segunda-feira, 15 de abril de 2013

Contrabaixo é sim um instrumento melódico ou de quando eu realmente sinto preguiça em escrever o que todo mundo já sabe e tem medo de admitir

Ou então, o que foi que escutei no último sábado na sala de concertos da Sociedade Filarmônica de Sergipe (SOFISE)? Conversando com um amigo sobre se ele  interessava-se ou não pelo contrabaixo ele disse achá-lo feio e ressaltou que parte do desgosto era justamente por entendê-lo como um intrumento de base. Ri internamente enquanto ouvia o recital de piano e Contrabaixo apresentados pela Harpista sergipana Thaís Rabelo, a quem já falei de meu apreço aqui, e do contrabaixista Carioca Jair Maciel. Entrar no mérito das canções não seria justo diante do peso das execuções que preencheram a noite em bom som.

E acho que de fato a relevância daquela noite foi justamente perceber a importância de lançar-se, de apresentar-se como proposta alternativa para o que está posto. Alternativo no sentido de novo, de inusitado se pensarmos que a sociedade sergipana não está bem acostumada a entender que existem outros tantos espaços de promoção musical, que existam tantas outras alternativas de agrupamento musical. E eles existem, apenas não têm espaço e divulgação necessários para que possam formar plateia cativa. E antes de lançar-se, o mais importante é verificar a beleza que existe na cumplicidade, e não falo aqui do casal executando piano e baixo, falo da responsabilidade com a qual eles parecem ter lacerado os seus estudos. Fazer música é justamente entregar-se de alma para que ela tenha vida, mas sem esquecer o pragmatismo necessário para a lapidação do estudo. Sem apuro não existe ciência, e a música é também ciência. Conclusão que me fez como ouvinte ficar ligeiramente em paz. Por que ao contrário de composições cheias de virtuosismo, as execuções, algumas da própria autoria da Thais Rabelo, iam no sentido de mostrar a sutileza da música bem tocada, e essa diferença é atenuante de qualidade independente de movimento e afinidade com uma determinada literatura musical. Quando escutei "Chuva no sertão" consegui inteiramente me transportar para a seca, o conflito e a dureza da terra rachada, o céu limpo e carregado de sol, o pranto, a nulidade de não esperar mais nada quando a linha tênue do baixo fazia anunciação de que ter esperança é sempre melhor. E veio a chuva e decerto que essa metáfora não molha só a mim, mais sobre maneira a todos que esperam que a música em Sergipe floresça como chuva.

Orquestra Sergipana de Contrabaixos
E como um sopro, o lugar da música no último sábado foi sem dúvida um presente. Uma luminosidade para que tanta gente possa sonhar que é possível ser ouvido, que é possível fazer arte em nossa terra e ser visto. A OSCON não era apenas um monte de baixistas enfileirados sob o comando do seu regente, era sem dúvida não só a materialização da realização de um projeto ousado que ainda que inserido no também ousado e expressivo (projeto sergipano de orquestras jovem) idealizado pelo maestro Ion Bressan, consegue se eximir do aparelhamento ideológico e se afirma como variedade qualitativa e ótimo espaço de construção didática do ensino de Contrabaixo. Antes disso, era apenas mais um instrumento com poucas chances de ser preterido pelos aspirantes a músicos. Agora, é opção segura de que é possível que seja visto com grandeza, com autonomia em relação aos outros instrumentos. E a OSCON seguramente nasce já como um fruto vitorioso, pela legitimidade de suas escolhas musicais. Vai no aspecto de demonstrar a dinamicidade com o qual se pode abusar das possibilidades técnicas do instrumento e não confinar seu som apenas à base de uma sinfonia. Ele é seguramente audível, melódico e cortante sem deixar de ser delicado nos dedos de quem o acaricia. 

Seguramente essa sutileza foi passada aos seus alunos pelo professor Jair, que conheço muito pouco, mas a quem aprecio por se apresentar como luta. A extensão da luta necessária para que seja respeitado seu instrumento de trabalho, aquilo que escolheu como companhia de toda a vida. Imagino a felicidade, posso imaginar também as dores de permanecer intacto e dar prosseguimento a essa orquestra que deveria ser bem imitada por todos os naipes de instrumentos em Sergipe. Só teríamos a ganhar, a evoluir como gente e possibilitar às nossas crianças a possibilidade de entender que para além do dinheiro, existe amor quando se faz o que se ama fazer, ainda que a grande massa os olhe feio e naturalize o discursos da inutilidade de seguir fazendo algo desacreditado. E se desacreditássemos não poderíamos ouvir na noite de sábado a composição do 1º contrabaixo da OSCON como concretização da liberdade artística que o Maciel dá a seus alunos. Não era uma brincadeira para entreter a quem estava ali, era de fato uma composição, seu compositor ainda desconhecido de muitos tinha nome Erik Sarmento e tem talento. Era música feita para acalentar sem deixar de ser forte e ritmicamente marcada por nossos sons mais expressivos, estravassar os efeitos da alma justamente através da melodia de um piano apenas e um contrabaixo. E veio de uma alma jovem, que assim doce e utópica, se bem regada cresce e floresce. Asim como desejo que o seja com todos os filhos dessa terra amaldiçoada pela nulidade não valorativa de nossos artista.

2 comentários:

  1. Somos do site www.culturainterativa.com. Queremos fazer uma entrevista com vocês. Mande o seu contato para o nosso e-mail: culturainterativa.br@gmail.com.

    Parabéns pelo trabalho.

    Messias Libório

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  2. O governo do estado e as representações artísticas rudemente e tateando ás escuras vem tentando valorizar a cultura sergipana, mas, claro que falta incentivo. E falta também mostrar que existe, mesmo que não pareça, um pouco de erudito na terra do cacique serigy.

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