domingo, 26 de maio de 2013

Sim! Existe beleza num domingo frente à televisão ou se alguém tiver que arbitrar só poderá contar com os delírios de tudo que passou e já prescreveu.

Canal Arte 1
Descobrir na televisão algo que vá além da perspectiva rasa do entretenimento rápido, baixo e fácil é quase uma odisséia e talvez por isso mesmo eu me impaciente sempre quando fico frente ao aparelho televisor. Zapear é muito mais que uma inquietação imperativa, no meu caso, uma demonstração certa de que pouquíssima coisa (para além dos canais de filme) me interessa. Em recente conversa com uma das autoras do blog Violinos de salto descobri que o canal 101(arte 1 SKY) é dedicado exclusivamente e em tempo integral a tópicos sobre cultura em suas variadas manifestações. Prometi a mim que prestaria mais atenção a ele quando me deparo com uma incrível apresentação da Orquestra Filarmônica de Viena e solo de piano Chinês Lang Lang.  É uma pena que uma parcela mínima da população tenha acesso às redes fechadas de TV, de toda sorte, sigo acreditando por hora que um dia a poesia de fato vá conquistar a todos o direito ao pão como bem postulou Rosa Luxemburgo. Enquanto esse dia não vem, nos contentemos com as migalhas informativas e as impressões nem sempre tão exultantes desta gravata amarrotada pela falta de tempo.

O fato é que toda vez que vejo um concerto na televisão, eles me parecem surreais, quase impossíveis de ser digerido, tamanha seja sua qualidade. É como se meus ouvidos não estivessem educados a perceber as nuances intimistas de uma boa execução. Ao que suponho chamar de desespero espiritual. E não um desespero lacerante, e sim uma abertura para desejar o impossível. Desejar estar ali pertinho, de tê-los aqui comigo ou de poder ter assas e voar muito mais sempre que possível para esses espetáculos de uma vez a cada ano em nossas vidas. Sou afortunado e não reclamo o fato de poder viajar com freqüência e ver boas audições, de toda sorte gostaria que fosse muito mais constante e que a cada semana fossem ali do lado.

Orquestra Filarmônica de Viena
O canal 101 (disponível na SKY) é sem dúvida um horizonte para os que vem tão distantes a realidade da arte em suas vidas e uma proposta atraente aos que desejam conhecer (no caso musical) concertos não tão convencionais e melodias já batidas com leituras qualitativas. O concerto deste domingo 26 de maio por exemplo, foi uma mostra de quão confuso e intrigante pode ser esperar magnitude de uma execução, por levar em conta o currículo do grupo, e decepcionar-se ou de impressionar-se com um bis ao final do concerto como se ele por si só valesse a apresentação completa. Foi exatamente nesta ordem que contemplei o maestro Indiano Zubin Mehta reger de maneira esplendorosa o concerto nº 2 do Chopin com um solo alucinante do Lang Lang.
Lang Lang
Considerado pela crítica como um dos maiores expoente pianistas da atualidade e alçado pelo jornal americano The NY times como o mais espetacular artista clássico da atualidade, a performance violenta do chinês contribuiu em muito para arrancar aplausos da platéia entre um movimento e outro. E embora eu ache forçadamente desnecessária a caricatura na qual se envolve toda vez que toca em público, inegavelmente existe demanda de talento e prospecção em seus dedos em relação à obra do Chopin. Toda essa beleza ficou infinitamente pequena diante da lacerante execução da Polonaise em Lá que ecoou maior do que me parecera quando apreendido a primeira seqüência de notas, e de quando a platéia silenciou climaticamente para irromper no final de sua apresentação.

Contraste que impossibilita comparação entre as peças do programa, já que a 5ª do Bethowen tão esperada por mim, acabou não passando de um equivoco desmesurado e sem possibilidade de deleite. Esperei ansioso todo o vigor recorrente que exige o primeiro movimento desta sinfonia, antevendo a tensão necessária que faz com que ela seja emblematicamente uma dos maiores enigmas musicais de que se tem discussão, e não passou de um fardo arrastado e incompreensivamente fora do seu ritmo minimamente aceitável.
Zubin Mehta
Não empolgou e levou junto todo o encanto do segundo movimento voltando a parecer ter significado apenas do meio do terceiro movimento para o final do quarto. Ainda assim vale ressaltar a magnífica cumplicidade entre a regência explicativa e sem arroubou do Zubin Mehta e a generosidade com o qual entendeu o tempo de conduzir o brilhantismo do solista como alavanca para que fosse resplandecente a orquestra.  

4 comentários:

  1. Confesso que foi decepcionante ouvir a quinta de Beethoven. O primeiro movimento foi simplesmente apático e definitivamente este não seria um adjetivo corriqueiro pra descrever o grupo ali. Mas a estrela da noite era outra. Ah, Lang Lang e seus bis... Já não bastou ter arrasado na Rapsódia de Liszt, ainda inventa de tocar uma Polonaise em Lá de fazer brilhar os olhos e encher os ouvidos. Como não sorrir ao final? Aquilo era boa música, gente.

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  2. Interessante a existência de uma canal, mesmo que em rede fechada, voltado especificamente para a cultura. Nas grades de programação de países europeus, há um grande variedade de canais do tipo. Já no Brasil existe uma devoção à cultura pop norte americana, aclamada nas mídias. É bom conhecer canais como o arte 1, para sair um pouco do american way que a juventude é imersa.

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  3. Pena que infelizmente ainda assim, demande um certo custo assistir ao espetaculo, o da tv fechada. Ainda somos poucos e restritos. O que é uma pena, a todo caso.

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  4. Muito bom saber que existe esforço para a construção de mídias de qualidade, e por falar nisso me lembrei logo de instante do seguinte site: www.medici.tv
    É um site que encontrei poucos anos atrás que colocam muitas apresentações de qualidade a disposição no momento real que as tais acontecem e e deixam a disposição por um tarifa mensal. Essa última parte seria um tanto desanimadora mas o fato é que os preços são razoavelmente acessíveis. Sem contar que essas performances ficam completas a disposição por uma semana ou mais depois de serem realizadas.

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