segunda-feira, 22 de abril de 2013

A lógica tacanha aqui em Aracaju é: Se mostro os declives da Sinfônica de Sergipe é porque favoreço a OSUFS e se elogio particularidades na primeira, o faço em detrimento da segunda. De modo que esse post poderia ter dois títulos: Que concerto doce de se ouvir numa catedral em plena sexta-feira sem ficar em cima do muro e reconhecer uma boa condução sem medo do mesmo muro que me separa de já escutar que agora escrevo em favor de um terceiro grupo, ou de quando não há diferença em ser ovacionado num estádio lotado ou ser insultado por um bando de pessoas com o ego pouco valorizado: o único efeito é apenas barulho! Mas como tenho pouca paciência para escolher um dos dois prefiro imaginar que Ou devo ganhar muito dinheiro com a promoção alheia ou : De quando Pau mandado é o Caralho! Meu nome é Jonas Urubu: Porra!

Não menos importante escolha de repertório do primeiro concerto da série Sons da Catedral, no último dia 19 de abril pela Orquestra Sinfônica de Sergipe (ORSSE), foi a boa atmosfera com a qual se desenrolou a noite. Confesso que me espanto por vezes em perceber a atenção que me dou aos detalhes pequenos, e muitas vezes irrelevantes, confesso (como o fato de termos recebido não o programa da noite, e sim um já antigo). Esquecido a efemeridade disto que já julgo tão normal para nossos padrões de passividade frente aquilo que demanda dinheiro público, deixo aberto espaço para que minha memória se conduza através das execuções daquela noite.

Primeiro pelo Concerto para trompa nº3, K.447 do MOZART, em mi bemol maior e depois pela magnífica obra As vespas do compositor Inglês Ralph VAUGHAN-WILLIAMS até então desconhecido desta gravata. Em outro momento já havia tido aqui e aqui sobre a importância de trazer melódias conhecidas para nossos concertos, não como redenção, mas didaticamente compatível com a importância de formar plateias também a partir daquilo que já é referente a elas. Isso por si só derrubaria a fala do maestro assistente e condutor do concerto da noite Daniel Nery quando falou sobre a importância do concerto na Catedral Metropolitana e alegou ser um público não comum e alheio aos espaços de suas apresentações. Acertou em cheio quando executaram o tão conhecido concerto para trompa do Mozart. Primeiro por que vejo como muito importante (sobre tudo) termos mais e mais músicos de nossa orquestra sendo colocados em destaque como solistas, é não apenas a oportunidade de vermos diversidades solísticas, como também de vermos o dinheiro público sendo usado de fato (digo no sentido de perceber que alguns naipes não extraem absolutamente nada além de acomodação e enquanto for assim, melhor para quem preza não se expor) quando na verdade, submeter-se a um trabalho como esse deveria demandar primariamente qualidade técnica de seus pretendentes. E embora eu saiba que a falta de atrativos, principalmente o financeiro, distancie muitos bons músicos de querer se aventurar em nossa orquestra, os que o fazem deveriam ser respeitados dentro da perspectiva de ter oportunidade de mostrar-se.

Emerson Melo e Orquestra Sinfônica de Sergipe
De modo geral, a orquestra brilhou neste concerto. Não apenas o solista Paulista Emerson Melo, chefe de naipe das trompas, que o executou com tranquila destreza, e que embora tivesse sobre si todos os ouvidos por estar na condição de ser o destaque da obra, não aparentou descontrole emocional e adestrou com a maciez necessária as notas que diferencia as trompas de ser um instrumento da família dos metais. Foi realmente atrativo perceber a dinâmica de sua entrega quando junto com à orquestra entendiam bem executados os ralentandos e as dinâmicas de crescimento ou diminuendo de alguns trechos impostos pelo maestro e que conseguia fazer fluir de seu instrumento uma cadência regular, bem posta através de seu som doce e amadeirado. Já havia dito em outras oportunidades que era um naipe que me agradava em especial, de modo que o que ouvi me pareceu importante reflexo de uma linearidade latente. Assim como também justamente atrativo foi perceber o crescimento das cordas neste movimento, a atenção, e o detalhamento das notas (não falo de afinação (que demanda um outro tôpico exclusivo) e sim da execução clara no dedilhamento de cada nota, ao contrário do que visivelmente embolou por completo o início do Wagner) que fizeram com que o concerto tenha sido conduzido em justas proporções com uma clareza impressionante por quase todos os naipes. Se curvar para seu colegas músicos ao término da peça, imagino que não tenha sido mera conveniência. Afinal, se o seu solo fora fortuitamente gostoso de se ouvir, em parte o foi também pela vontade conjunta de fazer uma boa execução.

Já a suite As vespas, foi sem dúvida uma feliz anunciação para mim que a desconhecia assim como a seu compositor que sem dúvida demandou algumas horas de meu tempo escutando e reescutando sua obra em questão. Como bem explicado pelo Maestro Daniel Nery (ainda que eu desgoste dessa ideia didática de explicar as peças) a obra é uma obra para teatro inspirada na comédia do escritor grego Aristófanes, datada de 422 AC e com caráter estritamente fabuloso. A personagem principal é Procleon, um homem viciado na participação em atos de (in)justiça pública. Aqui, chama-se às pessoas como ele «vespas», porque espetam o ferrão onde mais dói. O seu filho, alguém bastante mais sensato, tenta forçá-lo a acabar com essa mania. Por isso fecha-o em casa. Impede-o de sair e, para o entreter, convence-o a julgar «um caso» doméstico banal: um cão que roubou um delicioso queijo da cozinha. É um julgamento muito divertido. O réu é um cão, e os jurados utensílios de cozinha, tais como uma panela, um ralador de queijo, um almofariz, uma braseira ou uma bacia de água. O juiz é, naturalmente, o próprio Procleón Esta é, portanto, uma reflexão sarcástica sobre o sistema judicial de uma sociedade supostamente democrática. Hoje será tocada somente a abertura orquestral da peça.

Intactamente a execução dessa peça fora um grande trunfo, não apenas por seu caráter inédito aqui em Sergipe, ou pelo dinamismo moderno descritivo como inseria as representações de cada elemento, assim como também  pela felicidade dinâmica que ela abarcou para o conjunto. Ainda que mergulhada na  fase academicista de seu compositor, essa obra dialoga visivelmente com elementos populares e folclóricos e visivelmente nos mostra os ritmos, escalas e esquemas melódicos próprios destas. O que de certa forma atenuou a leveza com a qual vi se desenrolar o concerto. Certamente o momento mais vivo do conjunto e também o mais apreciado pelos aplausos aquela noite. As cinco partes da obra foram uniformemente alegres e convidativas. Traziam em si o estranhamento de algo que é novo mas que aos passo em que se desenrolam se apresenta como algo envolvente e reflexivo.

4 comentários:

  1. É de fato uma pena que o Daniel Nery conduza tão poucos concertos aqui em Aracaju. Até porque prefiro vê-lo regendo do que narrando a sequencia das obras no começo de cada concerto no TTB (o que acho particularmente desnecessário já que recebemos o programa logo na entrada no foiê, seja la como se escreve isso);
    Agora com relação as explicações dadas didaticamente sobre as peças a serem executadas, a depender serão ou enfadonhas ou interessantes, caso elas não sejam do seu gosto tem sempre a opção de pegar os dedos da mão, fecha os ouvidos e levar a mente a pensar sobre o céu, as árvores, a lua, o som das ondas do mar..., até que se comece um novo seguimento do concerto.

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  2. A terra do cacique serigy e suas peripécias! Não se pode discordar de algo ou se atrever a dizer algo que já se leva pro lado pessoal! Mas, a proposta do blog é de resenhas sobre música, então... Bem, o concerto foi primoroso. E o espaço escolhido muito pertinente, também. Que se leve mais cultura ao povo, que é carente dela. Até porque, a arte na terra de aperipê é elitizada ao máximo. Que o primor adentre entre todos os lares.

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  3. 1. Oi Gustavo.

    2. Também gosto bastante da forma como o Nery conduz as peças Társis. A leveza que quebra a atmosfera quase sempre pesada, tensa. Isso faz com que o concerto seja gostoso de se ouvir como o foi.

    3. Victo Hugo, primo querido, fico feliz que esteja atento a cena sergipana. E que para além das obviedades você tenha independência na maneira de ver as coisas. A arte precisa desse contra-ponto.

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