Perguntei-me a noite toda e revolvi na cama tentando compreender a
ausência de Pétrouchka no concerto da série Cajueiros V ontem 09-08-2012 no
teatro Tobias Barreto em Aracaju. É bem verdade que segui o coro dos muitos
decepcionados pela retirada abrupta dela do programa da noite e acabei preso na
poltrona resistindo a receber de bom grado os enxertos que me eram ofertados. E
não posso deixar de reparar que esse tipo de inconveniente não acontece pela
primeira vez.
É claro que existem motivos distintos nas duas substituições, e os
compreendo com pesar, embora não posso deixar de sentir que o resultado final
nas duas vezes foi desastroso. Ainda saboreio o som indigesto do lago do cisnes
e aquela dança espanhola primariamente produzida às pressas no lugar do concerto
para piano do liszt, assim como não me sai da cabeça os ataques acanhados do I
movimento da 5º sinfonia de Beethoven. Peça essa que inclusive teria tudo pra
salvar o concerto, já que é um tema conhecido do público, caso não tivesse sido
sucedido pelo enfadonho concerto e o sucessivo silêncio incompreensivo da platéia
durante o termino dos movimentos do concerto duplo em ré menor de
Mendelssohn para violino tão
bem executado por Gabriela Quiroz, piano por Sergio Monteiro e orquestra. de
Mendelssohn.
É bom que fique claro que o silêncio não representava uma educação
estética concertística, não! Ainda não nos elevamos nesse patamar aqui em
Sergipe: Vide o concerto regido pelo Piotr Borkowski, regente convidado, em
que o Nosso msestro Guilherme Mannis gentilmente conduziu algumas pessoas que
faziam barulho em excesso a se retirar da sala. Isso tudo para enfatizar que o grande problema
de ontem a noite é um problema antigo. E começa sempre no inicio do ano quando
a direção artística da orquestra monta o programa de repertório anual e esquece-se
de pautar as obras em função das características técnicas de seu grupo. Ora, se não somos a OSESP e não gozamos de
prestigiosas condições de acesso e permanecia profissional, é claro que ao
longo de cada ano existam periódicas migrações. Então, como posso prever (
dentro das perspectivas técnicas da ORSSE) que será possível a execução pretensiosa
de uma Pétrouchka de Stravinsk?
A equação é simples e pode ser sentido por qualquer pessoa naquela
platéia que se dignifique a enxergar o todo. É claro que a nossa orquestra
estadual sob a batuta do Guilherme Mannis deu saltos significativos. Estéticos
e sonoros. Saiu de um ponto confortável para se tornar produto sergipano, mas
morre a cada dia por não representar em nada o anseio do sergipano. Cada
escolha de repertório da direção artística da ORSSE retrata o descaso da própria orquestra com o seu
público. Não nos atende em nada, e é reflexo das escolhas irreais de repertório
que a meu ver parecem mais trampolins para que nosso maestro coloque em seu currículo
grandes peças, independente da execução e da qualidade.
Resultado disso é que a própria platéia que conseguimos cativar ao longo
desses vindouros seis anos se resume a estudantes de música, familiares dos
músicos e a tão célebre nata da velha aristocracia sergipana, que só vai ao
concerto por preservar a idéia de que música erudita é produto de
intelectualidade. Trazer grandes nomes nacionais ou internacionais aos nossos
concertos não significa nada além de promoção artística. É uma política vergonhosa
passível de indenização por propaganda enganosa. Melhor seria a humildade em
reconhecer que a arte deve emanar do povo e para o povo e que não é empurrando
goela abaixo a erudição extrema que vamos conseguir formar na terra das Araras
um público cativo.
............................VISH
ResponderExcluirconcordo Jonas! é injusto criar uma expectativa com algo e depois modificar (e nem ao menos tirou do roteiro de programação)!!! tapar um buraco pode resolver o problema, mas sempre vai ser possível ver que não é o que deveria ser!
ResponderExcluirtapar o sol com a peneira não pode ser desculpa pra falta de ousadia ou de arriscar, ir em frente. Ou continuaremos sempre sendo pequenos
ResponderExcluirSinceramente, a ambição por excelência técnica é salutar em qualquer modalidade de arte. Não é porque o fazer artístico deve ser para o povo que os artistas devem se castrar de serem mais ousados, mais complexos. O que não pode, é verdade, é volver-se das consequências daquilo que fora projetado, dando ao público um espetáculo erigido a partir de remendos, modificações de última hora.
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