sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Devia ter começado falando das flores

Eu bem poderia ter começado este blog falando das referências que me levaram a decidir escrever sobre a música orquestral em meu Estado, a verdade é que eu deveria poder. Meus amigos todos sabem o quanto eu venho reclamando ao longo dos anos que os serviços em Aracaju são precários justamente porque ninguém se propõe a explicitar as deficiências. Exemplo disso é que os garçons todos aqui acham que são nossos amigos, atendentes de farmácia acham que são farmacêuticos e por ai vai. Não é diferente com a cultura.

Imaginei por longos anos o absurdo de não existir nenhum espaço de divulgação desse tipo de arte (que por si só já tem dificuldade em encontrar espaços), de ninguém que se propusesse a discutir e pontuar as nuances detrás desses bastidores orquestrais, e não necessariamente para criticar e só, não é a isso que este blog se propões: como tem muita gente tentando gritar aos quatro cantos. Não vai conseguir. E não por razões homéricas. Não! Qualquer um que se dispa das opiniões tendenciosas e influentes e que se preste ao minimo de respeito a analise textual em si, e busque ir além dos obviosos sinistros, entenderá que este blog se propõe a ir além das intrigas pessoais e politicas de quem pouco acredita no que diz e que acha incapaz o povo sergipano de refletir por si só. Entenderá que melhor que se esconder detrás de confortáveis vitimizações, é comprar o bônus do esclarecimento através do diálogo aberto. Existe espaço no blog para replica e treplica. Usa quem acha necessário, foge dele quem atavia o precipício.  Somos muitos e diversos e fomos bem instruídos, faltava apenas suscitar os debates. A isso sim o violino de gravata se propõe. E falará sobre tudo das flores que insistem em se opor a todo o caos anunciado. É minha obrigação falar de duas pétalas em especifico.

A primeira delas é o blog que tantas vezes li com empolgação de quem espera que as coisas pudessem ser diferentes aqui, de quem esperava afito mais um post para me dizer que existe arte para além da música. As palavras podem ser sons, e ecoam. Faz algum tempo que conheci o Violinos de Salto e descobri para além dos personagens duas grandes amantes da música: Thirza Costa e Noemi Ferreira, com quem muitas vezes dividimos os mesmos espaços sem mesmos coabitarmos de afeto e compreensão. E isso tudo era minimo diante do que eu via se materializar em informações, dicas, festivais, vídeo aulas. Era um norte, era o sul, era um caminho de possibilidades de ir além. Não pude deixar de invejá-las, e não literalmente. Procurei Com ferocidade algum amigo que quisesse junto comigo escrever um blog de mesmo estilo e proposta. Só via duas possibilidades: Társis Santos e Guilherme Moraes, e os duas me disseram não. E não menos por isso deixam de fazer parte do plano inicial de sonho. Tanta inveja se materializou de maneira a reconhecer, elogiar e agradecer a existência do blog. Se hoje existe um violino de gravata correndo solto pelas vielas de Aracaju é porque corre em direção a alcançar dois violinos de salto.

A segunda pétala tem muito da primeira e me alegro em dizê-lo. Nunca um Intermezzo da Cavalleria Rusticana, por menos italiano que me pareça, por menos doce e sofrido como o foi na execução de ontem a noite, me fará crer que nele não haja beleza. E mais ainda quando se contempla a fé no rosto de quem o executa (como o foi ontem com os músicos da ORSSE). Não era um erro de execução, não era desamor. Vi na serenidade e no desejo de quem tocava que existe algo que movimenta a máquina e os impulsiona como engrenagens. Pude escutar pianos súbitos, pude senti-los morrer e respirar em seguida num crescendo fabuloso. Pude enfim sorrir flores e antever música boa, sentir que cada nota conseguia preencher as poltronas vazias do mezanino. De tal forma e surpreendente manejo que quase não me sobra espaço nesse post pra falar sobre a gratidão de estar sentado ao lado de um violino de salto, e de como preciso entender a contra gosto que substituir a Abertura da Ópera Norma foi um prelúdio para que o 3º e 4º movimentos da Sinfonia n. 3 de Beethoven fosse esplendorosos e vivos. Tão musicais como fazia tempos não se ouvia.


2 comentários: