no caso musical) concertos não tão convencionais e melodias
já batidas com leituras qualitativas. O concerto deste domingo 26 de maio por
exemplo, foi uma mostra de quão confuso e intrigante pode ser esperar magnitude
de uma execução, por levar em conta o currículo do grupo, e decepcionar-se ou
de impressionar-se com um bis ao final do concerto como se ele por si só
valesse a apresentação completa. Foi exatamente nesta ordem que contemplei o
maestro Indiano Zubin Mehta reger de maneira esplendorosa o concerto nº 2 do
Chopin com um solo alucinante do Lang Lang.
|
Lang Lang |
Considerado pela crítica como um
dos maiores expoente pianistas da atualidade e alçado pelo jornal americano The
NY times como o mais espetacular artista clássico da atualidade, a performance
violenta do chinês contribuiu em muito para arrancar aplausos da platéia entre
um movimento e outro. E embora eu ache forçadamente desnecessária a caricatura
na qual se envolve toda vez que toca em público, inegavelmente existe demanda
de talento e prospecção em seus dedos em relação à obra do Chopin. Toda essa
beleza ficou infinitamente pequena diante da lacerante execução da Polonaise em
Lá que ecoou maior do que me parecera quando apreendido a primeira seqüência de
notas, e de quando a platéia silenciou climaticamente para irromper no final de
sua apresentação.
Contraste
que impossibilita comparação entre as peças do programa, já que a 5ª do
Bethowen tão esperada por mim, acabou não passando de um equivoco desmesurado e
sem possibilidade de deleite. Esperei ansioso todo o vigor recorrente que exige
o primeiro movimento desta sinfonia, antevendo a tensão necessária que faz com
que ela seja emblematicamente uma dos maiores enigmas musicais de que se tem
discussão, e não passou de um fardo arrastado e incompreensivamente fora do seu
ritmo minimamente aceitável.
|
Zubin Mehta |
Não empolgou e levou junto todo o encanto do
segundo movimento voltando a parecer ter significado apenas do meio do terceiro
movimento para o final do quarto. Ainda assim vale ressaltar a magnífica cumplicidade
entre a regência explicativa e sem arroubou do Zubin Mehta e a generosidade com
o qual entendeu o tempo de conduzir o brilhantismo do solista como alavanca
para que fosse resplandecente a orquestra.
Confesso que foi decepcionante ouvir a quinta de Beethoven. O primeiro movimento foi simplesmente apático e definitivamente este não seria um adjetivo corriqueiro pra descrever o grupo ali. Mas a estrela da noite era outra. Ah, Lang Lang e seus bis... Já não bastou ter arrasado na Rapsódia de Liszt, ainda inventa de tocar uma Polonaise em Lá de fazer brilhar os olhos e encher os ouvidos. Como não sorrir ao final? Aquilo era boa música, gente.
ResponderExcluirInteressante a existência de uma canal, mesmo que em rede fechada, voltado especificamente para a cultura. Nas grades de programação de países europeus, há um grande variedade de canais do tipo. Já no Brasil existe uma devoção à cultura pop norte americana, aclamada nas mídias. É bom conhecer canais como o arte 1, para sair um pouco do american way que a juventude é imersa.
ResponderExcluirPena que infelizmente ainda assim, demande um certo custo assistir ao espetaculo, o da tv fechada. Ainda somos poucos e restritos. O que é uma pena, a todo caso.
ResponderExcluirMuito bom saber que existe esforço para a construção de mídias de qualidade, e por falar nisso me lembrei logo de instante do seguinte site: www.medici.tv
ResponderExcluirÉ um site que encontrei poucos anos atrás que colocam muitas apresentações de qualidade a disposição no momento real que as tais acontecem e e deixam a disposição por um tarifa mensal. Essa última parte seria um tanto desanimadora mas o fato é que os preços são razoavelmente acessíveis. Sem contar que essas performances ficam completas a disposição por uma semana ou mais depois de serem realizadas.